As atividades comerciais e de serviços são a cara da cidade. Não há cidade, por mais simples e pequena, que não ofereça aos seus habitantes um conjunto de estabelecimentos terciários. Os comerciantes e os prestadores de serviços são importantes agentes produtores do espaço urbano. Para alcançar seus interesses econômicos, eles são corresponsáveis na organização de zonas estratégicas na cidade, tanto em formato de centro como de eixo.
Acontece que, no presente, as tradicionais áreas de densidade comercial passam por redefinições e até mesmo declínio. Razões diversas são listadas. Primeiro, a criação de centros comerciais fechados (shoppings) em zonas de expansão da cidade ou da metrópole geram novas centralidades concorrentes, comumente segmentadas e orientadas a atender estratos sociais médios. Segundo, e mais recente, os padrões de consumo derivados da digitalização das operações popularizaram o chamado e-commerce. Neste último caso, as lojas físicas perdem espaços para os centros logísticos de distribuição e para as plataformas digitais.
Além das duas mudanças mencionadas, a instabilidade econômica do Brasil e os impactos relativos às medidas de isolamento durante a pandemia de Covid-19 explicam, em parte, o declínio da função comercial em áreas anteriormente muito competitivas.
Na nossa cidade, pelo menos em áreas que costumo frequentar, três exemplos são destacáveis: o Centro tradicional, a Avenida Monsenhor Tabosa e a Avenida Bezerra de Menezes.
Centro: joia da metrópole
O Centro é uma joia da metrópole, um patrimônio; e, a atividade terciária lá reunida continua muito importante para a economia da cidade. Seria equívoco mencionar que ele perdeu sua condição de centralidade. Todavia, tomemos como amostra algumas de suas ruas (Major Facundo, Guilherme Rocha, Liberato Barroso...) e veremos indicadores de que as coisas não vão tão bem. Muitas são as lojas fechadas, imóveis há quase um ano dispostos à locação. Além disso, os imóveis estão sendo transformados em estacionamento, que convenhamos, não é dos usos mais convenientes para uma área especial e dinâmica como o Centro.
Os outros dois casos, Avenida Monsenhor Tabosa e Avenida Bezerra de Menezes, são eixos comerciais históricos e com características distintas, porém com situações igualmente complexas.
Quem conheceu a Avenida Monsenhor Tabosa no seu auge, dificilmente a reconhece atualmente. Na avenida que já foi ponto turístico e espaço de compra de vestuário, moda praia e calçadista, hoje, só se vê um grande mural, onde as expressões vende-se ou aluga-se são repetidas. As exceções são as lojas ainda abertas. Das razões anteriormente listadas, acrescenta-se, para entender o que aconteceu, a concorrência com o comércio de rua nas proximidades da Catedral Metropolitana.
Bezerra de Menezes
O último caso, o da Bezerra de Menezes, é de fato tão preocupante quanto o anterior. Desde 2012, a avenida se transformou num corredor de circulação rápida de ônibus. De lá para cá, as reestruturações na forma de acesso às lojas, sobremaneira, a ausência de estacionamentos para automóveis, é considerada uma das principais causas do declínio comercial da avenida. Penso que este fato seja explicativo, porém acredito que há outros a considerar, como a criação de novas dinâmicas comerciais no bairro Presidente Kennedy, em Fortaleza, e o fortalecimento de zonas comerciais no município de Caucaia, com quem a avenida sempre teve forte integração e poder atrativo.
E o que fazer? Para uns pode-se dizer que esse ciclo de apogeu e declínio faz parte das relações capitalistas de modernização e concorrência. Assim, a responsabilidade é dos empreendedores em reinventar seus negócios e as localizações. Numa perspectiva diferente, destaca-se o papel da municipalidade, posto ser capaz de gerar políticas de incentivo fiscal a fim de induzir a renovação da função terciária dessas áreas, outrora muito relevantes.
Não se pode esquecer que a função comercial, e mais ainda, o uso misto dos espaços urbanos (comercial e residencial) é preconizado como essencial para a qualidade de vida nos diferentes bairros da cidade. Isso implica mais facilidade de acesso aos bens, mais pessoas nas ruas e menos necessidade de deslocamentos. Ou seja, o declínio destas áreas comerciais, literalmente, não é um bom negócio para Fortaleza.