Fortaleza 297 anos: cinco livros para entender seu crescimento urbano

Todos os livros são gratuitos e de acesso on-line no site do laboratório de Planejamento Urbano e Regional (Lapur).

Chegamos ao famoso 13 de abril, aniversário da cidade de Fortaleza. São agora 297 anos desde que o povoado sobre o areal foi elevado ao status de vila. De lá para cá, muito se escreveu sobre essa cidade, e listar os textos para compreendê-la é tarefa dificílima. Apesar disso, arbitrariamente e com o intuito de homenagear do mesmo modo os 60 anos do curso de geografia da Universidade Federal do Ceará (1963-2023), resolvi elencar cinco livros escritos por professores do departamento e essenciais para apreender como uma cidade, sem importância político-econômica, tornou-se polo de uma das maiores aglomerações metropolitanas do nosso país.

Vamos a lista!

O primeiro chama-se Capítulos de geografia histórica de Fortaleza (2021), de autoria de Clélia Lustosa Costa. O texto imerge na cidade do século XIX, desvenda as práticas sociais e os costumes de uma sociedade em processo de urbanização. Nessa linha, o livro é leitura obrigatória para os que desejam compreender os impactos do pensamento médico-higienista e das normas na reorganização do cotidiano na Fortaleza dos Oitocentos.

A segunda indicação refere-se ao livro Os incomodados não se retiram: Fortaleza em questão (1992), escrito por José Borzacchiello da Silva. Baseado num amplo e inovador trabalho de pesquisa empírica e teórica, José da Silva descreve e analisa os movimentos sociais urbanos na cidade em período de luta pela democracia e pela reforma urbana. Além de bem caracterizar a cidade da segunda metade do século XX, o autor traz à tona a visão da cidade enquanto campo de forças e lutas políticas, perspectiva inovadora para a época.

O terceiro lugar na minha lista vai para De cidade à metrópole: (trans)formações urbanas em Fortaleza (2009). Organizada por Eustógio Dantas, Clélia Lustosa Costa e José Borzacchiello da Silva e com colaboração de Salete Souza, a publicação explica a grande expansão urbana a partir dos anos 1970, capaz de reestruturar e induzir a metropolização de Fortaleza. No texto, o leitor vai encontrar explicações para debater temas ainda atuais: planejamento urbano, favelização, expansão urbana, periferias e as novas centralidades na cidade.

Fortaleza: nova ordem urbana (2015) é o quarto livro sugerido. Na forma de coletânea, conduzida por Clélia Lustosa Costa e Renato Pequeno, o texto convida o leitor a mergulhar nos processos capazes de explicar a Fortaleza no alvorecer do século XXI. Muito diverso, o volume apresenta-se lastreado por robusto banco de informações e análises criativas acerca da mobilidade urbana, das dinâmicas industriais, turísticas, populacionais e socioeconômicas. Seria muita pretensão dizer que o livro é um retrato fiel da realidade, mas é cabível afirmar sua originalidade e capacidade de sintetizar o universo metropolitano gerido por Fortaleza.

Por último, o mais novo, Reforma Urbana e Direito à Cidade: Fortaleza (2022), organizado por mim e por Clélia Lustosa Costa. Também elaborado por muitas mãos, é fruto da maturidade de pesquisadores comprometidos em, além de falar da cidade, propor situações problema cuja superação é pré-condição para comemorarmos nos próximos anos uma cidade diferente. Sendo assim, o livro chama o leitor à criticidade, mas não deixa de apontar caminhos para pensar e fazer uma cidade para as pessoas, muito melhor para todos e todas.

Ah! Um detalhe quase esquecido: todos os livros são gratuitos e de acesso on-line no site do laboratório de Planejamento Urbano e Regional (LAPUR).

Sei que ao apontar somente cinco textos, arrisco-me a incorrer em alguma falha ou esquecimento. Perdoem-me! É audacioso, certamente. Entretanto, ao revisar essa lista, sinto-me contente, pois simultaneamente tendo a festejar a produção científica do departamento de geografia da UFC e dar a Fortaleza grande presente. Qual seja? Não há nada melhor para uma cidade do que bons e sérios registros de sua história e geografia. Sem isso, jamais poderíamos comemorar a data de hoje e pensar em um futuro mais utópico, quem sabe, mais justo.