Além de um espaço multicultural, as feiras livres também são lugar de economia. Em Fortaleza, os produtos vendidos nesse comércio a céu aberto podem ser até cinco vezes mais baratos do que nos supermercados, conforme levantamento do Diário do Nordeste.
Para se ter ideia, o cheiro-verde (a junção dos temperos coentro e cebolinha) é encontrado por R$ 0,83 nas feiras, enquanto é vendido por R$ 4,28 nas gôndolas dos grandes mercados. Veja a diferença:
Para o levantamento, foi considerada uma lista de 12 itens e feita a comparação nas feiras dos bairros João XXIII e Cidade 2000, além de dois supermercados, sendo um popular e outro voltado para o público de alto valor aquisitivo.
Para o cálculo, foi estabelecida uma média simples entre os locais pesquisados. A sondagem foi realizada entre 30 e 31 de março e 3 de abril.
Nas feiras, geralmente a precificação é feita pelo quantitativo, enquanto nos supermercados, é considerado o quilo do alimento. Nesse caso, a comparação entre modelos de negócio foi feita estimando o peso para cada item, por meio de calculadora do site Menu Control.
É possível observar diferenças nos preços encontrados no comércio ao ar livre, a depender do bairro.
Por exemplo, no João XXIII, três unidades de cheiro-verde (3 maços de coentro e 3 maços de cebolinha) custam R$ 2. Na feira da Cidade 2000, os mesmos R$ 2 compram duas unidades do tempero.
Na comparação de todos os itens entre os dois modelos de negócio, apenas a goiaba e a cebola branca ficaram mais vantajosas no supermercado, conforme demostrando no infográfico acima.
Mapa interativo
Além das 73 feiras de bairros, Fortaleza possui outras sete exclusivamente de produtos agroecológicos, totalizando 80 opções. Clique nos ícones do mapa para obter as informações sobre os dias e horários de funcionamento da feira mais próxima da sua casa.
Fontes: Prefeitura de Fortaleza, Rede EcoCeará, Cetra e MST. Elaboração: Heloisa Vasconcelos.
Vale a pena trocar o supermercado pela feira?
A economista e educadora financeira, Juliana Barbosa, observa que os preços nos supermercados são elevados em razão dos custos com estrutura física, funcionários e impostos embutidos.
“Boa parte da população acaba comprando mesmo com valores mais altos, devido à comodidade de poder comprar vários itens no mesmo local, além do conforto e segurança”, enumera. A economista observa que, além do preço mais competitivo, há outras questões que balizam essa escolha.
“A cultura das feiras livres é mais forte no Sudeste como Rio e São Paulo, mas vem ganhando força na nossa região. É prazeroso sentir o cheiro das frutas e verduras frescas. Poder degustar, tomar uma água de coco e ainda ‘pechinchar’ com o vendedor”, lista.
Quando o critério para decisão for exclusivamente econômico, pondera, também deve-se levar em conta o custo com transporte para o deslocamento. Além disso, o ideal é buscar uma educação financeira para lidar melhor com o impacto dessa despesa no orçamento das famílias.
“Estamos atravessando um momento de alta da inflação, principalmente com alimentos, diminuindo o nosso poder de compra a cada dia”, contextualiza.
"Por isso, é importante ter um valor predeterminado para esses gastos. Já sabendo quanto você pode gastar por mês, divida esse total por semana. Assim, fica mais fácil cumprir o seu objetivo”, completa.
Veja algumas dicas da economista:
- Opte por frutas e verduras da estação, que possuem preços menores;
- Compre o necessário para evitar desperdícios;
- Se a sua escolha for o supermercado, procure dias de promoção de hortifrúti.
“Mas, nesse dia, se limite a comprar apenas os itens em promoção. As grandes redes de supermercado tendem a aumentar o preço de outros produtos fora da promoção. E, por fim, sempre é mais vantajoso chegar no ‘fim da feira’ e tentar pechinchar ainda mais”, destaca.
Além do benefício econômico para o consumidor, a decisão de ir à feira fortalece os pequenos negócios, conforme discutido nos dois primeiros episódios dessa reportagem.
Preços baixos e relação com a comunidade levam cearenses à feira
A professora Izaura Soares, de 73 anos, frequenta feiras livres em Fortaleza já há 40 anos, conhecendo inclusive pais, filhos e netos de alguns feirantes. Ela conta que a preferência vem de motivações culturais e sociais.
“Na feira todo mundo fala, todo mundo se comunica. Aqui tudo é novinho, tudo é saído da horta. Realmente é um ambiente que o poder público deveria dar uma olhada mais interessante”, coloca.
“Há um movimento de muitas pessoas diferentes que vêm à feira. Aqui vem o advogado, vem o médico, o professor. Aqui ninguém rejeita dar uma batatinha para uma pessoa que está pedindo, há esse lado social da feira”, acrescenta.
Mas, a escolha por esse lugar para fazer as aquisições também passa pela economia doméstica.
“Acabei de relatar para uma pessoa que eu comprei o alecrim aqui de R$ 7 e em outro lugar era R$ 21, dava para eu comprar três. Eu também pesquiso o preço”, comenta.
A consumidora afirma ter o costume de sempre frequentar feiras e supermercados para comparar os preços. Segundo ela, a economia no seu orçamento chega a 30% ou 40% quando ela dá preferência ao comércio ao ar livre, sobretudo quando vai no horário da “xepa”, o final da feira.
A feira tem uma coisa interessante, tem um horário que comumente se chama de hora da xepa, que é mais barato. Alguns feirantes não querem levar de volta o produto e aí fazem um preço melhor. Aí eu aproveito esse horário”
Quem também não perde a oportunidade de comprar frutas e verduras frescas na feira é a dona de casa Adauta Bezerra, de 81 anos. Ela vai à rua acompanhada de um de seus filhos para ajudá-la.
“Às vezes é mais barato na feira, mas também tem vezes que não é. A cebola vermelha no supermercado é caríssima, 11, 12 [reais o quilo]. E aqui a gente compra mais barato. Quando o dinheiro aperta, a gente corre para a feira, quando tem mais, a gente vai ao supermercado”, conta.
Mesmo morando no João XXIII, a dona de casa passeia em outras feiras outros dias na semana, para comparar preços e ter sempre produtos mais frescos.
A aposentada Zélia Holanda, de 68 anos, frequenta a feira da Cidade 2000 todas as sextas. Lá, ela escolhe alimentos como castanha, queijo e praticamente todas as frutas que consome diariamente.
“Eu gosto da qualidade e da economia. Depois que eu deixei de ir pra supermercado comprar fruta… Eu gasto aqui em média comprando tudo isso uns R$ 120, no supermercado era mais caro, tudo é caro”, diz.
Hoje, a consumidora prefere deixar as aquisições de hortifrúti para fazer nos comércios ao ar livre, deixando os supermercados para outros itens.