Nos estudos urbanos e regionais é costumeiro dar mais atenção às metrópoles e às cidades médias do que às pequenas cidades. Por que isso acontece? E o que é de fato uma pequena cidade? Ela é importante ou é um resíduo do processo de urbanização generalizado?
O adjetivo “pequena” encaminha certa compreensão. As cidades são denominadas pequenas, sobretudo por três razões:
- 1. Agregam população não superior a 20 mil habitantes, sendo que em outros países esse número é bem inferior;
- 2. São aglomerações urbanas com restrita área de influência territorial, muitas das vezes polarizam tão somente os povoados inseridos na sua própria área municipal, e só;
- 3. São cidades onde se produz pouca riqueza, geralmente atribuída a uma única atividade econômica e quase sempre muito próxima ao mundo rural.
Nos estudos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dados de 2018, o Brasil conta com mais de 4 mil cidades pequenas (centro local, na classificação do Instituto). Dessas, a maior parcela localiza-se na região Nordeste, ou seja, 35,6% ou 1.436 cidades pequenas.
Sem maiores cientificismos, fica evidente o quanto esse modelo de cidade é comum e disperso no território, restando nesta característica uma das principais importâncias da cidade pequena.
Tais cidades, mesmo não sendo lócus de grande movimentação econômica e inovação, são deveras estratégicas para a disponibilidade de serviços básicos para a sua população e a população rural de proximidade.
Serviços bancários, comércio varejista, serviços cartoriais, religiosos e de atendimento social são claros exemplos de como os pequenos núcleos servem as demandas sociais de milhões de brasileiros.
No cotidiano e nas sociabilidades, a reduzida população e as relações sociais, muitas das vezes, regidas pelos elos de parentesco, proporcionam aproximações mais pessoais e comunitárias, estando assim longe do anonimato que marca a massa dos moradores das grandes cidades.
Para alguns tudo isso não é nada mais nada menos que puro provincianismo, um atraso à modernidade. Contudo, os níveis de solidariedade mais íntimos e interpessoais tendem a demonstrar o lado positivo desse modelo de convivência.
Não é raro ver matérias de jornais anunciando pequenas cidades italianas, portuguesas e alemãs oferecendo milhares de euros a fim de atrair novos moradores e evitar a morte daquelas pequenas vilas.
No Brasil, o grande papel das cidades pequenas é exatamente propiciar aos seus moradores e aos do campo a ocupação permanente, evitando o esvaziamento regional e a criação de desertos sociais.
Essa é política regional estratégica pois evita o êxodo rural e pode ampliar a produção de alimentos ou outros produtos importantes para cidades de diferentes hierarquias.
Posto tudo isso, como é de comum nos nossos textos, finalizo conclamando a formulação de políticas públicas específicas para as cidades pequenas. Não precisam ser revolucionárias, basta pensar, ao elaborar os planos de governo, da importância dos benefícios sociais e do salário mínimo para os moradores das pequenas cidades.
Basta pensar também em subsídios para a agricultura familiar e os pequenos negócios urbanos. Basta pensar em melhores sistemas de transporte regional, com barateamento do transporte público, capaz de permitir aos residentes deslocar-se, regionalmente, quando da necessidade de serviços encontrados em cidades mais complexas.