Projeto Favela 3D, da Gerando Falcões, chega à comunidade Inferninho, em Fortaleza

Como parte da implementação do projeto, a ONG Gerando Falcões busca mobilizar os setores público e privado para angariar os recursos necessários para sua execução

O projeto Favela 3D (Digna, Digital e Desenvolvida), da Gerando Falcões, chega à cidade de Fortaleza. A Favela do Inferninho, localizada no bairro Vila Velha e que conta com mais de 600 famílias, será a primeira do Estado a receber a iniciativa.

Com a parceria da ONG Instituto Pensando Bem, que atua no território e faz parte da rede Gerando Falcões, já foi realizada a fase de diagnóstico local e também estão sendo implementadas ações voltadas para o urbanismo social. A próxima etapa será construir um grande plano social com os moradores para a superação da pobreza.

Com o diagnóstico, foi possível identificar o perfil e necessidades iniciais da população local por meio de uma pesquisa realizada pela Gerando Falcões.

Segundo levantamento, a renda média das famílias é de R$ 1,3 mil, sendo que 51% delas vivem com menos de um salário. O cenário tem relação pelo fato de apenas 13% dos habitantes trabalharem como CLT. Outro fator, relacionado à moradia, é que 40% dos moradores não possuem nenhum documento da propriedade e 26% têm problemas com alagamento e inundação. 

Visita em Fortaleza

O fundador da Gerando Falcões, Edu Lyra visita ainda nesta semana a Favela Inferninho. Ele será recebido pelo coordenador da Pensando Bem, Rutênio Florêncio. O prefeito de Fortaleza, José Sarto, secretários e um grupo de empresários apoiadores do projeto, dentre eles Ticiana Rolim Queiroz (Somos Um), Aline Ferreira (Grupo Aço Cearense) e Aline Telles Chaves também participam do encontro.

Na programação de Edu Lyra também há um encontro com o governador Elmano de Freitas, a vice-governadora Jade Romero e secretários de Estado, além do grupo de empresários. O objetivo das agendas no Ceará é consolidar o apoio do poder público e da iniciativa privada ao Favela 3D.

"O contrário de pobreza não é riqueza, é dignidade. A gente quer tirar essas famílias de uma rota de pobreza e criar trilhas de dignidade, definir isso em metas e bater essas meta junto com as famílias, como zerar a fila em creches, reduzir o analfabetismo, e colocar o desemprego em menos de 5%, criando uma condição de plano emprego na favela", afirma Edu Lyra.

O líder da Gerando Falcões na Favela Inferninho, Rutênio Florêncio, destaca a realidade encontrada na fase inicial do projeto, que mapeia as condições de pobreza no local.

  • Das 620 famílias, 12 delas estão em pobreza extrema e outras 492 estão na pobreza
  • 40% dos jovens não estão estudando nem trabalhando
  • 30% das crianças estão fora da creche ou da escola
  • 30% dos moradores estão no analfabetismo
  • 22% não se alimentam como deviam

"Acho que todo mundo nasceu para viver bem e quando a gente fala de injustiça social a gente vê pessoas que moram na favela, ninguém escolheu estar lá dentro. A gente leva as oportunidades lá para dentro e a gente tem algumas metas ao longo desse projeto. São quase 25 soluções que a gente tem para resolver o problema da Favela do Inferninho", destaca Rutênio.

A empreendedora social Ticiana Rolim Queiroz destacou a necessidade e a importância do projeto contar com o apoio e engajamento do setor público, privado e demais esferas da sociedade para que o objetivo de garantir a dignidade às famílias da Favela Inferninho seja atingido.

"Nenhuma mudança sistêmica é possível ser feita com o sucesso e rapidez que a gente precisa sem o apoio de todos os setores da sociedade. Os problemas são muito complexos e nenhum ator vai resolver só, nem o melhor governo do mundo, porque o que o poder público pode fazer é diferente do que o privado pode fazer, que é diferente do que a Universidade pode fazer, do que as organizações sociais podem fazer. Mas a gente coloca o problema no centro, convida todos esses atores, une essas forças. Então, é o lugar único de cada um. E vamos atacar o problema juntos", destacou.

A empresária Aline Ferreira pontua que a iniciativa privada, além da contribuição que as próprias empresas podem dar, tem um potencial de engajar os colaboradores, expandindo a rede de atores envolvidos na causa.

"A Aço Cearense está fazendo um trabalho hoje com a Gerando Falcões, a gente está buscando uma maneira de pegar o imposto de renda dos nossos colaboradores e fazer que eles migrem parte disso para o Gerando Falcões e, assim, tenha um trabalho social que não é mais só a família da Aline, da Tici, da Aline Chaves e de outros empresários, mas são os nossos colaboradores também acreditando nessa causa e investindo nisso", ressalta.

A comitiva ainda revelou que a proposta é que o projeto da Favela 3D vire política pública municipal e estadual.

Projeto de erradicação da pobreza

O Favela 3D (Digna, Digital e Desenvolvida) é um projeto de erradicação da pobreza de maneira sistêmica. Para isso, trabalha com base em uma mandala de impacto que contempla: moradia digna, acesso à saúde, direito à educação, cidadania e cultura de paz, primeira infância, meio ambiente, geração de renda e cultura, esporte e lazer. 

O projeto está em andamento em quatro territórios: na Favela Marte, em São José do Rio Preto (SP), na Favela dos Sonhos, em Ferraz de Vasconcelos (SP), no Morro da Providência, no Rio de Janeiro (RJ) e em Vergel do Lago, em Maceió (AL).

Os locais possuem características e populações diferentes, permitindo que a metodologia se adeque e se consolide em ambientes distintos, que seguem com trabalhos que serão realizados ao longo dos próximos dois anos. Em 2023, além de Fortaleza, o Favela 3D já foi iniciado na Favela Haiti, em São Paulo e ainda pretende atuar em mais áreas de vulnerabilidade social por definir. 

O que é a Gerando Falcões 

A Gerando Falcões é um ecossistema de desenvolvimento social que atua para acelerar o poder de impacto de líderes de favelas de todo país que possuem um sonho em comum: colocar a pobreza das favelas no museu.

Seu foco são iniciativas transformadoras, capazes de gerar resultados de longo prazo. O projeto entrega serviços de educação, desenvolvimento econômico e cidadania e executa programas de transformação sistêmica em comunidades, como o Favela 3D.  

Impacto social nas favelas

Fundado em 2020, a ONG Instituto Pensando Bem surgiu dentro da Favela do Inferninho, no bairro Vila Velha, em Fortaleza, para promover transformação com ações de impacto social ao alcance de todos. A instituição oferece atividades e oficinas gratuitas nas áreas de Educação, Cultura, Esporte, Tecnologia e Qualificação Profissional, atendendo mais de 500 pessoas, entre crianças, adolescentes e adultos. 

O Pensando Bem nasceu a partir do sonho de seu gestor e fundador, Rutênio Florêncio, morador da comunidade, que ao iniciar sua trajetória no mercado de trabalho, tomou conhecimento da morte precoce de um amigo de infância. O jovem estava iniciando sua vida profissional e começou a imaginar que as oportunidades que o alcançaram, permitiram que seu destino não fosse semelhante ao do amigo. Ele fez da dor, a força para transformar realidades e criar pontes. "O Instituto Pensando Bem é a minha missão de vida. Ela surge a partir do momento que eu começo a imaginar e pensar no que me fez chegar até aqui", conta o empreendedor social.

O Instituto começou a ganhar forma quando a garagem da casa de Rutênio se transformou num pequeno centro cultural, com oficinas de Muay Thai e educação complementar, como contação de histórias e arte e pintura. No mesmo período, o jovem iniciou como professor do Esporte Superação, programa do Governo do Estado do Ceará, que ampliou ainda mais o impacto da educação e do esporte em sua vida, inclusive beneficiando o Pensando Bem, que de três alunos passou, em menos de três meses, para quase 60. 

Em 2021, o Instituto foi acelerado pela ONG Gerando Falcões, a maior rede de organizações não governamentais do Brasil. O reconhecimento foi um importante passo para o crescimento do trabalho do Pensando Bem dentro da favela.

Hoje, a instituição conta com uma base educacional, o Beco Céu, e impacta a vida de crianças, jovens e adultos com suas ações de transformação social.