Evitar o suicídio na juventude, compromisso de todos

Saúde mental de adolescentes e jovens é um assunto que precisa ganhar mais da atenção de todos, sobretudo daqueles que convivem diariamente com esse público. A adolescência e a juventude, de um modo geral, são períodos marcados por profundas transformações na vida de qualquer pessoa. São nestes períodos que a vida social começa a ficar mais agitada, novas relações são construídas, além de ser, também, um período marcado por tomada de decisões difíceis a respeito do futuro. 

Para os adolescentes, as alterações dos hormônios ainda maximizam crises emocionais características dessa fase. Neurologicamente, eles não estão preparados para enfrentar e receber o turbilhão de novas informações às quais são submetidos no período. Isso porque ainda estão desenvolvendo a plasticidade neuronal, ou seja, aumentando o número de conexões sinápticas neurais, vias que são responsáveis pelo equilíbrio das funções mentais. 

É preciso cuidado e atenção para identificar se os jovens estão lidando de forma sadia e harmoniosa com os novos desafios, para evitar que momentos de instabilidade emocional acarretem em atitudes fatais. Segundo o último relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), o suícidido é a segunda maior causa de mortes entre os jovens de 15 a 24 anos. Dados compilados pela insurtech brasileira Azos indicam um aumento de 49,6% no número de suicídios entre jovens de 11 a 20 anos, de 2014 a 2019. A maior incidência de mortes, no entanto, está na faixa etária de 21 a 30 anos.

Outro dado indica que 90% dos casos de suicídio estão associados a transtornos psiquiátricos, como depressão e ansiedade. A presença ativa e cuidadosa dos familiares é importante para criar e fortalecer conexões mais íntimas com os adolescentes, buscando melhorar a profundidade de relações negativas da cultura familiar, natural dessa fase. Eles precisam sentir que em casa há um local de acolhimento, que podem conversar sobre os próprios sentimentos, sem o risco de serem julgados erroneamente.

A busca pelo auxílio de profissionais também é de fundamental importância nesse processo de acolhimento das dificuldades dos jovens. Somente um tratamento humanizado, que promova o fortalecimento dessas pessoas para a vida, é capaz de evitar que os indicadores de suicídio na juventude permaneçam altos diante dos olhares de preocupação da sociedade.

Ticiana Macedo é médica psiquiatra e diretora geral do Nosso Lar Hospital