Milton, honrosa exceção

Milton Luiz Pereira, nascido em Itatinga (SP), em 09 de dezembro de 1932, é um nome esquecido na história brasileira. Porém, é figura marcante como exemplo de político honesto, coisa raríssima neste país e que lhe valeu o merecido respeito popular. Além da carreira política que exerceu, foi também professor, advogado e magistrado. Formado em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), em 1958, iniciou sua carreira jurídica como procurador municipal de Campo Mourão (PR), cidade hoje com pouco mais de 100 mil habitantes.

À medida que galgava cargos de maior relevância no mundo jurídico, Milton começou a interessar-se pela política. Entre 1963 e 1967, foi prefeito de Campo Mourão, fazendo uma administração tão competente que a cidade recebeu o título de Município Modelo do Paraná. No dia 29 de abril de 1967, antes de concluir seu mandato na prefeitura, deixou o cargo para assumir vaga como juiz federal da 2a. Vara da Seção Judiciária daquele Estado. A população, porém, embora triste com sua decisão, mas reconhecendo seu trabalho como prefeito, presenteou-o com um Fusca azul, zero quilômetro.

O reconhecimento adveio da atitude tomada pelo então prefeito em sua administração, sempre prestando contas junto aos munícipes sobre as suas realizações, numa época em que não se exigia transparência dos gestores municipais. O Fusca azul recebido como presente seria o único veículo de Milton Pereira até o fim de sua vida. No Judiciário, chegou a ser, entre outros cargos, ministro do extinto Tribunal Federal de Recursos (TFR) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ) – este último, entre 1992 e 2002, quando se aposentou. Foi, ainda, professor catedrático em universidades de Curitiba. Ele faleceria aos 79 anos de idade, no dia 16 de fevereiro de 2012, na capital paranaense, vitimado pelo câncer, apenas poucas horas depois da morte de sua esposa, Rizoleta Mary Pereira, em consequência da mesma moléstia.

Essa história merece ser lembrada como inspiração aos políticos de nossos dias. Vivemos mais um período eleitoral, com a escolha de novos prefeitos e vereadores em todos os municípios brasileiros. Há décadas o Brasil padece com políticos desonestos, malversadores de recursos públicos, corruptos etc. A história de Milton não deveria ser honrosa exceção e, sim, regra entre os políticos brasileiros.

Da sua época até hoje, surgiram inúmeros e eficientes instrumentos de fiscalização dos recursos públicos. Melhoramos muito neste quesito, mas, infelizmente, há ainda aqueles que, alçados ao poder pelo voto, agem apenas em prol de seus próprios interesses, abandonando o compromisso que lhes foi outorgado pelo povo. A cada eleição, é preciso que os eleitores fiquem espertos diante desses corruptos compulsivos. O voto é arma poderosa para que tentemos resgatar a probidade e o empenho de bons políticos como foi, no passado, o raro caso de Milton Pereira.

Gilson Barbosa é jornalista