Passados meses de isolamento social e agora, que aos poucos a reabertura acontece, surgem questões: como lidar com a ansiedade? Como enfrentar o medo de sair de casa?
A resposta psicológica à reabertura não é uma questão tão simples. As ruas novamente ganham vida e cor, mas há reações distintas: algumas pessoas vão com muita "sede ao pote", outras temem sair até a calçada de casa. É comum, após o isolamento, que as pessoas se sintam desconfortáveis e inseguras para sair às ruas. São sentimentos naturais de autopreservação, mas seu descontrole pode levar a uma resposta comportamental disfuncional e até ao adoecimento.
É esperada certa ansiedade com o "retorno" ao mundo social. Ela nasce do medo do desconhecido, do descontrole e da insegurança. Dentro da normalidade os indivíduos enfrentam esse sentimento e vão à luta, mas outros podem experimentar o medo irracional. O uso do transporte público e a volta ao trabalho presencial podem despertar essas reações de uma forma mais intensa. A pessoa que costumava ter uma vida saudável passa a experimentar sensações que a impedem de retomar suas atividades. É a essa reação que nomeamos de Fogo, abreviação do inglês "Fear Of Going Out": "o medo de sair". Não é uma nova síndrome, mas é a vertente da ansiedade que traz essa denominação.
Existem meios de contornar a situação, mas é preciso estar atento. Então, comece devagar. Experimente uma caminhada de 30 minutos, aproveitando o ar livre e um pouco de sol (usando máscara). Visite o ambiente de trabalho antes de retomar as atividades e converse com outras pessoas. Mas cuidado: a ansiedade costuma ser traiçoeira. Angústia intensa, o pavor de ser infectado com a Covid-19, o medo extremo de contaminar a família e/ou morrer, o que for exacerbado e paralisante é adoecedor. Por isso, não hesite em procurar auxílio profissional ao perceber esses sintomas mais intensos.
Claudione Cavalcante de Lima
Psicólogo e perito judicial