Turismo doméstico deve alavancar retomada do setor; Ceará desponta

Hotéis, pousadas e atrativos turísticos cearenses se programam para reabrir em meados de agosto e governo prevê movimentação mais significativa, lenta e gradual, a partir de setembro. Clima e variedade de preços favorecem Estado

Ainda em meio a um cenário de pandemia, a reabertura das barracas de praia e agências de viagem, bem como a extensão do horário de funcionamento dos estabelecimentos de alimentação fora de casa na Capital abre margem também para o início do retorno das atividades turísticas no Ceará. De forma lenta e gradual, o setor deve registrar maior movimentação a partir de setembro, prevê o secretário do Turismo do Estado, Arialdo Pinho.

A maioria dos hotéis e equipamentos turísticos, como parques aquáticos, deverão reabrir as portas entre agosto e setembro, segundo estima o secretário, o que deve estimular o retorno dos turistas. "Eu sou cauteloso. Nossa retomada será devagar e começará com mais força a partir de setembro, mas a maioria das vendas será para novembro e dezembro", avalia.

Apesar da previsão do secretário, há quem já se sinta seguro o suficiente para fazer viagens dentro do próprio Estado. A advogada Eduarda Souza está visitando praias do litoral cearense desde o fim de junho. Jjá esteve na Praia das Fontes e Paracuru, ambos utilizando casas próprias para se hospedar. Neste fim de semana, ela e a família escolheram a Praia da Baleia, em Itapipoca, e ficarão em pousada pela primeira vez após o início da pandemia.

"Ainda há muito receio do 'novo' normal, então ficamos reticentes com algumas coisas. Por exemplo, em Paracuru, não fomos até a praia mesmo. Já na Praia das Fontes, fomos, mas não chegamos a ir à cidade à noite passear na praça e tomar um sorvete, levar as crianças para passeios. Então, sentimos falta de opções", conta.

Mesmo sendo hipertensa e, portanto, do grupo de risco, ela diz estar tranquila e entender que tem que tomar as precauções necessárias, mas sem desespero. "Sempre gostamos de viajar! Viajamos bastante aqui, como também a outros estados. Meu esposo é do Piauí, meu irmão mora no Rio Grande do Norte e tenho escritório de advocacia em Recife e Natal também". Na lista de próximos destinos, ela inclui Pernambuco, ainda sem data, e, com o restante da família, a Praia de Peroba, em Alagoas.

E assim como Eduarda, os brasileiros estão priorizando as viagens nacionais para o restante desse ano. Levantamento da Associação Brasileira de Operadoras de Turismo (Braztoa) e do Laboratório de Estudos de Sustentabilidade e Turismo da Universidade de Brasília mostra que 60% dos entrevistados que ainda planejam alguma viagem em 2020 preferem destinos nacionais.

E nesse contexto, o Ceará sai na frente em relação a estados de outras regiões do País pelo próprio clima, atrativos e variedade de preços disponíveis, conforme aponta o vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (Ibef), Raul dos Santos Neto.

"O primeiro fator que favorece as viagens nacionais mesmo sem pandemia é o câmbio. O dólar e o euro estão caros, então dificulta as viagens para o exterior. Fora isso, ainda temos a questão da segurança pessoal. É diferente você pegar um avião para a Holanda e adoecer lá do que ir para Salvador", ressalta.

Sobre o clima, ele lembra que as temperaturas altas e ventos fortes do Nordeste reduzem o risco de contaminação, passando uma maior sensação de segurança aos visitantes. "Nosso Estado ainda ganhou uma infraestrutura diversificada em termos de preços, temos opções que cabem no bolso de todos. É um turismo democrático", acrescenta.

O vice-presidente do Ibef pondera que as próprias mudanças no mercado de trabalho favorecem as viagens em família, como em casos em que é difícil sincronizar as férias dos pais com as dos filhos. "Com o home office, levando um notebook e usando a internet do hotel, um dos dois pode continuar trabalhando. As empresas já estão bem mais abertas a isso".

Hotéis e pousadas

O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Ceará (ABIH-CE), Régis Medeiros, aponta que a maioria dos hotéis estão se programando para reabrir entre o fim de julho e agosto. Com a maior parte ainda fechada, a ocupação tem girado em torno de 5% a 10%.

"Nossa expectativa é conservadora, de uma retomada lenta. Precisamos avisar aos parceiros comerciais que estamos começando a ter hoteis de portas abertas e barracas de praia para as pessoas saberem e começarem a pensar em vir pra cá. Precisamos mostrar tranquilidade e que estamos seguindo os protocolos sanitários", aponta.

Ele ressalta que a cadeia do turismo está fazendo um trabalho de divulgação através das redes sociais para atrair o visitante novamente. Em relação ao turista internacional, Medeiros acredita que estes demorem um pouco mais a voltar ao Ceará.

"Acredito que somente próximo ano. Mas caso os índices continuem melhorando talvez o pessoal do kitesurf ainda venham, já que a temporada de ventos se estende até novembro e eles são realmente aficionados pelo esporte".

Para o secretário Arialdo Pinho, o turista internacional deve voltar ao Estado no fim do ano também, se diferenciando do visitante brasileiro apenas pelo nível de gastos. "A diferença que existe é na despesa. O brasileiro gasta cerca de um terço do turista estrangeiro. A diária é maior, pela força do câmbio mesmo", aponta.

Mesmo deixando menos recursos, o titular da Setur destaca o viajante nacional ainda é a grande maioria dos visitantes que o Ceará recebe, somando cerca de 3,5 milhões por ano. Sobre a infraestrutura de transporte necessária para que o turismo ocorra, ele afirma que aos poucos os voos no Aeroporto de Fortaleza estão retornando, mas que o patamar atual continua muito aquém do registrado antes da pandemia. "Tínhamos em torno de 4 mil voos por mês. Hoje estamos só com 400, cerca de 10%. Ainda é muito lento".

Entre os pequenos hotéis e pousadas, 60% ainda permanecem fechados, de acordo com Vera Lucia da Silva, presidente da Associação dos Meios de Hospedagem e Turismo (AMHT). Segundo ela, os estabelecimentos que estão abertos estão recebendo público apenas corporativo, deixando a ocupação em 25%. Ela lembra que em um mês de julho normal os leitos estariam lotados.

"Nos próximos 12 meses, a preferência será realmente por viagens dentro do Brasil. E temos conseguido passar uma segurança para nossos hóspedes. Muitos têm nos relatado que estamos mais criteriosos com os protocolos que em outros estados", ressalta.

Programação

O presidente da Associação Brasileira de agências de Viagens no Ceará (Abav-CE), Murilo Santa Cruz, orienta que o melhor momento para programar as próximas férias é agora, em virtude dos preços baixos e promoções. "É possível confirmar passagens para Miami em março de 2021 por US$ 340, para a Europa por US$ 450. São valores bem baixos. Quando a biosegurança estiver garantida, seja com remédio eficaz ou vacina, a procura vai pressionar os preços a voltarem ao patamar de antes. Então, as melhores oportunidades estão agora".

Nesta primeira semana de retorno dos atendimentos presenciais nas agências de Fortaleza, ele aponta que já há certa movimentação, mas que os pacotes procurados são para novembro e dezembro. "Estamos tendo procura por destinos nacionais e internacionais também. Ainda não conseguimos precisar muito, mas a expectativa é que tenhamos uma grande movimentação, até pela vontade de sair que o confinamento provocou".