Marcha (apenas) para Jesus

Neste mês de Julho de 2022 ocorrem em várias cidades do país a “Marcha para Jesus”, evento que, também neste ano (como em 2018), vem acompanhado de diversas críticas internas e externas ao movimento evangélico brasileiro. Estas críticas se direcionam em duas direções. De um lado, com relação as tentativas de instrumentalização política do acontecimento por parte de candidatos ao pleito eleitoral em Outubro e do lobby de certas lideranças evangélicas na busca por prestígio, privilégios e poder. De outro, com respeito a uma tentativa de desqualificar a marcha através de um possível desvirtuamento do movimento “original” e da generalização do estereótipo de uma multidão politicamente uniforme.

Muito embora ambas as críticas sejam legítimas (e até certo ponto verdadeiras em minha opinião), não se pode equivocadamente incorrer no reducionismo de uma ou outra destas falas. Sobretudo, é necessário considerar que a Marcha não é realizada por todas as igrejas evangélicas, e que, nem todos os evangélicos participam dela. Lembrando igualmente que no evento (e fora dele) estão representados a diversidade dos evangélicos – diversidade doutrinária, socioeconômica, ética, política, etc.

Sendo assim, muitos evangélicos que estão marchando não reconhecem esse sequestro do movimento para fins eleitoreiros e caminham nas ruas como um tipo de testemunho público de sua fé. Nem todos que estão marchando representam político “a”, ou mesmo quem não está marchando representam político “b”. A despeito do uso de algumas lideranças religiosas se utilizarem de má-fé da fé alheia para articularem as massas e trabalhar pela visibilidade midiática como forma de se autoafirmarem diante dos políticos como personagens importantes para o jogo eleitoral – vários evangélicos condenam e estão a parte disto.

Por fim, apesar dos esforços de manipulação político-ideológica de grupos sobre a Marcha e do descredito do movimento por parte de setores sociais, cidadãos cristãos marcharão para Jesus, apenas – e mais ninguém. Que todos os evangélicos marchem, lembrando porém, que de acordo com a Bíblia Cristã em que creem, o “Senhor dos Exércitos” jugará no juízo final os lobos no meio do seu povo e aqueles que usam o Seu santo nome em vão.

Victor Breno é teólogo e cientista da religião. Doutor pela Universidade Federal da Paraíba e Universidade Complutense de Madrid