Atrás do balcão onde clientes procuram por balões, caixinhas e outros adornos temáticos para festas, Patrícia Alves Rodrigues cuida da loja na Rua Castro e Silva, famosa pela especialidade em artigos para festas. Há 10 anos trabalhando no local, ela reconhece que a maré baixa da crise econômica começou a ser sentida tardiamente. Mas tem boas expectativas para este fim de ano e o início de 2019, que se traduzem na nova loja Paty Festas inaugurada a poucos metros de distância da Paty Plásticos, neste ano. "A gente espera crescer ao menos 10% em vendas até o fim de 2018".
Apesar de reconhecer o Centro como terreno fértil para as vendas, Patrícia lamenta as dificuldades para manter-se firme no ramo. "A gente tem observado muita dificuldade. É problemático para os clientes que precisam estacionar e tem o problema do lixo e a insegurança", diz. Para driblar os problemas, as redes sociais auxiliam na hora de promover o negócio e, dependendo da situação, receber encomendas. "Como vitrine, usamos o Instagram e, para agilizar a venda, recorremos ao WhatsApp. Rede social a gente tem há cerca de três anos, mas começamos a usar o WhatsApp há seis meses".
Avaliando o atual momento do próprio negócio e da situação do comércio de artigos de festa na Castro e Silva, Patrícia, que emprega diretamente cinco funcionários, pondera que a situação é boa, mas não como há alguns anos. "Sim, está indo bem, mas se juntar as duas lojas não dá o que uma só vendia antigamente, há três anos", lamenta. "A gente sempre procura ter o que não tem em outras lojas, enche os balões no gás hélio para os nossos clientes, sem contar nas miudezas de decoração diferentes que temos aqui no Centro. Isso faz a diferença no fim do mês".
Superação em família
Entre um cliente e outro que adentra o restaurante Edu Lanches ou simplesmente "restaurante da Lôra" - como é conhecido por quem frequenta assiduamente -, Evandro Pereira, um dos proprietários do estabelecimento, relembra da dificuldade que foi remontar o local, que está em atividade há oito meses depois que ele e a irmã, Evandra Pereira, tiveram que deixar o outro ponto no qual trabalhavam com alimentação.
Apesar de lamentar ter perdido 70% do movimento com a mudança de local, garante: "o boca-a-boca é que é o segredo do negócio", diz Evandro Pereira. E apesar da queda na clientela, o fluxo é intenso mesmo antes das 11h da manhã de um sábado de outubro, a pouco mais de dois meses para o Natal. O negócio, enquadrado no Simples Nacional, emprega diretamente sete funcionários e é responsável pelo sustento da família dos dois. "Tivemos muito trabalho para recuperar a clientela com a mudança de ponto. O dono pediu o ponto que alugava para nós e tivemos que sair às pressas", lamenta.
No Centro, Evandro e Evandra já trabalham juntos, no mesmo ramo, há nove anos. Apesar de reclamarem da concorrência com os vendedores ambulantes e da violência no local, avaliam que alguns aspectos do Centro melhoraram. "O trânsito melhorou bastante, cerca de 50%, na comparação com uns cinco anos atrás. Ainda pagamos muitos impostos, já quase fomos à falência, mas estamos aqui firmes e fortes. Temos clientes que estão com a gente há cinco, oito anos", diz, enquanto cumprimenta um deles, o pintor e pedreiro Joel Pinto de Oliveira.
"Esse aqui vem comer no nosso restaurante há oito anos, já", diz, orgulhoso, Evandro, abraçando o cliente que mais parece amigo de longa data. "Eu gosto muito da comida daqui, do atendimento, então a gente acaba vindo. Vim aqui tomar um suco na conta do Evandro, hein!", diz gargalhando, enquanto se aconchega em uma das poucas cadeiras disponíveis.
Na calçada do estabelecimento, enquanto Evandra cuida do caixa, o irmão trata de convidar quem passa pela Rua Castro e Silva para um almoço, com opções de pratos entre R$ 6 e R$ 9,90. Para Evandro, o Centro da Cidade se destaca por ter variedade e acredita que o ramo da alimentação domina na região. Para Evandra, as lanchonetes, lojas de artigos de festas e plásticos em geral na Castro e Silva são o que há de melhor. "Se fechar essas lojas aqui, fecha o Centro", garante.
Poder dos pequenos
O negócio dos irmãos Evandro e Evandra e as lojas de Patrícia fazem parte da relevante parcela de micros e pequenos negócios no Centro da Cidade. De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Ceará (Sebrae Ceará), o Centro de Fortaleza conta com 20% das micros e pequenas empresas instaladas na Cidade. Hoje, Fortaleza possui 47% dos negócios totais instalados no Estado.
Para o diretor técnico do Sebrae Ceará, Alci Porto, o número é bastante impactado pelo comércio ambulante na região. "De forma ordenada ou desordenada, esse comércio ambulante tem uma presença marcante no Centro da Cidade. Parte deles tem algum registro de MEI (Microempreendedor Individual) e grande parte ainda está na informalidade", observa.
"O Centro da Cidade respira negócios muito fortemente, tem uma inter-relação de atividades muito forte e eles prosperam muito juntos. Cada um desses micros e pequenos negócios geram ao menos dois empregos diretos".
Na avaliação de Alci Porto, as principais dificuldades enfrentadas, hoje, pelos micros e pequenos negócios no Centro estão relacionados à modernização. "Tem quem esteja no Centro, tem a sua lojinha e ainda está vivendo no passado. Mas vender hoje não é mais como se vendia antigamente. Hoje, existe a concorrência com o mundo online".
Para auxiliar na modernização dessas empresas, o Sebrae Ceará, juntamente com o Sindicato do Comércio Varejista e Lojista de Fortaleza (Sindilojas), Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Ceará (Fecomércio-CE) e Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac Ceará) devem iniciar no ano que vem um programa de qualificação e atualização voltado para as empresas instaladas no Centro.
"Estamos estruturando este programa para que esses pequenos negócios do Centro não deixem a atividade por não estarem atualizados, por estarem ultrapassados em sua gestão. É um trabalho que temos de dever de casa para 2019. Na área da alimentação, por exemplo, a ideia é que o Senac faça um trabalho de melhoria. Fortaleza entra agora em uma nova fase turística e o Centro está inserido nisso, então esses pontos precisarão de qualificação", ressalta Alci Porto, destacando a relevância daquela área da Capital para a economia do Ceará.
Fluxo de pessoas é grande diferencial
Com um fluxo médio diário estimado em 350 mil consumidores, o Centro tem uma vocação natural para o comércio. “O Centro contempla a todos, o pequeno e o grande, ele é democrático”, resume o presidente da Federação das Câmaras dos Dirigentes Lojistas do Ceará (FCDL), Freitas Cordeiro. Além de receber as principais linhas de transporte público da Região Metropolitana, é passagem obrigatória para quem precisa se deslocar das zonas leste e oeste da cidade. “Qualquer negócio que seja uma passagem de pessoas como essa, a tendência é prosperar”, diz. “E, para o consumidor, há sempre a possibilidade de encontrar produtos de boa qualidade com preços mais baixos”.