Para compensar perdas, Estado reduz gastos em R$ 1 bi em 2020

No primeiro semestre do ano, a arrecadação de ICMS sofreu uma queda de 20,7%, ante igual período de 2019. Com a redução da receita, por conta da pandemia do novo coronavírus, Governo decidiu ajustar as contas

Diante da queda na receita prevista ao longo do primeiro semestre, consequência dos impactos da pandemia do novo coronavírus, o Governo do Estado decidiu ajustar o orçamento previsto para 2020 em R$ 1,056 bilhão a menos, com a anulação de R$ 305,6 milhões em créditos do Poder Executivo e a substituição das fontes de R$ 750,3 milhões, valor que foi compensado pelo recebimento de verbas federais. A medida, prevista no Decreto n° 33.718, foi publicada no Diário Oficial do Estado (DOE) de 20 de agosto.

"A gente tinha previsão de receber ICMS e FPE e não aconteceu isso. Alguns valores foram repostos pelo Governo Federal, em torno de R$ 750 milhões, e os outros R$ 305 seriam de contenção de despesa. Esse valor de cerca de R$ 1 bilhão é o que o Estado pretende deixar de gastar", explica o secretário Executivo do Tesouro Estadual e de Metas Fiscais da Secretaria da Fazenda do Estado (Sefaz), Fabrizio Gomes.

Segundo ele, a expectativa a partir do segundo semestre deste ano é que a arrecadação volte ao normal. "Se a arrecadação e as receitas se comportarem melhor, não vai ser mais preciso cortar mais. Eu acredito que não precise cortar mais porque o pior já passou. A gente faz esse acompanhamento", diz.

Gomes ainda explica que a contenção de despesas está concentrada na redução de contratos de terceirização, além de itens que estão na resolução do Plano de Contingenciamento de Gastos do Comitê de Gestão por Resultados e de Gestão Fiscal (Cogerf), como a proibição de qualquer contratação de servidores públicos, terceirizados ou aumento do quantitativo de estagiários, com exceção da Secretaria da Saúde.

Refinanciamento

Quando questionado sobre o possível Refis, o secretário afirma que houve um direcionamento do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) para que na pandemia todas as dívidas pudessem ser renegociadas. "Ainda estamos fazendo essa análise. Não é obrigatório que aconteça (o Refis). Vai depender de estudos de projeção e de receitas. Acreditamos que isso vai melhorar e, se for viável, o Governo encaminha o projeto para a Assembleia".

"Achamos prudente fazer um decreto de ajuste orçamentário justamente para fazer esse equilíbrio, já que acompanhamos constantemente esse fluxo de receitas e despesas. O decreto tem esse intuito de ajuste. Nada impede que, lá na frente, a gente percebendo que as receitas voltaram ao normal, faça um novo ajuste. Sempre buscando o cumprimento das metas fiscais", acrescenta Gomes sobre as razões pelas quais o Governo decidiu editar o decreto n° 33.718.

O economista Alex Araújo avalia que o Governo está resolvendo dois terços do déficit projetado. "Com esse decreto o Estado está basicamente resolvendo dois terços desse déficit projetado: R$ 750 milhões são recursos recebidos do Governo Federal, em que ele faz a substituição de fontes, e R$ 305 milhões que ele está anulando, ele já não considera mais que esses R$ 305 milhões venham a fazer parte do orçamento do ano".

Como as alterações contemplam apenas R$ 1 bilhão de R$ 1,5 bilhão de receita frustrada, a expectativa é de que até o fim do ano, o Governo edite outros decretos no mesmo sentido. "O que fica em aberto são R$ 500 milhões que, ao longo deste segundo semestre, o Estado terá de equacionar, seja via cancelamento de anulação de despesa, como fez com os R$ 305 milhões, ou seja de uma eventual nova fonte que venha a receber, como fez com os R$ 705 milhões", avalia Alex Araújo.

Impactos da Covid

De acordo com o Governo, a medida considera "a atual crise ocasionada pelos efeitos da Covid-19, com impactos diretos na arrecadação estadual e nas transferências do Fundo de Participação da União para o Estado". Para janeiro a junho, o Governo previa arrecadação de R$ 5,979 bilhões de ICMS, mas só obteve R$ 4,742 bilhões, queda de 20,7%. Já a previsão de repasses do Fundos de Participação dos Estados (FPE) para o mesmo período, que era de R$ 3,101 bilhão foi de R$ 2,831 bilhões, queda de 8,7%. No total, a receita destas duas fontes foi 16,6% menor do que o previsto.

Ajuste por grupo

O Governo fez um ajuste de 3,5% do total de suas despesas (exceto intraorçamentárias), sendo de 4,2% das despesas correntes, de 7,1% de despesas com pessoal e encargos sociais e de 12,6% com juros e encargos da dívida.

Em volume de recursos, a maior parte do ajuste foi nas despesas correntes, com ajuste de R$ 1,03 bilhão, e com pessoal e encargos sociais, de R$ 900,3 milhões. Outros ajustes foram feitos nas despesas de capital, com R$ 17,9 milhões, e com amortização da dívida, também de R$ 17,9 milhões.

Diante da queda na receita prevista, causada pela pandemia do novo coronavírus, o Governo do Estado decidiu ajustar o orçamento previsto para 2020 em R$ 1,056 bilhão. Previsão de arrecadação para o 2º semestre é positiva