Desafios da representação política feminina na CPI

No dia 27 de abril a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) passou a operar efetivamente para investigar a atuação do governo federal no combate à pandemia da Covid-19 no País.

Constituída por 18 membros (titulares e suplentes) que atuam especificamente na condução da investigação, a comissão tem colecionado polêmicas, escancarando preconceitos de gênero já tão presentes no quadro político brasileiro, ao tempo que demarca a manutenção de um campo majoritariamente masculino disposto a reduzir a participação feminina na tomada de decisões importantes. 

Isso se constatou em vários momentos durante a realização da comissão, sobretudo quando algumas senadoras, ao receberem o direito de fala (mas de não participar das votações), foram interrompidas entre as suas colocações, ignoradas pelos senadores e até acusadas de manifestar um comportamento “nervoso” - discurso muito utilizado por homens e que normalmente remete a um pensamento machista que atribui à mulher o título de histérica e descontrolada por se colocar de forma crítica e enfática sobre determinado assunto. 

De acordo com a líder da bancada feminina no senado, Simone Tebet (MDB-MS), que defende a participação das senadoras não só no seio dos debates, mas nas votações organizadas pela comissão, será apresentado um projeto de resolução para mudar o regimento interno e garantir que nas próximas CPIs a representação feminina (pelo menos uma) esteja presente de maneira mais efetiva. Isso está longe de ser o caminho ideal, mas ainda assim faria uma diferença significativa. 

Por outro lado, torna-se cada vez mais necessário repensar a constituição do nosso cenário político e a forma como tem se delineado esse espaço onde a participação de mulheres ainda é minoritária e sofre nas disputas de poder (tanto institucional como em outras).

A legitimação de discursos intolerantes e que desrespeitam o papel da mulher na política não é atual, mas desvela uma desigualdade de gênero que permanece se instituindo socialmente e que precisa ser combatida e superada. Só assim seria possível pensar em uma política democrática formada por mulheres que podem atuar em todas as frentes. 

Lorena Santos 
Pesquisadora em Sociologia