O Corinthians fechou a contratação do atacante holandês Depay para a sequência de 2024. Para muitos, uma grande estrela que aumenta o prestígio do futebol brasileiro, com passagens de destaque na Europa, além de participações em Copa do Mundo. Pra mim, uma negociação que apenas escancara todo o escândalo financeiro que o esporte atravessa no nosso país.
Segundo o ge, o atleta, que estava livre no mercado ao deixar o Atlético de Madrid-ESP, fechou contrato até 2026 e vai custar R$ 70 milhões entre salários, luvas e bonificações em até 28 meses. De acordo com a Gazeta Esportiva, o salário do atleta será de R$ 3,5 milhões por mês.
Logo, o motivo da inquietação é simples: como um time afundado em dívidas pode fazer uma operação dessa magnitude? Um relatório recente produzido pela Ernst & Young, uma das maiores empresas de auditoria mundial, revelou que o clube tem uma dívida de R$ 2,1 bilhões.
Em julho, o então diretor financeiro, Rozallah Santoro, entregou o cargo após um imbróglio da equipe com a patrocinadora máster da época. Na última terça (3), a equipe realizou a quitação de uma dívida de R$ 1,6 milhão com a empresa KPMG, que prestou consultoria à instituição em 2023, depois que a Justiça determinou a penhora das contas bancárias um valor atrasado em janeiro.
Do endividamento total, vale ressaltar, que cerca de R$ 700 milhões são referentes ao financiamento para a construção da Neo Química Arena, estádio próprio do clube. Paralelo aos problemas, o Corinthians também atrasou parcelas nas compras de atletas como o volante Raniele (Cuiabá) e o lateral-direito Matheusinho (Flamengo). Em fevereiro, foi condenado a pagar, com juros, aproximadamente R$ 17 milhões ao Argentino Juniors-ARG pela compra do volante Fausto Veras.
O detalhe: em agosto, o atacante Gustavo Mosquito venceu ação contra o Corinthians em 1ª instância na Justiça do Trabalho, conseguindo uma rescisão indireta. O argumento foi os atrasos da equipe no repasse de FGTS, direitos de imagem e luvas. Assim, se transferiu para o Vitória-BA.
Deste modo, a chegada de Depay é uma salva de palmas para as gestões irresponsáveis do nosso país. Uma chancela de que o equilíbrio financeiro é irrisório e, mesmo que todos o acusem de dívidas, você tem autorização e liberdade para fazer o que quiser.
Por conta de exemplos como esse no mais alto nível do esporte brasileiro, nós seguimos distante de acompanhar o crescimento e o fortalecimento da modalidade. Com bilhões de dívidas, nenhuma empresa pode realizar uma aquisição milionária. No futebol brasileiro, todavia, tudo é liberado.
O fair play financeiro é uma necessidade. Infelizmente, Depay é uma prova de tudo que não poderia acontecer. O recado é um: pagar as dívidas não é obrigação, mas uma escolha. Um tapa na cara dos poucos que lutam para honrar os compromissos porque a irresponsabilidade compensa.