Inteligência Artificial, os dois lados

A Inteligência Artificial, que tem como “pai” o matemático britânico Alan Turing (1912-1954), tem também um lado preocupante e ameaçador

Grandes escritores, como os norte-americanos Isaac Asimov (1920-1992) e Ray Bradbury (1920-2012), ou os ingleses George Orwell (1903-1950) e Aldous Huxley (1894-1963), talvez nunca pensaram que chegaríamos aos tempos presentes. Os quatro deixaram obras clássicas do gênero, como “Eu, Robô” (1950) ou “Fundação” (1951), de Asimov; ou “Fahrenheit 451” (1953), de Bradbury. Huxley, por sua vez, continua a ser sucesso mundial com “Admirável Mundo Novo”, de 1932, e Orwell, com a distopia futurista “1984”, na qual descreve um Estado onde as pessoas vivem sob a vigilância de câmeras e outros meios invasivos de sua privacidade. Hoje em dia, a propósito, Cingapura, com suas centenas, milhares de câmeras, observando as vidas de todos os cidadãos e cidadãs, até mesmo em seus lares, é considerado o país onde há mais vigilância no mundo e rigorosa punição aos infratores.

É a nação que mais espelha a síntese de “1984”. Nenhum desses autores, porém, com suas mentes privilegiadas, imaginaria o surgimento, na atualidade, da Inteligência Artificial e de tudo o que esta pode causar, de positivo e também de negativo, para a sociedade moderna. Seu uso se aplica aos mais diversos campos, como o do marketing digital, assistentes pessoais (como o Siri e Alexa), o diagnóstico de exames na medicina etc. O campo para a IA é vasto, atingindo setores como a alimentação, transportes, segurança, entretenimento, mercado de trabalho etc.

A Inteligência Artificial, que tem como “pai” o matemático britânico Alan Turing (1912-1954), tem também um lado preocupante e ameaçador. Seus recursos podem criar, por exemplo, imagens de belas mulheres que exercem o papel de influenciadoras digitais e até de apresentadoras de TV, com milhares de seguidores e telespectadores. Há, porém, um “pequeno” detalhe: elas não existem fisicamente, embora sejam imagens perfeitas de pessoas reais. O crescimento da IA hoje ameaça 8 milhões de empregos no Reino Unido, segundo recente relatório anunciado pelo Instituto de Pesquisa de Políticas Públicas do país, que o denominou de “apocalipse do emprego”. Foram analisadas 22 mil tarefas que abrangem os mais diversos tipos de trabalho, concluindo-se que os ingleses já enfrentam a primeira onda de substituições causadas pelo crescimento das empresas que adotaram o modelo de inteligência artificial na sua rotina diária.

A pesquisa revela que 11% das vagas já estão ameaçadas, sendo, num primeiro momento, os cargos administrativos, ocupados por iniciantes que recebem baixos salários, os mais visados. No cenário atual, as mulheres e os jovens correm maior risco de desemprego, para os próximos cinco anos. E uma segunda onda de demissões continuará à medida que a IA puder realizar tarefas mais complexas com menor custo, levando à automação de mais empregos. O caminho para que se evite o tal apocalipse está no investimento em capacitação especializada, empreendedorismo e inovação. Quanto aos governos, estes precisarão regular urgentemente os limites da IA para proteger os trabalhadores. Eis o que representa a Inteligência Artificial, para o bem e, infelizmente, também para o mal. Precisa ser muito estudada e debatida. Deve-se refletir profundamente sobre suas consequências.