O mês de setembro é o momento de alavancar o mercado cearense com o envio de frutas, principalmente, para a Ásia e a para a Europa. O período é conhecido como a temporada das exportações do produto por englobar, entre outras, as safras do melão e da melancia, os líderes de vendas no Estado.
No ano passado, o Ceará foi o terceiro maior exportador desse tipo de alimento no País (US$ 178 milhões), atrás apenas de Pernambuco (US$ 244 milhões) e da Bahia (US$ 191 milhões). Para esse ano, contudo, há o temor de que a guerra da Rússia contra a Ucrânia, questões logísticas e outros motivos impactem negativamente.
Ocorre que os conflitos no leste europeu elevaram o custo da produção do alimento em razão das altas dos fertilizantes para o cultivo, por exemplo. Diante das circunstâncias, o que esperar para a temporada das exportações de frutas em 2022?
Especialistas do setor preveem cenário positivo. Entretanto, a entidade representante acredita na possibilidade de queda entre 15% a 20% do volume de vendas.
Veja as projeções dos especialistas para a temporada das exportações da frutas
A gerente do Centro Internacional de Negócios da Federação das Indústrias do Estado (Fiec), Karina Frota, destaca que, tradicionalmente, o 2º semestre é o melhor período para as exportações cearenses.
Outro ponto, analisa, é a preocupação mundial com um estilo de vida mais saudável, incluindo frutas e verduras à dieta diária, puxando a procura pelo produto cultivado no Ceará.
Nesse contexto, para Frota, apesar dos problemas ocasionados pela guerra e o aumento do custo do frete no início do ano, a expectativa é de volume de comercializações similares ou superiores ao ano passado.
“Conseguimos enfrentar essas dificuldades em 2021. Tudo indica que 2022 será positivo, com o mesmo patamar ou crescimento das vendas”, projeta.
“Além disso, temos informações de demanda crescente. Portanto, acredito que, com o momento econômico atual mais organizado e disponibilidade de frete mais adequada, teremos um bom resultado”, avalia, acrescentando também haver uma diversificação dos mercados consumidores, como o europeu.
No primeiro semestre deste ano, o Ceará exportou US$ 30.084.740. Mais da metade do valor vendido partiu do melão (US$ 16.541.8070), seguido da melancia (US$ 4.421.722), segundo a Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas).
Confira a lista dos maiores exportadores de frutas em 2021:
- Pernambuco: US$ 244 milhões;
- Bahia: US$ 191 milhões;
- Ceará: US$ 178 milhões;
- Rio Grande do Norte: US$ 167 milhões;
- São Paulo: US$ 160 milhões;
- Rio Grande do Sul: US$ 79 milhões;
- Pará: US$ 49 milhões;
- Santa Catarina: US$ 34 milhões;
- Espírito Santo: US$ 31 milhões;
- Paraná US$ :18 milhões.
O especialista em comércio exterior e CEO da JM Negócios Internacionais, Augusto Fernandes, lembra que, apesar do conflito, a Rússia segue sendo uma grande compradora do alimento, importando do Brasil 70% das frutas consumidas no país.
Em relação às tensões entre a China e Taiwan, ele não considera a possibilidade de fortes efeitos negativos ao mercado asiático, que é um grande comprador de frutas cearenses.“Ela não tem terreno para produzir isso. Com a guerra, o alimento passa a ser quase ouro, então, a tendência é aumentar”, afirma.
“Sempre há impacto, não importa o nível do conflito, mas se tratando de alimentos, frutas, que são um bem de rápido consumo, de urgência, assim como os medicamentos, mesmo em época de tensões e conflitos, têm livre passagem, porque os exércitos e a população precisam”, explica.
“Por isso, os armadores (donos das embarcações) monitoram os portos para checar a passagem dos navios. E, até agora, não houve nenhum incidente com navios ou portos fechados. O fluxo continua normal. Se, porventura, algum porto fechar, isso sim pode causar um gargalo logístico”, completa.
Fernandes aponta que a redução recente do preço dos combustíveis pode favorecer a melhora no fluxo da logística nos portos do Mucuripe e do Pecém, reduzindo a cobrança do serviço e facilitando as negociações.
Abrafrutas prevê queda das exportações de algumas frutas nesta temporada, mas retomada em 2023
Já o sócio da Agrícola Famosa e diretor institucional da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), Luiz Roberto Barcelos, enumera que as altas dos fertilizantes, da energia, das embalagens e a queda do euro elevaram a cifra do produto.
Neste cenário, estima, poderá haver redução de 15% a 20% das vendas do melão e da melancia no Ceará. Em relação às demais frutas, a previsão é alcançar os mesmos valores de exportações de 2021.
“Precisamos repassar uma parte desse aumento de custo para o importador europeu porque não é fácil…Por conta disso, os pedidos vieram menores. Está todo mundo cauteloso”, pondera.
“O valor do frete marítimo quase triplicou nos últimos dois anos, mas a qualidade do serviço piorou. Os navios estão atrasando, por exemplo, e tudo isso afeta a qualidade da fruta e faz com que o pessoal tenha medo dos volumes serem muito grandes e depois não ter como transportar”, observa.
Barcelos calcula, todavia, que a situação seja normalizada a partir de 2023.