A fintech brasileira Nubank estreou na Bolsa de Valores de Nova York nesta semana com oferta inicial de US$ 9 por ação, tornando-se o banco mais valioso do Brasil (US$ 41,5 bilhões).
A empresa anunciou o pedido de listagem em 1º de novembro e desde então vem publicizando fortemente o marco, especialmente para aqueles que já faziam parte da base de clientes do banco.
Mas investir em ações do Nubank vale a pena? Saiba as principais vantagens e desvantagens para ficar atento na hora de decidir comprar ou não papéis da instituição.
As vantagens de investir em ações do Nubank
O consultor de investimentos da Aplix Advisory, Caio Mont'Alverne, explica que o Nubank é uma empresa com expectativa de lucro futuro, ou seja, ela ainda não gera lucro, mas por ser disruptiva e ter uma base de 48 milhões de clientes, a expectativa é que no longo prazo ela consiga monetizar esses fatores.
Criado em 2013, o banco teve um salto no número de clientes a partir de 2018, elevando a base em cerca de 118% por ano, segundo Mont'Alverne.
"Esse crescimento se deu especialmente nas classes C e D com idade inferior a 40 anos. Esse ganho se deu através do uso da tecnologia e da isenção de taxas para grande parte os serviços. Então, as pessoas que não tinham acesso ao sistema bancário passaram a ter", afirma.
Além dos clientes brasileiros, a fintech também pretende expandir a área de atuação para outros países. Dois dos cotados são Colômbia e México, que também possuem cerca de 60% da população desbancarizada.
A estratégia utilizada no Brasil seria reproduzida lá.
"Você entra nesses mercados, transforma esse potencial em clientes e monetiza eles, gera receita seja com cartão de crédito, com marketplace, atrai investimento através do NuInvest", explica.
Baixa inadimplência
O especialista ainda pontua que um dos diferenciais da empresa é que, apesar da representatividade de clientes das classes C e D, o nível de inadimplência é "incrivelmente baixo".
Isso se deve ao sistema desenvolvido pelo próprio Nubank para fazer a análise de crédito dos solicitantes.
"Uma das vantagens de investir no Nubank é que a rentabilidade pode crescer exponencialmente no longo prazo junto com o lucro da empresa, caso essas estratégias deem certo. Ao mesmo tempo, o risco e a volatilidade são bem maiores", ressalta.
Direito a voto
O analista de ações internacionais da Suno Research, André Tavares, também lembra que o tipo de ações disponibilizadas no IPO são de classe A, enquanto os fundadores detêm as de classe B.
Na prática, uma ação classe B tem 20 vezes mais direito a voto que uma de classe A. Dessa forma, os fundadores da instituição financeira ainda deterão 70% de participação no direcionamento e planejamento das decisões.
"Além disso, via de regra, o mercado dos Estados Unidos aceita pagar um valor eixo maior. O Nubank foi cotado por mais de US$ 40 bilhões, valor que ele não conseguiria aqui no Brasil"
O sócio-fundador da Aveiro Consultoria, Raul Santos, esclarece que o valor eixo elevado para empresas do modelo de negócio do Nubank em bolsas internacionais se deve ao fato do mercado lá fora ter mais conhecimento a respeito do que acontece com empresas de tecnologia quando abrem capital.
"A percepção de valor do investidor estrangeiro é melhor, mais fácil. Então, os donos do Nubank vão levantar mais dinheiro que aqui no Brasil", detalha.
Riscos do investimento
Santos alerta que esse IPO possui uma baixa previsibilidade em relação ao desempenho das ações no futuro.
Isso justamente porque o Nubank é uma empresa de expectativas futuras, o que a faz correr mais riscos que uma empresa de economia real.
"Quando Hapvida ou M.Dias Branco abre capital, você tem acesso aos números da empresa e trajetória e dá para ter uma melhor previsibilidade para decidir a compra ou não. Isso não quer dizer que a gente não recomenda a compra de ações do Nubank", afirma.
Tavares também pontua que, na execução da estratégia de monetizar a base de clientes, os consumidores não aceitem muito bem a cobrança pela utilização dos serviços.
Mont'Alverne ressalta que a volatilidade dos papéis estará mais suscetível às mudanças macroeconômicas, como alterações na taxa de juros, e aos riscos político-econômicos que afetem todas as empresas da Bolsa.
"Um último risco é que toda empresa que acaba de ser lançada tem um nível menor de informações disponíveis do que empresas que já estão listadas há dez anos. As regras de declaração são mais rígidas", pontua.
Perfil do investidor
Tendo em vista o maior nível de risco e a volatilidade das ações, Tavares aponta que o produto é indicado para investidores que já tenham experiência em renda variável.
"É indicado para um perfil moderado a arrojado e que já tem familiaridade com ações, porque vai precisar abrir conta fora para comprar ações diretamente ou comprar o BDR, que é praticamente a mesma coisa, embora tenha impacto da variação do dólar", avalia.
Santos também aconselha que os interessados iniciem o investimento com pequenos aportes.