“Por vezes é penoso cumprir o dever...” Esse provavelmente foi o sentimento dos responsáveis pela comunicação do Ministério da Educação na última semana, ao divulgarem os resultados da primeira participação do Brasil no Estudo Internacional de Tendências em Matemática e Ciências (TIMSS). O desconforto foi motivado, principalmente, pelo fato de o país ter registrado o desempenho “significativamente inferior à média internacional.”
Como o principal dever de casa claramente não foi realizado, uma das principais manchetes nacionais trouxe ainda mais constrangimento aos nossos representantes políticos. Conforme divulgado pelo portal G1: "Metade dos alunos brasileiros de 9 anos não sabe resolver tabuada e contas como '109 + 212'...” Como diria Alexandre Dumas: “Por vezes é penoso cumprir o dever, mas nunca é tão penoso como não cumpri-lo.” Em outros termos, queremos os resultados, mas não garantimos sequer os recursos.
Uma recente matéria do mesmo canal informativo destacou uma pesquisa do Ceptro.br, revelando que quase todas as escolas brasileiras possuem acesso à internet. No entanto, sem a quantidade necessária de tablets, computadores ou notebooks, esse "acesso" acaba sendo mais simbólico do que funcional. Para piorar, apenas 11% das instituições contam com uma velocidade de download minimamente adequada, e menos de 29% das escolas públicas oferecem equipamentos tecnológicos para os alunos. Curiosamente, os testes do TIMSS são realizados de forma digital. É como preparar nossos alunos para uma competição de natação, mas treiná-los na areia. Será que isso impactou significativamente nos resultados obtidos? Particularmente, acredito que esse não seja o único fator determinante.
A carência de recursos nas escolas brasileiras é apenas um dos inúmeros problemas que afetam nosso desempenho nas avaliações internacionais. Destacar esse obstáculo, em meio às várias negligências enfrentadas na educação, é no mínimo uma forma de evidenciar que políticas e políticos também estão sob avaliação. Afinal, políticos não governam apenas os êxitos, nem tão pouco suas politicagens serão invisíveis, principalmente nos fracassos.
Davi Marreiro é consultor pedagógico