Inflação da Capital chega a 10,53%

O avanço mensal de Fortaleza foi o terceiro maior do País, ficando atrás apenas de Curitiba e Campo Grande

Pela quarta vez em 2015, a inflação mensal de Fortaleza cresceu acima de 1%. Isso porque o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de novembro da Capital, divulgado ontem pelo IBGE, avançou 1,27% ante outubro, o maior resultado desde março de 2015, quando o índice teve alta de 1,57% - maio e janeiro também registraram resultados acima de 1%. Com tanta pressão, acaba não sendo surpresa o fato de a inflação da cidade, no acumulado do ano, já ter alcançado o patamar de 9,83%, o maior valor da série histórica do IBGE. Além disso, em 12 meses, o IPCA de Fortaleza já bateu os dois dígitos, atingindo 10,53%.

O avanço mensal da inflação de Fortaleza em novembro também foi um dos mais elevados entre todas as capitais analisadas pelo Instituto. Para se ter uma ideia, somente Goiânia (1,44%) e Campo Grande (1,29%) registram índices maiores do que a Capital cearense, que ficou, portanto, na terceira colocação nacional. Além disso, o resultado local ficou, inclusive, acima da média nacional para o período, que foi de 1,01%.

No ano, a inflação da Capital cearense já é a quinta maior do País, atrás apenas de Curitiba (11,31%), Porto Alegre (10,31%), Goiânia (10,22%) e São Paulo (10,18%).

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O que mais subiu

Entre os cinco produtos e serviços que mais ficaram caros em Fortaleza ao longo deste ano, nenhum conseguiu superar o alho, que em 11 meses subiu 50,47%. Completam o ranking do reajuste na Capital os jogos de azar (47,5%), a energia elétrica residencial (37,29%), o açúcar cristal (31,8%) e o feijão-carioca, que ficou 30,25% mais salgado para os consumidores.

Na outra ponta da tabela, as passagens aéreas caíram 44,01% em Fortaleza no acumulado do ano, ante o mesmo período do ano passado. Uma explicação é a base de comparação elevada, posto que em 2014 a Capital cearense foi uma das sedes da Copa do Mundo e viu a demanda por passagens subir junto com os preços. Farinha de mandioca (-10,68%), hotel (-10,28%), CD e DVD (-9,48%), além da bolsa, (-8,83%) também caíram.

Indexação

O reajuste de contratos indexados à inflação levará a novos aumentos expressivos em 2016 de itens que integram o IPCA, lembrou ontem a coordenadora de índices do IBGE, Eulina Nunes dos Santos. Nacionalmente, o índice acumulado em 12 meses chegou a dois dígitos em novembro, quando alcançou 10,48%.

"A gente tem vários itens que são reajustados por contrato, como, por exemplo, os planos de saúde. Dessa forma, isso vai provocar aumento forte em alguns produtos e serviços no ano seguinte", ressaltou Eulina Nunes.

A coordenadora do indicador reconheceu que há uma questão psicológica que induz a aumentos espalhados de produtos e serviços em um cenário de inflação alta. Ela, porém, afirma que o quadro atual não é comparável à época da hiperinflação. "Ainda está muito longe de comparar à hiperinflação, pois naquela época não havia parâmetro", diz.

Os combustíveis lideraram em novembro o ranking de maiores impactos sobre a inflação do País, segundo o IBGE. A alta chegou a 4,16%, o equivalente a um impacto de 0,21 ponto porcentual no IPCA de 1,01% do mês. O litro da gasolina ficou 3,21% mais caro para o consumidor, com contribuição de 0,13 ponto porcentual para a inflação.

Opinião do especialista

Medidas clássicas sem efeito

A aceleração da inflação neste fim de ano é bastante preocupante, ainda mais se lembrarmos que o País já está com todos os instrumentos clássicos de política monetária ativos. Em outras palavras, apesar da taxa básica de juros elevada (14,25% ao ano), da restrição ao crédito e dos cortes de gastos do governo, ainda estamos vendo a pressão inflacionária avançar, o que é alarmante. Em Fortaleza, por exemplo, a inflação já atingiu patamares muito altos, já que ultrapassou os dois dígitos no acumulado dos últimos 12 meses, atingindo 10,53% em novembro. Isso significa que as pessoas estão 10,53% mais pobres ante o mesmo mês do ano passado, o que impacta diretamente no orçamento familiar. A consequência disso é uma queda no potencial de consumo, na qualidade de vida e, aos poucos, na empregabilidade. Além disso, ainda vivemos um momento de muita instabilidade política no País, o que tem deixado a pauta econômica para segundo plano. Assim, fica difícil ter projeções positivas para 2016.

Alex Araújo
Economista