Ter comida caseira sempre a disposição, sem precisar cozinhar, pode ser atrativo para quem está cansado de pedir refeições em aplicativos de entrega. Essa é a premissa do serviço de personal chef, que tem se popularizado em Fortaleza.
O atendimento dos profissionais acontece no próprio domicílio. O personal chef vai até a casa do cliente para cozinhar uma quantidade de refeições, geralmente almoço e jantar, a serem congeladas para um determinado período.
A chef Emanuella Nobrega, que já presta o serviço há nove anos em Fortaleza, Caucaia e Eusébio, vê a procura por esse tipo de atendimento crescendo devido a uma tendência de estilo de alimentação saudável. Ela montou o serviço após identificar a carência de profissionais que fizessem refeições seguindo um plano nutricional.
"Eu utilizo o cardápio do nutricionista. Às vezes, é zero glúten ou zero lactose. Aí vou destrinchar tudo que é permitido e criar pratos. Tudo é personalizado, dentro das prescrições do cardápio nutricional. Também tenho sugestões de cardápio para quem não tem plano nutricional", explica Emanuella.
O valor do serviço varia entre R$ 250 e R$ 280, a depender da distância, e inclui o preparo e embalagem das refeições e limpeza da cozinha. Todos os alimentos utilizados para cozinhar são comprados pelo cliente, com orientação da profissional.
"Primeiro envio o cardápio sugestivo, o cliente diz se gostou, aí envio a lista de compras. Qualquer problema, tiro todas as dúvidas. Se não achar algum item, posso comprar e levar também. O cliente escolhe em média sete opções e faço refeições para 30 dias", explica Emanuella. A chefe conta com apoio de uma auxiliar para os serviços e chega a atender até três clientes por dia.
Contar com o serviço de personal chef foi uma solução para a empresária Priscyla Araújo Anselmo reduzir o gasto com restaurantes. Ela se tornou cliente do serviço em dezembro e foi conquistada pela praticidade e variedade.
"Eu não tenho tempo e nem sei cozinhar direito. Tenho uma dieta para seguir, então se não tiver em casa, acabo pedindo fora. E além de sair caro, saio da dieta. Também tenho um filho pequeno e quero que ele coma saudável", comenta a arquiteta.
Entre os pontos positivos apontados por Priscyla, está a flexibilidade de cardápio e a certeza de como a comida é preparada e quais os insumos utilizados. "Vejo os ingredientes saudáveis que ela usa. Ela traz tudo, até a panela, e deixa tudo limpinho no final", explica.
A empresária paga R$ 270 pelo serviço e cerca de R$ 700 nas compras para 35 refeições de cerca de 500 g, além 10 'marmitas' de salada. Priscyla aponta que se assustou com o valor das compras do mercado no primeiro momento, mas identificou uma grande economia.
Eu vi o tanto que deixei de pedir comida fora. Uma refeição de restaurante para duas pessoas dá quase metade do que comprei no mercado. Então vale muito"
'Slow food'
O serviço do personal chef deve sair de uma tendência e se tornar um elemento permanente da rotina de diversas famílias, segundo opina o professor do Departamento de Administração da Universidade Federal do Ceará (UFC) Aurio Leocadio.
Para o especialista, a preferência dos usuários por comida caseira tem base no movimento de 'slow food' ('comida lenta', em tradução do inglês), que vai contra a consolidação do fast food.
"É um conceito difundido no mundo inteiro para combater a prática do fast food. As pessoas começam a buscar alimentos com mais qualidade, preparados com mais cuidado, para que esse alimento seja consumido de forma mais prazerosa", afirma.
A rotina da maioria das pessoas ainda não contempla tempo necessário para o preparo das refeições, o que leva a terceirização, segundo o professor. Em relação ao orçamento familiar, é possível que o personal chef impacte em uma redução de despesas, já que reduz o consumo via delivery.
"Por outro lado, pode ser que, por querer uma alimentação mais saudável e com rigor dietético maior, pode aceitar gastar mais para ter a garantia que está comendo comida de muito maior qualidade, do que se tivesse comendo fora de casa", explica.
Otimização de tempo
A alta procura pelo serviço de chef de cozinha 'personalizado' atraiu Ana Izaura para o ramo recentemente. Com experiência em trabalho em restaurantes, ela viu no trabalho 'itinerante' uma oportunidade de tornar a rotina mais flexível e montou o negócio há cerca de quatro meses.
"Juntei o útil ao agradável, a minha rotina com o que eu gosto mais de fazer, que é cozinhar. Cada dia, a procura aumenta. Sempre que eu divulgo, vem gente nova", comemora. A chef também costuma se basear no plano alimentar prescrito pelo nutricionista de seus clientes.
O serviço de personal chef de Ana Izaura custa R$ 250, com limite de 15 refeições individuais. Se o cliente preferir, ela também pode fazer as compras necessárias para as refeições e receber o valor. Um dos objetivos da profissional é manter um preço acessível e entregar praticidade.
"O personal chef é um negócio que tô sentindo uma carência muito grande no mercado. E quando existe, é um preço exorbitante, que o meu perfil de cliente não consegue. Tentei colocar um preço justo, que tenho uma lucratividade boa, mas que atende esse público que é mais consciente do consumo", afirma a chef.
A profissional comenta que a maioria de seus clientes buscam otimizar tempo e manter uma alimentação balanceada. "Todas as minhas clientes são mulheres, moram só. São independentes, têm uma vida de trabalho e uma rotina bem corrida. E procuram sempre manter o foco na alimentação saudável", conta.
Aurio Leocadio reitera que a difusão do serviço de personal chef está diretamente ligada à necessidade de melhor administração do tempo. "Ao terceirizar esse serviço, o indivíduo ganha tempo, porque passa a ter em casa comida de qualidade disponível de acordo com a necessidade. Tem acesso fácil a alimento, coisa que fast food nos oferecia, mas tem alimentação de qualidade, mais saudável", afirma.