A Caixa começou a liberar nesta semana o saque extraordinário do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). O recurso está sendo liberado seguindo calendário de acordo com o mês de nascimento do trabalhador.
Qualquer trabalhador que teve ou tem carteira assinada poderá ser sacar até R$ 1.000 de contas ativas e inativas do fundo. Mas, vale a pena retirar o valor agora?
O FGTS foi criado como uma forma de garantia ao trabalhador para o caso de aposentadoria ou desemprego. Por conta disso, o professor e coordenador do MBA de Gestão Financeira da Fundação Getulio Vargas (FGV), Ricardo Teixeira, orienta que esse dinheiro não seja utilizado para consumo, mas sim reservado para longo prazo.
O saque do dinheiro pode ser vantajoso para quem tem algum compromisso imediato que, se não for pago, pode virar uma dívida com juros. O recurso também pode ser resgatado para ser aplicado em investimentos que tragam maior rentabilidade.
Pensamento no longo prazo
Ricardo Teixeira recomenda cautela quanto à utilização do saque extraordinário. Ele considera que, se possível, o fundo deve ser mantido pensando em situações de longo prazo ou emergência.
Se ele tem uma dívida, se esse dinheiro vai dar um fôlego para pagar as contas normalmente, pode sacar. Se for para pagar metade de uma dívida com juros que ele não consegue quitar, não vale a pena. Os juros elevados vão retomar a dívida, perde o dinheiro e não resolve a situação".
O saque pode ser utilizado para consumo dependendo do bem e do desconto dado no pagamento à vista. Segundo ele, a escolha do saque ou não é pessoal, mas o trabalhador deve ter em vista que esse dinheiro pode fazer diferença mais tarde.
“Quando você tiver 70 anos, ele pode fazer uma diferença muito maior do que agora, qualquer dinheiro que você tenha faz diferença lá na frente”, defende.
Ele não recomenda a retirada do dinheiro para quem não tenha conhecimento no mundo dos investimentos. Mas, para o economista-chefe da Messem Investimentos, Gustavo Bertotti, existem opções mais rentáveis e também seguras.
Mantendo o foco na aposentadoria, o trabalhador pode investir o saque extraordinário em opções de longo prazo, como o Tesouro IPCA+.
Essa é uma boa opção, inclusive, para quem não tem facilidade de manter dinheiro guardado, já que uma vez investido o recurso não pode ser sacado imediatamente – assim como ocorre no FGTS.
Eu indicaria fazer uma aplicação com prazo mais longo, para não ter como sacar. Talvez até traga para o cidadão algo positivo, que o dinheiro pode trabalhar para ele. Pode ser um início para ele se tornar um investidor. Independentemente do valor, na minha opinião, faz sentido sacar para aplicar".
Rentabilidade do FGTS
O FGTS rende anualmente 3% ao ano + TR, que está atualmente zerada. O rendimento é metade da remuneração da poupança, que já não é a opção mais vantajosa na renda fixa.
Além da rentabilidade anual, os trabalhadores também recebem o lucro do FGTS, que, em 2021, variou entre R$ 37,26 e R$ 1.863, a depender do valor em conta.
Bertotti aponta que, com a atual situação da taxa de juros, em 11,75% ao ano, existem diversas opções de renda fixa que trazem um retorno maior do que o FGTS.
“Tem que ir para algo seguro, com previsibilidade de rentabilidade. Tem que ser um dinheiro para aposentadoria, remunerar de forma segura. Hoje pela taxa de juros que nós temos não há necessidade de correr riscos. Dá para aplicar e ganhar muito mais que a aplicação do FGTS”, garante.
Onde investir
A escolha do investimento deve levar em conta o perfil do investidor. Mas, via de regra, o dinheiro do FGTS deve ser colocado em um local que vise mais segurança do que rentabilidade – ou seja, a renda variável não é a melhor opção.
Dentro da renda fixa, Gustavo indica os títulos do Tesouro Direto, seja indexado ao IPCA, Selic ou pré-fixado. Opções pré-fixadas são boas para que o trabalhador consiga ter uma previsibilidade de que o rendimento será superior ao FGTS, independente de mudanças na Selic e na inflação.
Quem quer ficar com o dinheiro fácil para o caso de emergências deve optar por aplicações com maior liquidez, como o Tesouro Selic, fundos DI e alguns CDBs.
Fundos de investimentos também podem ser uma opção, mas deve-se sempre prestar atenção nas taxas de administração cobradas para não perder em rentabilidade.