Entidades setoriais articulam a regulamentação do preço do leite produzido no Ceará para pressionar a priorização do mercado interno. A pauta foi discutida em reunião, nesta terça-feira (17), na sede Federação da Agricultura do Estado (Faec), em Fortaleza.
Na reunião, ficou definido que representantes do setor vão ao Paraná, onde fica a segunda maior produção do alimento no País, para conhecer políticas de precificação e avaliar quais práticas podem ser importadas e aprimoradas de acordo com a realidade local. A previsão é de que a viagem ocorra na primeira quinzena de fevereiro próximo.
Segundo o presidente da Faec, Amílcar Silveira, atualmente, 83 mil pessoas sobrevivem da pecuária leiteira no Estado, mas 52% do leite consumido aqui ainda é proveniente de outros estados.
Para ele, deve haver uma política de priorização da produção local, além de estímulos como acesso ao crédito, assistência técnica e fiscalização de produtos ilegais que entram no Estado.
“Precisamos dar uma qualidade digna ao produtor que está no campo. Estamos passando por uma crise, tem gente recebendo R$ 1,80 no litro do leite, mas você vai à gôndola do supermercado e encontra o produto de R$ 5 a R$ 6”, disse.
O presidente da Associação Cearense de Supermercados (Acesu), Nidovando Pinheiro, afirmou que o varejo valoriza o comércio local, mas só negocia com fabricantes que atendam aos critérios legais.
"O que a gente mais quer é que esses produtos estejam legalizados para serem expostos, para os nossos clientes levarem e consumirem com segurança. Nós somos fiscalizados constantemente em relação aos produtos que a gente possa ter nas gôndolas e que não estejam legalizados", observou, acrescentando esperar pela legalização "o mais rapidamente possível".
Definição do novo preço médio do leite vendido para a indústria
No evento, produtores relataram que o litro do leite é vendido de R$ 1,80, a R$ 2,30 para compradores locais, enquanto amargam o encarecimento dos insumos para a produção.
Com a precificação estabelecida, espera-se que os trabalhadores rurais possam negociar com as empresas e atendam à demanda local, que hoje também é abastecida por outros estados.
O diretor de Política Leiteira da Betânia Lácteos, uma dos maiores indústrias de lacticínios do Nordeste, David Girão, disse que a empresa está disposta a regulamentar o preço base do produto. Segundo ele, atualmente, o negócio compra 650 mil litros de leite por dia.
O presidente do Sindicato da Indústria de Lacticínios (Sindlaticínios), José Antunes, ponderou ainda não ser possível avaliar os impactos para o consumidor final quando a medida for aplicada.
Entrada de leite irregular prejudica mercado interno
Outra demanda levada pelo setor é o combate ao mercado ilegal de derivado no Ceará. Segundo o presidente da Faec, Amílcar Silveira, "1,200 toneladas de queijo" clandestino entram, todos os meses, no Estado.
A maioria desses produtos viria do Pará. Dentre as irregularidades, estariam sonegação de impostos e ausência de inspeção sanitária.
A Agência de Defesa Agropecuária do Ceará (Adagri) informou que pretende intensificar as fiscalizações, incluindo ações com a Secretaria da Fazenda do Ceará (Sefaz) e treinamento com as polícias dos estados.