'Foi uma pena que o Copom manteve os juros, porque quem perde é o Brasil', diz Lula sobre a Selic

Comitê de Política Monetária decidiu manter taxa Selic, interrompendo sequência de sete reduções

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou a manutenção da taxa de juros básica do Brasil pelo Copom e afirmou que “quem perde é o povo brasileiro”. A declaração foi dada em entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste e à Rádio Verdinha 92.5 nesta quinta-feira (20), em Fortaleza. 

“Foi uma pena que o Copom manteve [a taxa de juros] porque quem está perdendo com isso é o Brasil, é o povo brasileiro. Quanto mais a gente pagar de juros, menos dinheiro a gente tem para investir aqui dentro. Isso tem que ser tratado como gasto”, disse o presidente na primeira declaração após a decisão do Banco Central.

Lula elevou novamente o tom ao falar do presidente do Banco Central, Roberto Campos Netos, a quem se referiu como 'aquele cara'. O mandatário também questionou a autonomia do Banco Central.

Eu fui presidente 8 anos, o presidente da república nunca se mete nas decisões do Copom e do Banco Central. O [Henrique] Meirelles tinha autonomia comigo tanto quanto tem esse rapaz hoje. Só que o Meireles, era um cara que eu tinha um poder de tirar, com o Fernando Henrique Cardoso tirou tantos. Aí resolveram entender que era importante colocar alguém que tivesse autonomia. Autonomia de quem? Autonomia para servir quem? Autonomia para atender quem?
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República

Lula afirmou que o pagamento de juros pela União, que foi de R$ 790 bilhões em 2023, também deveria gerar preocupação no mercado como outros gastos públicos. “Se você pegar os investimentos de crédito, vai perceber que os grandes créditos são feitos pela Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, BNB e BNDS. Porque os bancos privados preferem ganhar dinheiro com as altas taxas de juros”, disse.

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu pela manutenção da taxa Selic em 10,5% na reunião realizada nesta quarta-feira (19). A decisão quebrou uma sequência de sete reduções seguidas na taxa básica de juros do Brasil.

Lula visita Fortaleza para anunciar investimentos em Habitação e Educação, incluindo a inauguração do residencial Cidade Jardim III. Essa é a terceira visita do mandatário ao Ceará em seis meses. 

Lula já havia criticado a atuação de Roberto Campos Neto, nesta semana, antes da reunião do Copom. “Um presidente do Banco Central que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país que para ajudar o país”, disse em entrevista à rádio CBN na terça-feira (18).

O presidente afirmou o comportamento do Banco Central é a 'única coisa desajustada no Brasil neste instante'. O petista defendeu a redução da taxa de juros e defendeu que a inflação está 'totalmente controlada'. 

Confira entrevista na íntegra

MANUTENÇÃO DA TAXA DE JUROS

O Copom decide o comportamento da taxa Selic a cada 45 dias, em reunião colegiada. A decisão mais recente de manter a taxa foi unânime e se deve à adversidade do ambiente externo e o dinamismo maior que o esperado no cenário doméstico, segundo o Copom. 

“A inflação cheia ao consumidor tem apresentado trajetória de desinflação, enquanto medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes”, aponta a nota.

O comitê ressaltou que identifica fatores de risco para a inflação em ambas as direções - alta e baixa. “O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional seguem mais incertas, exigindo maior cautela na condução da política monetária”, afirma. 

NOVO MANDATO DO BANCO CENTRAL

Lula também se posicionou recentemente sobre o próximo comando do Banco Central. O mandato de Roberto Campos Neto se encerra no fim do ano e cabe ao Presidente da República indicar o sucessor, que também será aprovado pelo Senado Federal.

A pessoa escolhida deve ter compromisso com o desenvolvimento do País, segundo Lula. “Na hora que eu tiver que escolher o presidente do Banco Central vai ser uma pessoa madura, calejada, responsável, alguém que tenha respeito pelo cargo que exerce e alguém que não se submeta a pressões de mercado, e que faça aquilo que for de interesse de 213 milhões de brasileiros”, disse.