Fim dos hipermercados e ascensão de atacarejos e lojas de proximidade; entenda as mudanças no varejo

Consumidor tem comportamento de compra diferente para cada modelo de varejo

Escrito por Paloma Vargas , paloma.vargas@svm.com.br
Consumidores estão usando atacarejos para grandes compras e mercados de bairro para o consumo diário
Legenda: Consumidores estão usando atacarejos para grandes compras e mercados de bairro para o consumo diário
Foto: Fabiane de Paula

Emiliana Matos, 60 anos, afirma que faz algum tempo que as idas ao mercado substituíram os passeios em shoppings. Isso porque, segundo ela, “comida virou artigo de luxo”. “Está cada vez mais caro”.

Moradora da Cidade dos Funcionários, em Fortaleza, a dona de casa revela que pela busca de preço melhor, produtos frescos e de qualidade e por conta da comodidade, ela divide as suas compras em dois tipos de estabelecimentos, o atacarejo e o mercado de proximidade.

Veja também

“Essa busca já foi melhor e o atacarejo já entregou preços melhores. Hoje nem sempre vale a pena fazer uma grande compra. É preciso estar atento para levar os produtos com o melhor preço”.

Ela afirma que no mercado de proximidade acaba indo dia sim, dia não, principalmente para ter o pão fresquinho em sua mesa. “O que tem bom preço e pode ser congelado, como a cebola e o cheiro verde, também compro no atacarejo. Para o aqui da rua, deixo o essencial do dia a dia e o que está com o valor muito bom, acabo aproveitando também.”

Emiliana ainda comenta que para ter um orçamento mais equilibrado sabe que teria que frequentar também a feira de rua do bairro. “Mas a comodidade do mercado, com estacionamento, ar-condicionado e entrega, faz com que eu pague um pouco mais caro para ter esses benefícios.”

A moradora da Cidade dos Funcionários não é a única que faz o “jogo da balança” para saber o que vale mais a pena quando levamos em conta o preço, a distância, o tempo, a facilidade e conforto na hora de fazer as compras do mês. Além disso, antenados nas demandas do mercado, os atacarejos estão ofertando serviços como fiambreria (setor de frios como queijos e presuntos), padaria e açougue com produtos frescos.

Tendência é vista em lojas de Fortaleza e no Eusébio

No final de 2022 a rede Assaí abriu uma loja na Avenida Mister Hull tendo como diferencial o açougue, que traria a praticidade das carnes frescas (resfriadas) e cortadas na hora. Além disso, a loja do Atacadão localizada na CE-040, nas proximidades do limite entre Fortaleza e Eusébio, também exibia, no mês de fevereiro, uma faixa com a novidade de que em breve a loja teria sessões de padaria, açougue e frios fatiados.

Com isso, o atacarejo disputa mais uma fatia do setor, que antes era apenas das mercearias e supermercados, a dos produtos frescos. Essa é uma tendência que já vinha aparecendo, com a implantação das frutas, legumes e verduras (FLV) na cartela de produtos.

Roberto Kanter, economista, especialista em varejo e professor de MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV), afirma que mercados pequenos privilegiam o relacionamento com o cliente local, respeitando as particularidades do bairro que está inserido. Então, ele exemplifica que quem está atuando no bairro Meireles tem um certo tipo de produto, indicado para aquele seu público-alvo e quem está no Mondubim está totalmente adequado àquela realidade do bairro.

"O que é feito é o respeito com a realidade de renda e comportamento de cada região em que se está inserido. Com isso o supermercado caminha para se fortalecer como um mercado de bairro ou de proximidade. Ele não é o mercado da compra mensal, mas sim o mercado da compra diária".

Como características destes mercados, Kanter aponta uma padaria melhor, produtos de FLV mais selecionados, além de uma sessão diversificada de importados. Ao mesmo tempo, ele aponta uma grande expansão do atacarejo, “como ocorre com o Assaí, além de uma volta do Atacadão para o mercado e o Mix Mateus como exemplo de crescimento, que saiu do Maranhão, está chegando no Espírito Santo e deve ainda descer até o Rio (de Janeiro) e São Paulo”.

“Então, vejo que tem duas vertentes muito claras: a dos mercados menores com essa característica de lojas de bairro e as lojas muito grandes que são esses atacarejos, mas aquele espaço do hipermercado onde se tinha de tudo, esse morreu ou está morrendo.”

Setor brasileiro tem realidades diversas

O professor da FGV ainda reforça que as particularidades regionais também fazem diferença neste setor do varejo. Ele comenta que no sudeste, principalmente em São Paulo, há um aumento das lojas de proximidade e cita como exemplo a marca Oxxo - rede mexicana que tem característica de ser uma loja pequena, como uma conveniência de posto de combustíveis, com um mix mais diverso e preços mais competitivos.

Além disso há também uma tendência de lojas cada vez mais autônomas, mas essas duas novas modalidades, conforme ele, ainda estão concentradas mais na região Sudeste e não teriam chegado ao Nordeste.

A reportagem fez contato com a Associação Cearense de Supermercados (Acesu) para ter uma avaliação do mercado local, mas até o fechamento da matéria não teve retorno da assessoria de imprensa da entidade.

 

Newsletter

Escolha suas newsletters favoritas e mantenha-se informado
Este conteúdo é útil para você?
Assuntos Relacionados