Educação: confeitos e retalhos

Será que no Brasil existe uma tendência predominante de favorecer atalhos e retalhos? Historicamente, nossa postura política, principalmente tratando-se de políticas educacionais, tem sido marcada pela busca por respostas rápidas, superficiais e fragmentadas, em detrimento de um compromisso contínuo e abrangente com o desenvolvimento integral de nossos estudantes.

Aproveitando ainda o clima carnavalesco, visto que “com feitos” não resolvemos, “confeitos” lançaremos! A novidade agora é o Programa Pé-de-Meia, uma poupança destinada aos alunos de baixa renda matriculados no ensino médio das redes públicas de ensino. Esse novo “incentivo financeiro” prevê o pagamento anual de até R$ 3 mil por beneficiado. Resumidamente, uma vez que, não conseguimos enfrentar as causas da desigualdade social e da evasão escolar, vamos apenas remediar parcialmente seus efeitos. Além disso, na última sexta-feira, foi publicada no Diário Oficial da União a resolução que institui o Fies Social. A tenção dessa deliberação propõe o financiamento de até 100% dos encargos educacionais para estudantes com renda familiar per capita de meio salário-mínimo. O propósito primordial do programa consiste em facilitar o ingresso no ensino superior em instituições privadas, por meio da oferta de financiamentos estudantis.

Diante da falta de garantias de acesso, encontramo-nos novamente enfiados no retrocesso. Mais um atalho, mais um retalho. Como no romance de Charles Dickens, ao invés de help, nos oferecem Hepp. Em vez de soluções, nos deparamos com suturas desadornadas e desiguais. Somos tratados como meros retalhos para meias furadas. A instrução foi clara: selecionar apenas os estudantes que conseguem sobreviver com metade do “mínimo” e deixar os demais à margem. Catem as migalhas no bolso e distribuam!

Enfim, no romance de Dickens, lembram do pedido feito ao sr. Wickfield? Se adaptássemos suas palavras para nosso atual contexto, seria algo como: "Deseja ingressar em uma universidade pública? Por que escolher uma instituição pública? Diante dessa situação, sra. Trotwood, seu sobrinho não conseguirá o acesso. Mesmo sendo David Copperfield!"

Davi Marreiro é consultor pedagógico