Nascimento, vida e morte: o que fica após nosso ciclo?

No momento, faço uma revisão, reflexão e avaliação do trabalho do qual faço parte na equipe do Fortaleza Basquete Cearense (FBC), que é a única representante do basquete nacional do estado do Ceará, e faço um retrospecto sobre a última temporada do campeonato de basquete da NBB em que participamos. E neste momento introspectivo, me sinto renascendo. A cada fim de ciclo, nós, treinadores esportivos e empreendedores, morremos um pouco.

Quando fui consultor da novela Bom Sucesso, da Rede Globo, em 2018-2019, tive esta mesma sensação de finamento nas últimas gravações da teledramaturgia. Em todos os trabalhos que faço, me envolvo muito, mergulho de cabeça nos projetos em que participo. 

Com a minha experiência de décadas no basquetebol, me dediquei ao treinamento técnico e emocional dos atores que faziam o papel de jogadores e treinadores na novela. Este trabalho foi muito prazeroso e gratificante, fiz grandes amigos/as com quem mantenho contato, como a queridíssima Giovanna Coimbra, que viveu o papel de uma jogadora de basquete no meio de uma patotinha formada só por homens e mostrou toda a sua competência e talento.

Numa tarde chuvosa de sábado em 2019, dias após o término da novela, me bateu uma nostalgia que me remeteu ao início daquele lavor, quando fui um dos três palestrantes para o elenco de Bom Sucesso e fiz uma apresentação sobre basquete. Me lembro da palestra sobre morte, da médica Ana Cláudia Quintana Arantes, autora do livro “A morte é um dia que vale a pena viver”, ela falou sobre o assunto com muita parcimônia e propriedade, fiquei impactado e mexido com as excelentes falas dela. 

Este tema estava ligado ao personagem, meu xará, Alberto, interpretado por Antônio Fagundes, que vivia a vida intensamente enquanto lutava contra um câncer terminal.

Nas inúmeras vezes em que me vi desestimulado e padeci de cansaço misturado à raiva, só o tempo e a fé me fizeram entender que é possível renascer e voltar a ter o mesmo entusiasmo que sempre tive pela vida. Me entrego com o mesmo ardor a cada trabalho que executo.

Não adianta fugir da morte. Ela também se apresenta em vida, quando passamos por fases em que nos sentimos derrotados, para baixo, melancólicos ou depressivo, e não vemos sentido na vida, ao passarmos por estas fases sacralizamos a nossa alma.

A generosidade, o esforço, a perseverança, a tentativa de acertar e fazer o bem são os grandes tesouros que deixamos após a nossa morte carnal. Nada além destes nossos gestos e ações têm importância na herança que deixamos. 

Os bens materiais como carro, lancha, imóvel, joias, entre outros, não representam ou deixam o legado de quem somos e o que fizemos em vida, o nosso bem maior são as nossas atitudes construtivas, atos de generosidade, humildade, amor e ternura. Ficam os momentos que compartilhamos, o conhecimento que compartilhamos e a dedicação com nossa família, amigos e com quem esteve presente na nossa história.

Entre o nascimento e a morte há pequenos renascimentos, tanto físicos como morais, que nos dão a dimensão da beleza que é existir. Seguir e galgar pelo que se acredita nos deixa mais vivos. E neste momento, mais do que nunca na nossa história do século XXI, vemos e experienciamos o quão fundamental é ter saúde antes de mais nada. 

A saúde está conectada aos elementos da natureza: fogo, água, ar, terra, fauna e flora. Ela nos mostra a sua fúria por estarmos interferindo nela, ao destruirmos e invadirmos continuamente o seu espaço, matando espécies diversas. Hoje a natureza se revolta contra nós e contrataca com a disseminação de diversos vírus, e o vírus da vez veio para nos dar um recado: ou mudamos nossa relação com a natureza ou adoeceremos e morreremos cada dia mais, nossa sobrevivência depende da preservação da biodiversidade, chega de crimes ambientais, que vêm acelerando a extinção de espécies não só da flora e da fauna como também a humana.

Falando em vida e preservação, luto para sobreviver de forma harmoniosa com o universo e comigo mesmo. Neste momento de pausa e planejamento para o novo ciclo, o basquete continua a pulsar pelas minhas veias e me traz a coragem necessária para passar por novos desafios, emoções e esforços em busca de novas conquistas com mais amor à vida! 

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.