Impulsionado pelo programa Minha Casa, Minha Vida e pelos imóveis de luxo, o mercado imobiliário do Ceará deve fechar 2024 com movimentação recorde de R$ 8 bilhões em vendas. O cenário para o próximo ano, entretanto, é de preocupação, devido ao aumento na taxa de juros.
O crescimento do setor consolida o Ceará como o principal estado do Nordeste para o mercado imobiliário, avalia Tibério Benevides, presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Ceará (Creci-CE).
“O Valor Geral de Vendas (VGV) com certeza vai bater R$ 8 bilhões, entre loteamentos, lançamentos, imóveis do Minha Casa, Minha Vida em todo o Ceará. Tivemos grandes grifes assinando imóveis em Fortaleza, sempre conhecida por imóveis do alto padrão”, afirma.
Em Fortaleza, a região entre Aldeota e Meireles seguiu o protagonismo no mercado de luxo. Outros bairros também ganharam destaque, como Cocó, Luciano Cavalcante, Guararapes e Fátima.
A projeção do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon-CE) é que, apenas na Região Metropolitana de Fortaleza, o setor imobiliário movimente R$ 7 bilhões em 2024.
O volume de vendas de janeiro a outubro já foi o maior da história, chegando a R$ 6,2 bilhões - 27% maior que o do mesmo período de 2023. O destaque foram as cidades do entorno da Capital, que tiveram crescimento de 46% na venda de imóveis: foram 3.385 unidades vendidas até novembro.
Em Caucaia, 2 mil unidades foram vendidas até novembro. “É um número significativo para a cidade, já que Fortaleza, por exemplo, vendia 2,4 mil unidades por ano e vem Caucaia e, praticamente, se iguala ao patamar da capital”, analisa Sérgio Macedo, diretor de estatística do Sinduscon-CE.
Patriolino Ribeiro, presidente do Sinduscon-CE, destaca que os resultados inéditos são fruto de um cenário de estabilidade econômica e iniciativas públicas e privadas de acesso ao crédito habitacional.
"Fortaleza continua sendo o motor do setor, mas cidades como Eusébio, Caucaia, Maracanaú e Aquiraz vêm ganhando destaque. Esses municípios têm atraído investimentos devido à infraestrutura crescente, proximidade da capital e à busca por qualidade de vida em ambientes mais tranquilos e acessíveis", afirma.
FORTALECIMENTO DO MINHA CASA, MINHA VIDA
O movimento de alta do mercado cearense acompanha o cenário nacional de valorização do programa federal Minha Casa, Minha Vida, afirma o empresário do segmento e vice-presidente da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec).
O orçamento do MCMV bateu recorde em 2024 e chegou a R$ 127,6 bilhões. O Ceará teve o setor econômico ainda mais fortalecido devido ao programa Entrada Moradia Ceará, segundo o empresário.
A política subsidia R$ 20 mil para o pagamento da entrada do imóvel financiamento nas faixas 1 e 2 do MCMV. O programa é destinado a famílias com renda mensal de até R$ 4.400. Até dezembro, 3 mil dos 10 mil contratos disponíveis foram assinados, segundo o governo estadual.
Com o aumento na demanda do programa habitacional, construtoras precisaram antecipar lançamentos. O programa tem mais de 5.800 unidades cadastrados nas cidades de Aquiraz, Caucaia, Eusébio, Fortaleza, Horizonte, Itaitinga, Juazeiro do Norte, Maracanaú, Pacatuba e São Gonçalo do Amarante.
“Foi uma iniciativa que impulsionou o mercado. Não só vamos utilizar todo recursos disponibilizados pela Caixa, o que não acontecia nos outros anos, como tivemos que pedir mais recursos”, afirma Montenegro.
O empresário ressaltou a capacidade do MCMV de interiorizar o mercado imobiliário cearense. A região do Cariri e de Sobral estão entre as que ganharam força nos imóveis do programa.
MERCADO PODE DESAQUECER EM 2025
O fluxo de vendas intenso no mercado imobiliário cearense deve enfrentar um obstáculo em 2025: a alta dos juros. Nesta semana, a taxa Selic - taxa básica de juros da economia brasileira - foi elevada em um ponto percentual pelo Banco Central.
A instituição projeta que a taxa sofra duas novas elevações e chegue a 14,25% em março. Como as taxas de financiamento acompanham a Selic, a tendência é que a contratação de imóveis diminua com os altos juros, afirma André Montenegro.
O desaquecimento do setor deve afetar principalmente o segmento médio, já que os compradores de alto padrão são menos sensíveis aos preços e o segmento econômico tem mais subsídios governamentais.
“A classe média já estava sofrendo. E com certeza vai ser mais penalizada com as mudanças da taxa de juros, porque o mercado vai se desaquecer, já que os investimentos tendem a ser retirados da poupança”, explica.
O mercado de venda de imóveis também deve começar a sentir os efeitos das mudanças realizadas pela Caixa Econômica Federal nas regras de financiamento para imóveis de até R$ 1,5 milhões. A instituição passou a exigir entrada de 30% do preço total e endureceu as normas para imóveis usados.
Já Tibério Benevides não descarta que o setor siga o fluxo de alta nas vendas e termine 2025 com um novo recorde.
“Sempre trabalhamos com o crescimento. O Brasil é um país surpreendente. Com todas as dificuldades que já passamos nos últimos 40 anos, já navegamos muitas marés e sempre crescems. As vezes dá uma 'paradinha' no meio dos meses, mas no final dos doze meses sempre é melhor do que o ano anterior”, projeta o presidente do Creci-CE.
Patriolino Ribeiro reitera que o setor deve continuar relevante e resiliente em 2025, principalmente devido à confiança do consumidor e a manutenção de programas habitacionais.