A inadimplência continua registrando altos índices no Ceará. Ao todo, 48,08% de toda a população adulta do Estado estava com o “nome sujo” junto ao crédito em julho.
Isso significa que um em cada dois cearenses adultos está inadimplente. Dos cerca de 7 milhões de pessoas nessa faixa etária, aproximadamente 3,4 milhões têm débitos negativos no Ceará. O estado é o 8º do país em endividamento da população.
Os dados foram divulgados pelo Serasa Experian e incluem ainda o total de dívidas abertas no Estado e o somatório dos débitos.
Os adultos do Ceará têm, juntos, mais de 11,7 milhões de dívidas, que totalizam R$ 12,6 bilhões. Cada devedor possui, em média, R$ 3,7 mil em débitos em atraso. O valor médio de cada uma das contas devidas (tíquete médio) está em R$ 1,07 mil.
Os dados são levemente maiores em comparação aos divulgados pelo Serasa no mês anterior. Em junho, 3,1 milhões de pessoas adultas no Ceará estavam inadimplentes.
No recorte de gênero, as mulheres (54,1%) são mais endividadas do que os homens (45,9%) no Ceará. No que diz respeito à faixa etária, a maior fatia é de pessoas adultas entre 26 e 40 anos (35,4%).
Inadimplência no Ceará por idade:
- Adultos entre 26 e 40 anos: 35,4%;
- Adultos entre 41 e 60 anos: 34,1%;
- Adultos acima de 60 anos: 18,6%;
- Adultos até 25 anos: 11,9%.
Ainda de acordo com o Serasa, as principais dívidas dos cearenses são as chamadas utilities, contas básicas como água, luz e gás. Esse segmento é responsável por 34,41% de todos os débitos ativos das pessoas adultas no estado.
Bancos e cartões de crédito aparecem logo atrás, com 28,59% da inadimplência no Ceará. Empresas que concedem crédito, mas não são bancos, são a terceira principal causa de endividamento dos cearenses, com 13,92% do total de dívidas.
INADIMPLÊNCIA CAI PELO SEGUNDO MÊS CONSECUTIVO NO BRASIL
No Brasil, a proporção de inadimplentes entre a população é semelhante à registrada no Estado. São 71,41 milhões de pessoas que ainda continuam com certidão negativa de débitos, o que representa 43,7% da população brasileira. Aos poucos, porém, o cenário vem apresentando sinais de melhora.
Em julho, o País teve diminuição entre os inadimplentes. Foram menos 35 mil pessoas com o nome sujo em comparação com o mês anterior.
A maior queda entre os tipos de débitos ficou no segmento de cartões de crédito e bancos. Esse setor registrou diminuição de 1,6 ponto percentual entre junho e julho, maior redução desde janeiro de 2019.
Uma das razões que podem explicar esse resultado está no Programa Desenrola, do Governo Federal. Atualmente, a iniciativa está na fase 2, com renegociação de dívidas de qualquer valor exclusivamente junto a instituições financeiras para pessoas com renda até R$ 20 mil mensais.
A expectativa é de que em setembro a inadimplência caia ainda mais. Isso porque entrará em vigor a fase 1 do Desenrola, com dívidas — seja de bancos ou não — de pessoas com renda até dois salários-mínimos mensais (R$ 2.640) e com débitos que, somados, não ultrapassem R$ 5 mil.
COMO RENEGOCIAR OS DÉBITOS?
O cenário econômico do Brasil permite que a inadimplência possa cair com o passar dos meses. Quem explica é Érico Veras Marques, economista e pesquisador de finanças.
Ele enumera as causas que podem ajudar a entender o alto endividamento da população brasileira, como a crise generalizada em virtude da pandemia e a remuneração menor de postos de trabalho tradicionais.
“A economia passou por um momento de retração, agora que a gente está recuperando. Outra questão é o custo de se ter dívida no Brasil, que é muito alto, que são as taxas do cartão de crédito e do cheque especial. As famílias se endividaram ao longo da pandemia e o processo de retração da economia com diminuição de postos de trabalho ou mesmo a abertura de novos postos de trabalho, mas com renda menor, faz com que as famílias se endividem”, diz.
Com a melhora nos índices da inflação e a consequente retomada de postos de trabalho, as famílias mais pobres estão conseguindo renegociar as dívidas. Veras Marques projeta que, com a fase seguinte do Desenrola, essa inadimplência deve ter uma redução ainda maior.
“Com a melhora da economia e com a retração de consumo, houve uma redução da inadimplência, as famílias aprenderam da pior forma o possível. A queda da inflação, para as classes mais baixas, uma boa parte do dinheiro vai para a sobrevivência. Na hora que sobra um pouco mais de recursos, para pagar mais minhas dívidas”, expõe.
O economista completa exaltando a movimentação econômica das pessoas com o nome limpo: “com a negociação, a ideia é que a gente reduza a inadimplência e limpe o nome. Ao tomar crédito, as pessoas consomem e se espera que com o consumo das famílias, a gente entre em um ciclo virtuoso”.
Com o pacote de investimentos anunciados pelo Governo Federal, o Novo PAC, a expectativa é de que a máquina econômica proporcione dias melhores para os inadimplentes com a geração de emprego e renda, ma Érico Veras Marques pondera que “expectativa é expectativa”.
A gente espera que a economia cresça, tem o Novo PAC, com R$ 1 trilhão, mas ainda tem o problema da reforma administrativa. Tem a questão da inflação e o aumento do preço dos combustíveis, que deve ter um impacto inflacionário, mas as expectativas são positivas, tanto que é que a nota de risco do Brasil melhorou. Se espera, em termos de expectativa, que a economia melhore. Na hora que a economia melhora, a gente tem mais emprego e renda e diminui a inadimplência.