No dia 13 de abril, comemoramos o aniversário da cidade de Fortaleza. São 295 anos desde sua elevação à vila, em 1726. A cada ano, as polêmicas surgem em torno desse assunto. Há aqueles a defender a mudança na data-referência e assim acrescentam algumas décadas à Fortaleza. Os que defendem a manutenção se apoiam no que é básico para pensar uma Cidade, ou seja, o momento em que se torna sede do Poder.
Sinceramente, não vejo nessa discussão a forma ideal de festejar a existência da cidade. Mais honrosa estratégia é conhecê-la, pensá-la e, porque não, cuidá-la.
O passado da cidade está inscrito nas letras de José de Alencar, de Adolfo Caminha e de Rachel de Queiroz. Sua história passa pelo mito do português Martim Soares Moreno e de sua relação com os primeiros habitantes dessas terras. Seus prédios históricos são fruto da riqueza do algodão e da ferrovia. Seu cotidiano nos Oitocentos é narrado em A Normalista. Já seus braços trabalhadores vieram em maioria dos sertões castigados pela seca e pelo desprezo das elites.
Para homenagear a Cidade à beira-mar, poderíamos falar dos estudos de Capistrano de Abreu, dos arquivos do Barão de Studart, dos livros de Raimundo Girão, da vacina de Rodolfo Teófilo ou do humor de Ramos Cotôco. Da mesma forma, seria adequado relembrar a história de suas ricas famílias através do excelente livro Aldeota, de Jader de Carvalho.
Na semana do aniversário da capital dos cearenses, seria oportuno cantar os trechos das músicas de Raimundo Fagner ou de Ednardo; observar com atenção as telas de Descartes Gadelha e sua crítica social; assistir a uma apresentação do Maracatu da Nação Baobab ou rever na televisão um Clássico-Rei.
Oh! Fortaleza, 295 anos! Uma jovem senhora marcada por graves e persistentes desigualdades sociais, agravadas pela Covid-19.
Em 2021, para felicitar Fortaleza, escolho lembrar das Franciscas e dos Josés, dos Antônios e das Marias; moradores do Jangurussu, do Grande Bom Jardim ou da Barra do Ceará. Todos anônimos. Trabalhadores que contribuem diuturnamente para o funcionamento da Fortaleza amada.
Eles e elas dificilmente estão nos nomes das escolas, praças, viadutos, edifícios e pontes, apesar de trabalharem para a sua edificação. Eles são essa cidade.
Nossa esperança numa Fortaleza melhor não se afunda no pessimismo. Acreditamos nas iniciativas que democratizam o conhecimento sobre a cidade. Daí, destacamos o Projeto Trilhas Urbanas, do departamento de Geografia da UFC.
Coordenado pela professora Clelia Costa, o Trilhas comemora o aniversário de Fortaleza, principalmente, com os alunos das escolas públicas. Sabe o que é melhor e nos anima? Em maioria, são os filhos dos Franciscos e das Marias, alunos e alunas da universidade pública, que contribuem com esse projeto.
A história e a geografia urbana são repensadas através de aulas ao ar livre pelas ruas do Centro da Capital (este ano, através de percursos virtuais). Uma bela forma de fortalezar-se. É uma brisa que nos cobre de esperança, para quem sabe, nos próximos anos homenagearmos uma Fortaleza mais justa.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.