O lazer na Praia do Futuro na companhia da família e dos amigos deixou de ser hobby para tornar-se cenário do trabalho de Fernando Ramos, na década de 1980. Após uma brincadeira em uma roda de conversa, nasceu a vontade de erguer uma barraca de praia, que hoje tem uma megaestrutura de 16 mil metros quadrados, sendo 600m² só de parque aquático. O empreendimento criou a tradição da “quinta do caranguejo” e, atualmente, emprega 100 funcionários em Fortaleza.
“Se fosse pelo meu pai, essa barraca seria a Praia do Futuro toda”, revela Fernando Júnior, que assumiu recentemente a missão de dar seguimento ao negócio fundado pelo pai.
A série 'Por Dentro do Negócio' traz histórias de empreendedorismo de empresas que atuam no Ceará, dos percalços ao sucesso, para inspirar você no sonho de abrir o próprio negócio.
Frequentador assíduo da região junto dos amigos e da família, Fernando Ramos resolveu comprar uma barraca, ao lado de um sócio, em 1983. “Não tinha nada que se aproveitasse. Primeira coisa que fiz foi um poço. A água era bomba manual, eu botei automatizada”, lembra o fundador.
Pouco tempo após a compra, ele adquiriu a cota do sócio e decidiu tocar o negócio contando com a ajuda da própria família para cuidar da cozinha e atender os clientes. O vatapá e a panelada servidos no local eram feitos pela sogra de Fernando, enquanto a venda de bebidas e o atendimento no balcão eram feitos pelos filhos dele.
Até mesmo os coqueiros, que até hoje compõem o cenário da Itapariká, foram trazidos por Fernando, que empreendeu praticamente uma força-tarefa para arborizar o local.
“Eu passava o dia em Aquiraz arrancando coqueiros e amarrando nos caminhões. Quando era de noite, já tinha uma máquina carregadeira esperando em Fortaleza. Ela tirava os coqueiros e já ia plantando. Fizemos 48 viagens de caminhão”, completa.
O uniforme dos garçons, a implantação dos chuveiros ao ar livre e a famosa “quinta do caranguejo”, comuns em praticamente todas as barracas da orla de Fortaleza, foram também iniciadas pela Itapariká.
“Hoje essa tradição da quinta-feira está afetada porque você encontra caranguejo em toda esquina. Mas aos domingos, quando a casa lota e chega a atender três mil clientes, são preparados cerca de mil caranguejos, no período da alta estação”, contabiliza o fundador.
O parque aquático, que hoje ostenta oito brinquedos, três piscinas com diferentes profundidades, monitores e salva-vidas, é visto como diferencial para atrair visitantes, e estimulou as barracas próximas a fazerem o mesmo.
“O pai tem toda a tranquilidade de chegar, sentar à sombra e deixar o filho lá dentro. Ele tem a segurança que está sendo bem cuidado”, explica.
De pai para filho
“A diversão da gente era surfar, ficar na praia o dia todo. Depois, foram surgindo as responsabilidades que era a partir de meio-dia trabalhar por pelo menos duas horas, que era quando o movimento pegava mais”, recorda Fernando Júnior, que tinha 11 anos quando começou a ajudar o pai, ao lado dos irmãos.
Com o tempo, o trabalho foi crescendo, o horário de entrada foi se antecipando, estendendo o tempo do expediente aos poucos e, em vez de mesada, o dinheiro vinha em forma de salário.
“Não interessava que se eu saía à noite e chegava 5h30. Às 7h, o papai abria a porta e dizia 'vamos', eu tinha vinte minutos para ficar pronto e vir trabalhar”, ressalta o filho.
A rotina puxada, contudo, é vista com gratidão por Fernando Júnior, que confessa ter sido essa disciplina a responsável por incentivá-lo a ir em busca dos próprios sonhos.
Foi assim que ele embarcou rumo à Austrália, onde morou por 12 anos, se especializou em hotelaria, adquiriu experiência nos mais diferentes tipos de cozinha e, há menos de seis meses, voltou para a Capital com o intuito de ajudar o pai a conduzir a barraca de praia.
“O grande foco, com certeza, é consolidar a nossa peça chave que é a comida”, afirma.
O cardápio, que inclui os clássicos da beira do mar, com carne de sol, macaxeira e peixe fresco, vem ganhando cada vez mais opções para atender aos diferentes paladares dos clientes.
“As pessoas hoje em dia tomam vinho na beira da praia, querem uma lagosta fresca. Recebemos as ostras na sexta, para estarem frescas no sábado e domingo”, detalha Fernando Júnior.
A próxima onda
Nos planos de Fernando Júnior está uma grande reforma na casa, trocando a palha do salão principal, e continuar investindo no bom atendimento da família cearense e nos turistas nacionais, outro grande público da barraca, usando novos recursos em breve.
“Eu gostaria que no futuro a gente pudesse atender todas as pessoas da forma como elas gostariam de serem atendidas e tirar proveito das pessoas terem um celular na mão para fazer o seu pedido ou solicitar a presença do gerente”, projeta.