Oficialmente, a empresa têxtil catarinense Malwee está encerrando as suas atividades na sua unidade fabril em Pacajus, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), por conta do "plano estratégico da companhia, que visa otimizar suas operações e aumentar a eficiência produtiva, garantindo, assim, um crescimento contínuo e sustentável para o negócio".
Para o professor do programa de pós-graduação em Economia da Universidade Federal do Ceará (CAEN-UFC), João Mário de França, a movimentação da empresa "reforça os limites da política de atração de indústrias via o mecanismo de incentivos fiscais".
Ele comenta que, aparentemente, mesmo com os atuais incentivos fiscais concedidos, estes não teriam sido suficientes para manter operação em Pacajus. "Isso do ponto de vista de rentabilidade do negócio, dado que seus custos estão também atrelados ao dólar, que apresentou uma variação significativa esse ano dado o cenário externo e, principalmente, interno com a incerteza fiscal que o Brasil atravessa".
França reforça que com a reforma tributária aprovada esse instrumento de incentivo fiscal perderá cada vez mais força. Assim, o conjunto de outras vantagens comparativas que o Estado terá de apresentar nas negociações de atração de novos negócios precisará entrar mais no foco do governo.
Importante agora com a diminuição de potência desse mecanismo de incentivo fiscal, que a política de atração de indústrias e de serviços ocorra muito mais por políticas horizontais que aumentam as vantagens relativas do Estado, e que atinge a economia como um todo, do que olhando para cada setor especificamente que deseja atrair".
Ele cita como exemplos dessas políticas horizontais investimentos no avanço da qualidade da educação e formação profissional adequada as novas demandas do mercado e melhoria na infraestrutura (estradas, transmissão de energia, abastecimento de água, entre outros). Também é ponto importante ter uma logística que "facilite a vida do empresário interessado em implantar sua planta aqui para que ele possa escoar bem sua produção, além de uma melhor segurança pública".
Sem respostas
Sobre esse movimento de saída da Malwee do Estado, a reportagem procurou a Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) para saber como a entidade está tratando o caso e se foi procurada pela empresa catarinense. Além disso, como a Fiec avalia o contexto econômico dessa saída para a região metropolitana e para o Estado e como avalia a prospecção de novos negócios para o Ceará, entre outras questões. No entanto, todas ficaram sem resposta.
Município não consegue contato com a fábrica
A falta de comunicação e articulações entre governos e o setor produtivo ainda são barreira na economia local. Um exemplo disso é o exemplo desse caso em Pacajus, onde a prefeitura não foi comunicada, em nenhum momento, sobre o encerramento das operações da fábrica.
Quando esteve em Pacajus, na terça-feira (19), a reportagem procurou a administração municipal para saber que medidas estão sendo tomadas com relação à saída da empresa, que afetará diretamente a economia local. Recebidos pela secretária de Desenvolvimento Econômico, Elissandra Soares, ela afirmou que em nenhum momento a empresa procurou representantes do município para anunciar a saída.
Pegou a gente de surpresa. É muito difícil manter o contato com eles. Dizem que essa diretoria só consegui o número (de telefone) da portaria".
Porém, nesta quinta-feira (21), retomando o contato com Elissandra, ela afirmou que conseguiu marcar uma reunião com representantes da Malwee para a tarde de sexta-feira (22).
A secretária comenta que, sabendo por terceiros do fechamento, também se articulou e fez contato com uma representante da Vulcabras, por saber que "estão precisando de mais mão de obra". "O que a gente sabe é que o pessoal (colaboradores) não ficará desassistido".
Ela ainda revela que o município está disposto a auxiliar na prospecção de novas empresas. Porém, o prédio é da Malwee e está todo regular com os tributos do município. "Parece que eles estariam tentando arrendar e são essas informações que quero conversar com a direção da empresa para poder prestar apoio e suporte, tanto para o negócio quanto para os trabalhadores", reforça.
Sine deve atuar para minimizar desemprego na região
A fim de minimizar os impactos no final deste ano, com a dispensa de cerca de 300 pessoas, na sua grande maioria costureiras, a Secretaria estadual do Trabalho, afirma que "dará todo apoio aos trabalhadores por meio das ações do Sine (Sistema Nacional de Emprego)".
Além disso, o titular da pasta, Vladyson Viana, afirma que através da Secretaria de Desenvolvimento Econômico há uma prospecção de empresas para assumir o parque fabril ou para se instalarem na região. "Vale ressaltar que o Ceará continuará trabalhando para garantir uma estabilidade econômica que possibilite a expansão de novos negócios, bem como o apoio aos empreendedores e trabalhadores, sempre em busca da expansão e melhoria da qualidade dos empregos para os cearenses".
Viana reforça que todo o esforço já resultou na expansão dos postos de trabalho no setor. Isso porque, segundo os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo CAGED), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), de janeiro a setembro de 2024, a indústria cearense foi responsável pela criação de 13.939 postos de trabalho formais – o triplo do realizado no mesmo período do ano passado (4.454).
Malwee afirma esforço para amparar colaboradores
Por meio de sua assessoria de comunicação, o grupo Malwee reforçou que, agora, seus esforços estão concentrados no compromisso com seus colaboradores, "oferecendo a todos a possibilidade de realocação em vagas disponíveis em empresas da região".
"Por isso, cinco grandes companhias estarão na unidade fabril de Pacajus, apresentando suas oportunidades de trabalho. Além disso, a empresa também oferecerá um treinamento de preparação para entrevistas e confecção de currículos. Com isso, o Grupo Malwee busca assegurar a continuidade das carreiras dos colaboradores, dando o suporte necessário para o desenvolvimento profissional".
Proprietária de toda a estrutura, em Pacajus, o grupo catarinense afirma que "a estrutura do prédio está em negociação, podendo ser vendida ou alugada".
O que diz o Governo do Ceará
A reportagem demandou o Governo do Estado sobre quais ações estariam endo feitas para minimizar os impactos do fechamento destes 300 postos de trabalho na economia local. Em nota, a Secretaria do Desenvolvimento Econômico do Estado (SDE), e a Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece) afirmam que estão trabalhando em parceria com a Malwee "com objetivo de minimizar os impactos causados pelo encerramento das atividades da empresa no Ceará".
"A ação conjunta preza prioritariamente continuidade na geração de empregos e o aproveitamento da mão de obra qualificada existente no parque fabril em Pacajus. Para tanto, o Governo do Ceará e a Malwee estão em contato com empresas interessadas em assumir a estrutura fabril e os postos de trabalho locais. Além de empresas do segmento têxtil e de confecções, investidores de outros setores têm demonstrado interesse na apropriação da fábrica. O Governo do Ceará, por meio do Sistema de Desenvolvimento Econômico, reitera o esforço e comprometimento pela geração de emprego e renda, garantindo dignidade para a população cearense".