Alegrar-se com o outro

Definitivamente, não é para ser assim. Mas, por que, ainda hoje, se vê tanta gente incapaz de se alegrar com as conquistas dos que lhe são próximos? Pior ainda: há quem, explicitamente, tenta, de todas as formas, desmerecer ou desqualificar os feitos de que, em verdade, deveriam também se alegrar.

Se alguém dedica parte expressiva de sua vida, por exemplo, aos estudos, renunciando muitas vezes convites tentadores ao lazer por precisar dar conta de tarefas que são parte indispensável para o alcance da meta estabelecida e, algum tempo depois, conquista a aprovação almejada para o curso universitário dos seus sonhos ou o cargo público com o qual tanto se identifica, sempre há de ter alguém que resume tudo, simploriamente, ao fato de que “fulano teve sorte”.

Da mesma forma, se alguém, com muito esforço, economiza ao longo do tempo parte dos parcos recursos de que dispõe até poder adquirir um bem que lhe seja necessário (uma motocicleta, um carro ou uma casa própria), aparece alguém que insinua, maldosamente: “Deve estar fazendo algo de errado ou arranjou um patrocinador”.

E, como é praxe, quem assim age, geralmente, o faz pelas costas. Finge amizade (total distorção do próprio significado desse termo e sentimento tão valioso) para se manter a par de informações que julga necessárias e, em seguida, espalha versões fantasiosas e doentias que terminam expondo mais de si mesmo do que de quem seria, a princípio, o alvo da especulação.

Ao se gastar tempo e verbo para minimizar as vitórias do outro, deixa-se não apenas de celebrar, como devem fazer seres humanos verdadeiros: atesta-se a própria incapacidade de superar a pequenez e de direcionar energias para construir em torno de si um ambiente de comunhão, de alegria e de novas e contínuas realizações individuais e coletivas.

Que este novo ano que já se inicia possa ser palco de transformações que extirpem condutas negativas, tóxicas, favorecendo o surgimento, em seu lugar, de um modo de vida pautado na celebração das vitórias próprias e alheias com a certeza de que, assim, elas certamente hão de se multiplicar cada vez mais. E para todos(as)! Será mera utopia? Façamos por onde seja, sim, realidade. Impossível não é. Disciplina e autopatrulha (em vez de patrulha alheia) são um bom começo.

Valdélio Muniz é jornalista