Respirar ar puro, escutar os sons da natureza e ter tranquilidade para passear nas ruas, sem sons de buzinas e veículos, são desejos que as pessoas tem, mas nem sempre conseguem trazer para o seu dia a dia nos centros urbanos. O cenário pandêmico trouxe muitas reflexões e uma delas foi sobre a qualidade de vida conectada ao meio ambiente. A vida mais sustentável nos centros urbanos é possível e está atrelada à necessidade de políticas públicas voltadas ao planejamento urbano, considerando alternativas que permitam a sustentabilidade da cidade e das pessoas.
Reduzir o volume de veículos automotores nas regiões centrais e investir em mobilidade urbana estruturante para atender aos deslocamentos das pessoas são medidas importantes para a transformação das cidades, tornando os ambientes mais agradáveis para viver. Dotar às cidades de uma rede integrada e eficiente de transporte, onde os modos de deslocamento se complementam, permitirá a redução dos congestionamentos e emissões de partículas na atmosfera, proporcionando mais qualidade de vida.
É neste cenário que o transporte sobre trilhos, aquele prestado por trens, metrôs, Veículos Leves sobre Trilhos (VLT) e monotrilhos, é imprescindível para médias e grandes cidades. Por ser o único capaz de transportar mais de 60 mil passageiros por hora/sentido, ele organiza os grandes fluxos e dá maior celeridade, segurança e regularidade aos deslocamentos diários. Mas isso é apenas parte da importância que os trilhos têm no ecossistema de uma cidade.
Por ser um transporte limpo e movido a energia elétrica, na sua maioria, a emissão atmosférica nas cidades é zero, fazendo com que a utilização dos atuais sistemas de trilhos contribua para que sejam evitadas as emissões de mais de 1,6 milhão toneladas de CO2 todos os anos, além de reduzir a utilização de combustíveis fósseis em mais de 800 mil litros por ano. São essas e diversas outras pequenas inovações, como estações abastecidas por energia solar e sistemas de reuso de água, que aumentam os benefícios para o meio ambiente e para toda a sociedade.
Somente em relação ao reuso dos recursos hídricos, anualmente, mais de 100 milhões de litros de água são reaproveitados nos sistemas metroferroviários brasileiros. A água, proveniente do reuso e também da captação da chuva, é usada na lavagem dos trens, limpeza tuneis e de peças nas oficinas.
Os benefícios do transporte estruturante sobre trilhos para o meio ambiente são enormes, mas, para que realmente possa se tornar um legado das cidades, é preciso que nossos governantes quebrem velhos paradigmas e passem a investir em um sistema de transporte que garanta a eficiência da mobilidade do cidadão e a melhoria da qualidade ambiental das cidades.
Diante de tantos debates em torno da sustentabilidade, a reflexão que deixamos aos tomadores de decisão e formadores de opinião é que as alternativas existem, são conhecidas e precisam ser efetivadas para que possamos, juntos, levar as nossas cidades a vivenciar o conceito das cidades que desejamos para a nossa vida e para o futuro.
Roberta Marchesi é diretora executiva da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos)