Pequenos negócios batem recorde e geram 80% dos empregos no Ceará

Proporção registrada em fevereiro é inédita, segundo presidente do Sebrae

Das mais de 12 mil novas vagas de emprego criadas no Estado em fevereiro, em torno de 80% foram geradas por micros e pequenos negócios (MPE), com 9.961 vagas. Ao todo, no primeiro bimestre do ano, foram contabilizados 20.211 novos empregos formais pelos pequenos negócios.  

As informações são de um levantamento realizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), baseado nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério da Economia.  

Entre as MPEs, os setores de comércio, da indústria de transformação e de serviços apresentaram os maiores números, sendo este último o de maior destaque, com 3.840.  

A taxa, de acordo com Alci Porto, diretor técnico do Sebrae/CE, é inédita. “Nunca, mesmo antes da pandemia, o saldo de empregos gerados num período como esse (fevereiro de 2021) chegou a 80% no estado, girava sempre em torno de 60%. Isso mostra que, nesse momento de crise, quem emprega mais são os pequenos negócios”, explica.  

Além disso, considerando os números absolutos de vagas, o Ceará somente fica atrás da Bahia, na região Nordeste, que contabilizou 11.013 oportunidades. Ao nível nacional, o Ceará ficou em 10º lugar no ranking.  

Incremento de novos negócios 

Um dos fatores para esse dado foi o incremento da quantidade de micro e pequenas empresas que surgiram no ano passado. Dados da Junta Comercial do Estado do Ceará (Jucec), vinculada à Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho (Sedet), apontam que, em 2020, o estado contabilizou mais de 89 mil empresas abertas, sendo 82% registradas como Microempreendedor Individual (MEI).  

"Quando uma nova empresa se implanta há pelo menos um emprego gerado, porém, isso não significa que não estamos passando por uma crise ou que a pandemia tem ocasionado isso. Com a alta do desemprego, muitas pessoas acabam ficando sem saída e optam por empreender”, detalha Porto.  
Alci Porto
diretor técnico do Sebrae/CE

O diretor pontua ainda que o Sebrae, que trabalha diretamente com o apoio a esses pequenos negócios, realizou, em 2020, mais de 20 mil consultorias no Ceará para adaptar essas empresas ao mercado digital diante da pandemia. “Tornamos o faturamento delas mais forte e com uma demanda crescente, o que acabou gerando ainda mais postos de trabalho”, diz.  

Riscos   

No entanto, o diretor alerta para os riscos de quem empreende por necessidade e não por oportunidade. “Muitas dessas pessoas estão abrindo seus negócios pela necessidade de gerar renda. A dificuldade disso é que, pela urgência, o empreendedor se informa pouco, não se prepara adequadamente com relação à concorrência e tem uma tendência maior de riscos”.  

“Por isso, é preciso chegar nesses empreendedores para mostrar que montar um negócio pode ser fácil, mas manter-se no mercado é um grande desafio. Esses serviços de apoio são oferecidos gratuitamente pelo Sebrae”, acrescenta.  

Tendência nos próximos meses 

Embora esse saldo tenha se mostrado positivo, a tendência não deve se manter nos próximos meses, conforme Porto, pois vai depender de como a economia reage. “Essa taxa positiva é reflexo da nova safra de empresas do ano passado. Acreditamos que de abril a dezembro deverá ter um efeito muito forte dessa parada (das atividades econômicas presenciais), mas esperamos que não se prolongue”.  

“As empresas se endividaram no ano passado, muitas contraíram empréstimos e até agora o Governo não renovou os créditos, principalmente do Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte). Esperamos que essa e outras medidas sejam renovadas, como da redução e suspensão de contratos”, esboça.  

Médias e grandes empresas locais

O cenário é semelhante para as empresas de médio e grande porte cearenses, no entanto, o desempenho foi bem menor comparado ao das pequenas e médias, com 2.219 novas vagas. Apesar disso, com exceção da agropecuária, todos os setores apresentaram crescimento.  

Contudo, no acumulado do primeiro bimestre, a retração do número de empregos desse porte afetou médias e grandes empresas dos setores de serviços industriais de utilidade pública, de comércio e da agropecuária.  

Cenário nacional 

O saldo, no cenário nacional, também foi positivo. Ao todo, foram geradas 401.639 vagas em carteira e 68,5% delas são de responsabilidade dos pequenos negócios, ou seja, mais de 275 mil oportunidades. 

O levantamento mostra ainda que os setores de serviços, comércio e indústria de transformação foram os maiores geradores de empregos entre as MPE, considerando o primeiro bimestre. No caso das médias e grandes, o setor de comércio apresenta um saldo negativo de 24.626.