A interferência do presidente Jair Bolsonaro para suspender o aumento de 5,7% no preço do diesel, anunciado pela Petrobras, tem gerado instabilidade no mercado. A estatal perdeu R$ 32,4 bilhões em valor de mercado com a queda de 8,54% das ações na Bolsa. Para especialistas do setor energético e do mercado financeiro, a preocupação é que medida se torne frequente.
De acordo com o sócio da V8 Capital, gestora de recursos, a reação na Bolsa de Valores pode ser vista de forma generalizada nas ações das estatais brasileiras. "Isso tem a ver com a questão da própria governança corporativa da Petrobras. Um Governo que se entrega como liberal não pode tomar medidas populistas", diz Filipe Albuquerque.
Segundo ele, não há impacto econômico imediato com o congelamento do valor do diesel por mais dias. No entanto, a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) estima que a Petrobras terá um prejuízo de cerca de R$ 14 milhões por dia, levando em consideração o volume médio de vendas do combustível em 2018. O reajuste, de 5,7%, elevaria o preço do combustível dos atuais R$ 2,1432 para R$ 2,2662.
O consultor na área de petróleo e gás, Bruno Iughetti, explica que o aumento revogado leva em consideração a variação do preço do barril de petróleo no mercado internacional e a variação cambial. "O Governo Federal, preocupado com uma possível retaliação de nova greve dos caminhoneiros, resolveu intervir nesse aumento suspendendo por tempo indeterminado. Mas o que mais preocupa é que essa segunda paralisação é apenas uma suposição e já estamos vendo interferências governamentais", pontua.
Segundo Iughetti, chegará um momento que não será mais possível segurar o preço e o repasse será maior. "O momento é para reavaliar a carga tributária que incide sobre os combustíveis, que chega a 45% da composição. A alternativa é rever as alíquotas do PIS (Programa de Integração Social), Cide (Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico) e Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social)", propõe.
Contrapartida
No sentido contrário, o setor supermercadista se tranquiliza com o congelamento. "Assim, a gente tem uma garantia de que não vai ter reajuste no frete. Seria bom se conseguissem manter nesse patamar", afirma o vice-presidente da Associação Cearense de Supermercados (Acesu), Nidovando Pinheiro. Ainda assim, ele admite ficar preocupado com uma nova paralisação.
Repercussão
Questionado sobre o assunto, Bolsonaro disse que não é intervencionista. "Não sou economista, já falei que não entendia de economia, quem entendia afundou o Brasil, tá certo? Estou preocupado também com o transporte de cargas no Brasil". O ministro da Economia, Paulo Guedes, sugeriu que não foi informado sobre a decisão.