Tentativa de ruptura frustrada

A Bolívia sofreu recentemente uma tentativa de golpe de Estado, engendrada por um ex-comandante do seu Exército, que numa ação inconsequente e despropositada, invadiu a praça que circunda o palácio presidencial, amparado por um comboio de tanques militares, quando insultou verbalmente o presidente Luiz Arce, exigindo que o mesmo destituísse o gabinete ministerial e nomeasse outro sob a orientação do indigitado general.

A nação vizinha, segundo levantamentos de estudiosos do tema, desde a sua independência, em 1825, tem sofrido uma série de investidas golpistas, algumas consolidadas, além de revoluções, somando quase 200 episódios, o que a transforma num dos países institucionalmente mais instáveis do nosso continente.

A insurreição bolivariana traz-nos recordações amargas de períodos ditatoriais implantados em vários países sul-americanos (com o Brasil sendo um deles), entre as décadas de 1960 e 1970, ao que se comenta, a maioria apoiado pelos norte-americanos, que numa disputa de força com a então União Soviética, temia a disseminação de governos com viés socialista pela região.

Se procedente ou não a longa lista de quebra da ordem institucional, o certo é que se trata de mais um capítulo na turbulenta história política daquele país, que deixa sob alerta as demais nações vizinhas, que tudo têm feito para solidificar a tão cara democracia, esta, em muitas das quais, conquistada a duras penas.

O diferencial dos atos orquestrados pelo militar boliviano é que, dessa vez, além da reação governamental, parte da população logo foi às ruas manifestar repúdio à tentativa insurgente, dando ao movimento ares de motim, e não de levante, como costumam ser considerados procedimentos dessa estirpe.

Tanto lá, como aqui, ou em qualquer recanto do planeta, todos devem se conscientizar que, no regime democrático compete às Forças Armadas a defesa da pátria e a garantia dos poderes constituídos, deixando as articulações político-partidárias para aqueles se entregam a esse mister desde cedo.

Em pleno século XXI, dir-se-á, portanto, que o mundo evoluiu, não havendo mais espaço para nenhum tipo de ruptura democrática.

Mauro Benevides é jornalista e senador constituinte