Rodovias consideradas ótimas passam por apenas 2 municípios do Ceará; Litoral Leste tem melhores estradas

Especialistas apontam falta de investimento no setor

Os únicos 48 quilômetros de estradas consideradas ótimas no Ceará cruzam apenas duas cidades do Estado. Parte está localizada em Maracanaú, na BR-222. O outro trecho está no município de Itapipoca, na BR-402. O número representa apenas 1,3% dos 3.772 quilômetros avaliados pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) na Pesquisa CNT de Rodovias 2024, divulgada nesta terça-feira (19).

Já o Litoral Leste concentra a maior extensão de rodovias em situação boa, com 609 quilômetros. Se destacam a BR-116, BR-304 e CE-040. As rodovias passam, entre outras cidades, por Fortaleza, Eusébio, Aquiraz, Beberibe e Aracati. 

No outro lado do Estado, a situação das rodovias analisadas pela CNT é diferente. A região oeste concentra rodovias avaliadas como regular, ruim e péssima.

Heitor Studart, coordenador do Núcleo de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), aponta que a disparidade entre as regiões é explicada pela maior necessidade de transporte.

"Um eixo estruturante do Ceará é a BR-116, é o principal eixo de ligação entre o Ceará e o Sudeste e Sul. Toda a produção industrial e a maior parte do escoamento de produtos é feita por ela. Dentro do orçamento do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), é priorizada", aponta.

A rodovia estadual CE-040 é priorizada entre as demais por se tratar de um corredor turístico, segundo Heitor Studart. Ele comenta obras recentes realizadas na via, incluindo 'vultosos investimentos estrangeiros'.

Studart afirma que o baixo investimento em infraestrutura é uma situação enfrentada pelo Brasil no geral, o que impede o reforço da qualidade das rodovias e a criação de novos trechos. 

Os investimentos necessários para a área de infraestrutura e logísticas são de cerca de 4% do PIB por ano para atender a demanda existente. O Brasil vem patinando, com menos de 2% de investimento há mais de 15 anos. Esse valor de investimento não mantém nem a manutenção de maneira adequada"
Heitor Studart
coordenador do Núcleo de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec)

IMPACTOS PARA A ECONOMIA DO ESTADO

Heber Oliveira, professor do curso de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC), afirma que a escassa avaliação das rodovias cearenses tem uma série de impactos financeiros, sociais e ambientais.

"É, no mínimo, vergonhoso e nefasto para um estado tão produtivo e, ao mesmo tempo, tão carente de desenvolvimento da infraestrutura rodoviária como o Ceará", afirma.

O especialista pondera que a Pesquisa CNT não contempla toda a malha rodoviária cearense, mas tem uma amostragem significativa. 

"Embora as condições 'Ótimo' e 'Bom' tenham aumentado percentualmente em relação à pesquisa de 2023, houve também o aumento percentual das condições 'Ruim' e 'Péssimo'", comenta.

Da extensão rodoviária cearense analisada pela CNT, 20% está em situação ruim ou péssima. Segundo o estudo da CNT, 147 quilômetros estão na pior situação. Já 609 km estão em situação ruim. Grande parte das rodovias do Estado está em situação regular ou boa - 2.968 quilômetros, cerca de 78,7%. 

O levantamento avaliou 111.853 quilômetros de vias pavimentadas, o que corresponde a 67.835 quilômetros da malha federal (BRs) e a 44.018 quilômetros dos principais trechos estaduais.

As rodovias brasileiras foram classificadas em ótimo (7,5%); bom (25,5%); regular (40,4%); ruim (20,8%) e péssimo (5,8%). 

O estudo é realizado com base em pesquisas de banco, classificando pavimento, sinalização e geometria da via. Considerando os dados, o CNT estima que o investimento necessário para a reconstrução, restauração e manutenção do pavimento corresponde a R$ 99,7 bilhões.