A senhora já afirmou que o Brasil precisa explorar melhor os principais ativos de competitividade turística, como a natureza. Como a senhora avalia que o Ceará pode ser inserido nesse contexto? Que ativos nós temos aqui, além de praias?
O Ceará, assim como todos os estados litorâneos, tem muito mais a oferecer aos turistas internacionais do que apenas o turismo de sol e praia. O ecoturismo e o turismo de aventura são opções que atraem um grande número de turistas estrangeiros. Uma das medidas é a criação de produtos turísticos específicos que ofereçam esse contato com a natureza exuberante do Estado aliados à riqueza cultural. Esse tipo de roteiro integrado tem forte apelo no exterior. O turista internacional é cada vez mais adepto do turismo de experiência que envolve, em um único destino, o máximo de vivências, sensações e atrações possíveis. Neste contexto, o visitante quer conhecer a natureza, mas também a cultura local, o artesanato e degustar a gastronomia. Além disso, é fundamental potencializar a promoção desses produtos e atrativos diversificados. Com mais informação e mais investimentos em divulgação no exterior, o número de visitantes tende a crescer de forma regular.
O Parque Nacional de Jericoacoara é atualmente um dos mais visitados no País. Qual a avaliação da senhora em relação a este destino?
O Parque de Jericoacoara é mais uma prova da vasta riqueza natural do País que, se bem trabalhada, pode gerar impactos econômicos no setor de turismo. No ano passado, análise da Euromonitor International, apontou crescimento de 11,5% no número de turistas nas unidades de conservação federais. O estudo estima que, em 2018, o País alcance o número recorde de 8,6 milhões de turistas nos parques nacionais.
O País tem sinalizado a intenção de desenvolver o turismo nos parques. No fim do ano passado, a Embratur, os ministérios do Meio Ambiente (MMA) e do Turismo e o ICMBio assinaram um acordo de cooperação para desenvolver o turismo ecológico em unidades de conservação federais. A medida será integrada à promoção da diversidade sociocultural e da proteção da biodiversidade nessas áreas. Além disso, a prática do Ecoturismo garantirá a inclusão social com a participação das comunidades situadas nas áreas de influência e incentivará a estruturação de produtos turísticos nas regiões atendidas.
Outro caminho decisivo para esse aumento está no avanço dos processos de concessão de serviços de apoio à visitação nas unidades de conservação. No Brasil, atualmente, são 324 unidades de conservação que abrangem 9% do território nacional. Dessas, 72 são Parques Nacionais, localizados em todas as unidades da federação, totalizando cerca de 26 milhões de hectares. Desse total, apenas quatro têm contratos de concessão estabelecidos: Foz do Iguaçu (PR), Tijuca (RJ), Fernando de Noronha (PE) e Serra dos Órgãos (RJ).
Em junho, o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) anunciou que mais sete unidades de conservação terão serviços de apoio à visitação concessionados. É preciso deixar claro que não se trata de privatização dos parques, mas sim a viabilização de uma visitação mais profissionalizada e com melhoria na infraestrutura e desburocratização. A concessão é um dos caminhos para fomentar a visitação e melhoria dos serviços das unidades, além de ter toda atenção voltada para preservação ambiental e a sustentabilidade.
Com um aeroporto na região e melhoria de infraestrutura, Jeri poderia ter mais destaque nacional e internacional?
A melhoria da infraestrutura e a qualificação dos serviços são fundamentais para que o destino tenha ainda mais destaque. A inauguração do aeroporto há pouco mais um ano é importante, pois facilita o acesso ao destino. Atualmente, o turista nacional e, principalmente, o internacional escolhem destinos que ofereçam facilidades como rápido acesso e que apresentem menos obstáculos, como exigência de visto, por exemplo. O aeroporto é mais um grande equipamento que facilita a vinda desse turista e aumenta significativamente a competitividade do destino na região.
O turismo de eventos também é outro foco da Embratur. Como o Ceará pode se destacar nos cenários nacionais e internacionais nesta área?
O segmento MICE (Meetings, Incentives, Conferences and Exhibitions) é estratégico, pois combate a sazonalidade do turismo, fator intrínseco à atividade. Com a captação de mais eventos desta natureza, a cadeia produtiva do setor se mobiliza e pode colher frutos econômicos durante todo o ano e não depender economicamente de uma grande temporada de verão, por exemplo.
O Estado tem, no Centro de Eventos do Ceará, um equipamento para atender a essa demanda. É preciso continuar o trabalho de captação de eventos e criar novas alternativas. Metrópoles do exterior, como Nova Iorque e Toronto, firmaram parcerias para atrair congressos juntas e aproveitar o crescimento deste segmento no mundo.
Grandes cidades brasileiras e até mesmo do continente sul-americano podem seguir esse exemplo e trabalhar de forma integrada para receber mais eventos, feiras e convenções e, consequentemente, mais turistas internacionais.
E o turismo de negócios? Há potencial no Estado? Quais os atrativos do Ceará neste segmento?
O turismo de negócios é outro segmento que o Estado do Ceará tem potencial para desenvolver e movimentar a economia local. Operadoras do setor já preparam pacotes com roteiros específicos que podem aumentar o tempo de permanência no destino desse turista que viaja a trabalho. É muito positivo esse trabalho, já que o turista de negócios utiliza por mais tempo a infraestrutura turística do Estado, o comércio e a prestação de serviços locais, além de ser um dos perfis de turista com maior média diária de gastos.
Quanto a Embratur dispõe para investir na divulgação do Ceará? Que recursos a Embratur tem para investir no Ceará? E em quais áreas?
A Embratur não realiza investimentos em destinos específicos, mas sim na promoção do Brasil. Contudo, sempre que há possibilidade de ação conjunta, apoiamos o Ceará, como foi o caso da FIEXPO, em maio deste ano, em Santiago do Chile, quando realizamos um encontro com mais de 150 operadores de turismo, a fim de apresentar o potencial do Estado na organização de eventos, congressos e feiras.
O que fazer para o Ceará participar de mais feiras no exterior e no Brasil?
A Embratur divulga editais de chamamento público para seleção dos coexpositores do estande do Brasil nas feiras internacionais previstas na Agenda de Promoção Comercial do Turismo Brasileiro no Exterior de 2018. É preciso que as empresas e entidades públicas e privadas interessadas em promover produtos e destinos brasileiros no estande da Embratur acompanhem as novidades no site do instituto. É importante salientar que somente empresas e entidades públicas e privadas cadastradas no Sistema de Controle de Inscrições em Eventos (SCIE) do Instituto poderão se inscrever em qualquer das feiras. As feiras fazem parte da estratégia de promoção e apoio à comercialização em mercados prioritários de 2018 e a participação dos estados é muito importante para aumentar a capilaridade dos destinos e alcançar novos mercados. O Estado do Ceará tem participação frequente em nossas ações nas feiras internacionais.
O Ceará iniciou há alguns meses o funcionamento do hub da Air France-KLM e Gol no Aeroporto de Fortaleza. Que benefícios o Estado pode ter com a instalação de um centro de conexões? Que impactos isso traz para o turismo local e regional?
Iniciativas desta natureza são salutares e visam utilizar mais intensamente o Ceará e a Região Nordeste como porta de entrada para turistas internacionais. Somos um país continental e podemos receber turistas do mundo todo em diversas regiões. É importante descentralizar essa operação, que ocorre com mais intensidade no Rio de Janeiro e São Paulo, e levar para outras regiões do Brasil, especialmente com voos low costs (baixo custo) que estimulam ainda mais o ingresso de estrangeiros no Estado. Além disso, a localização geográfica privilegia o Nordeste, que fica a poucas horas de importantes países emissores de turistas da Europa e dos Estados Unidos.
O visto eletrônico tem crescido muito. Já é possível saber para onde este turista está indo?
Não temos dados consolidados sobre quais destinos os turistas que utilizaram da facilidade do visto eletrônico têm visitado. Entretanto, é importante lembrar que a facilitação dos vistos fez disparar o numero de solicitações pelo documento para turistas dos países beneficiados - Estados Unidos, Canadá, Japão e Austrália. O fato comprova uma tendência que os turistas cada vez mais procuram destinos de fácil acesso e menos barreiras ou obstáculos. Hoje, o visto eletrônico é emitido em até 72 horas e custa US$ 40,00. O processo habitual dura cerca de três meses, ao custo de US$ 150. A Organização Mundial do Turismo prevê que a iniciativa pode aumentar em até 25% o fluxo turístico entre os países. No Brasil, nestes seis meses de implantação, tivemos um incremento de 41% de pedidos de visto para estes quatro países. É um resultado extremamente significativo que indica que temos que avançar e estender para outros países, entre eles Índia e China.
Quais as prioridades na sua gestão na Embratur voltadas para o Nordeste?
O Nordeste é uma região de grande potencial para o turismo internacional. Temos trabalhado para criar condições para melhorar a competitividade dos nossos produtos turísticos para fazer com que os estrangeiros escolham passar suas férias no Nordeste brasileiro ao invés de irem ao Caribe, por exemplo. Temos potencial para absorver essa demanda e, para isso, um tema é muito importante - a conectividade aérea. É muito importante o investimento no setor aéreo para o aumento de rotas e abertura de portas de entrada de turistas internacionais em todo o nosso extenso território.
Quais cidades/estados são mais estratégicos para a gente explorar as potencialidades turísticas no Nordeste?
As cidades que recebem voos internacionais são estratégicas para a recepção de turistas internacionais. Além disso, o Nordeste tem diversidade de atrativos em todos os estados. Cada um, a sua maneira, tem potencial para trazer turistas estrangeiros que procuram diferentes segmentos da atividade. O fator cultural é outro trunfo da Região. Poucos países têm a diversidade de manifestações culturais que apenas essa região do Brasil oferece. O crescimento do turismo internacional na Região é essencial para transformar todo esse potencial em recursos para os estados e municípios. O turismo tem essa capacidade de retorno rápido de investimento, além de ser uma indústria limpa, capaz de gerar desenvolvimento sustentável, com impacto econômico nos comércios locais e nos empreendimentos, além de gerar mais empregos.