Era novembro de 2020, em meio à pandemia do coronavírus, quando Ely Carvalho e Vitória Carvalho decidiram começar sua marca de homewear - roupas de ficar em casa, em tradução livre. As vendas começaram a ser realizadas pelo Instagram e pelo WhatsApp, já que o momento ainda era instável quando se tratava de retorno das atividades presenciais.
Os meses foram passando, a empresa foi crescendo e, com a consolidação da reabertura da economia, as empreendedoras viram, no fim do ano passado, que era hora de estar em um ponto físico. “Comecei a perceber que as clientes de Fortaleza tinham dúvidas sobre tamanho e queriam conhecer o nosso produto de perto”, explica Ely.
Apesar do crescimento da empresa, os custos que envolvem a concretização de um ponto físico tradicional ainda eram um empecilho para a Nalla Homewear. “Nossa marca ainda estava começando e para montar uma estrutura era muito oneroso. Vi no Instagram uma loja colaborativa, me reuni com as donas do negócio e vi que a ideia delas se encaixava perfeitamente no nosso propósito”, afirma Ely.
Para elas, as vantagens são muitas. Afinal, a loja colaborativa permite que os lojistas rateiem custos. “E o cliente de uma outra marca passa pela nossa e acaba conhecendo a gente, então tem uma possibilidade muito maior de intercâmbio de clientes. É um local que impulsiona marcas locais, pequenos empreendedores”.
É a melhora nas vendas percebida pela Nalla Homewear depois de irem para uma loja colaborativa. Atualmente, os consumidores compram pelo Instagram (40%), pelo site (30%) e o restante o faz na loja física.
A articuladora da Unidade de Competitividade dos Negócios do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Ceará (Sebrae/CE), Alice Mesquita, pontua que estar em uma loja colaborativa proporciona não apenas um intercâmbio de clientes, mas também um rico compartilhamento de vivências.
“O espaço colaborativo promove uma troca de experiência entre os expositores. O empreendedor conhece outras empresas e muitas vezes essa convivência possibilita parcerias. Esse compartilhamento de conhecimento é interessante para o crescimento de ambos”, diz Alice.
Pioneirismo no Ceará
A Ely e a Vitória expõem seus produtos na Elabore, loja colaborativa com dois espaços localizados na Aldeota e no Shopping RioMar, em Fortaleza. A Elabore foi pioneira no Ceará atuando no modelo colaborativo, após a ideia de Larissa Praxedes e de sua sócia, Raquel Praxedes, sair do papel há oito anos.
“Nós vimos esse modelo e em 2013 começamos a estudar com advogados, com contadores, para ver se era viável. Buscamos o Sebrae na época e em 2014 nós abrimos com 35 marcas”, explica Larissa. Hoje, a Elabore trabalha com 80 empreendedores.
Para vender na loja colaborativa, é imprescindível estar registrado como pessoa jurídica. “É necessário ter todas as notas fiscais de produtos, estoque para deixar na loja e também é preciso que a marca faça o seu marketing”, detalha. No espaço, todos os custos são rateados e é cobrada uma taxa fixa mensal mais os custos variáveis, que são impostos, taxa de cartão e antecipação.
“É importante que a marca faça coquetéis de coleção, que promova eventos dentro de loja, aproveitando o espaço. Nós disponibilizamos estúdio de fotografia e espaço de convivência para reuniões”, detalha a sócia-proprietária da Elabore.
Para professor Christian Avesque, atrativos como esses dentro da loja colaborativa são bons pontos de observação para que o empreendedor escolha em qual espaço compartilhado ele deseja estar, já que se traduzem em comodidade para o trabalho e atração de consumidores, alavancando os negócios.
Uma loja colaborativa pode/deve ter:
- Áreas "instagramáveis";
- Espaço para customização de produtos;
- Local para workshops e palestras;
- Espaço para lançamentos de coleções, desfiles;
- Ponto de entretenimento/convivência.
Fonte: Professor Christian Avesque
“As lojas colaborativas não devem ser vistas como apenas um ponto de venda, mas de relacionamento, de entretenimento. Deve ser um espaço onde os consumidores se sintam acolhidos. Elas podem contar, por exemplo, com áreas ‘instagramáveis’, customização de produtos, espaços para workshops e lançamentos”, detalha Avesque.
Outros pontos a serem observados é que, na avaliação dele, é importante que as lojas e empresas dentro do espaço compartilhado possuam uma proposta de valor, um posicionamento e um mercado semelhante.
Exemplo: eu não posso ter uma marca de uísque com uma de fraldas no mesmo ambiente. Elas não vão conversar. Também é interessante que as marcas da loja compartilhada tenham um orçamento conjunto para comunicação, captação e cadastramento de clientes
‘Phygital’
Se a pandemia forçou as marcas a estarem no ambiente online, a retomada das atividades presenciais instituiu no varejo a existência da palavra phygital (do inglês physical + digital). “Não existe mais isso de quem está no online fica só no online e quem é do físico fica só no físico. É um movimento que não tem mais volta”, contextualiza Avesque.