Tendo ultrapassado a cotação de US$ 66 mil em dezembro do ano passado, o Bitcoin passa por sucessivas quedas em 2022. A criptomoeda já acumula queda de 38% no ano e caiu a níveis abaixo de US$ 30 mil na última semana.
A queda da criptomoeda tem relação com uma instabilidade geral no mercado de renda variável, diante do aumento global nas taxas de juros e uma maior atratividade da renda fixa.
Mesmo com a queda de metade do valor de mercado desde o pico, especialistas consideram que os princípios da criptomoeda se mantêm e que o investimento vale a pena caso o foco seja o longo prazo.
Bitcoin em queda
Por princípio, as criptomoedas são ativos com muita volatilidade, o que significa que o preço pode subir ou descer de forma brusca em um curto intervalo de tempo. Essa característica torna o investimento bastante vulnerável a mudanças no mercado.
Para o especialista em criptomoedas e CEO da Liqi, Daniel Coquieri, já era de certa forma esperado que o Bitcoin tivesse quedas depois dos picos em 2020 e 2021, anos em que a taxa de juros esteve em mínima histórica.
No ano passado, todos os bancos centrais injetaram muito dinheiro na economia, muita liquidez. Isso obviamente favoreceu muito o mercado de ativos de renda variável, como Bitcoin e a bolsa. E a agora, dada a inflação no mundo inteiro, eles estão enxugando essa liquidez com a alta de juros, faz o dinheiro mover do que é variável para a renda fixa".
Conforme o especialista o COO da Brasil Bitcoin, Vinicius BItzer, a alta do Bitcoin não é justificada por nenhum fator isolado, mas sim por uma série de acontecimentos específicos que levaram a um sentimento de medo no mercado.
“Teve a guerra na Ucrânia que, como era um período de incerteza, o Bitcoin teve um período de liquidação em massa. No começo do ano, começou rumores de que iria haver uma alta na taxa de juros dos Estados Unidos”, pontua.
Nas últimas semanas, o movimento de queda é explicado em parte pelo colapso da Terraluna, um ecossistema de criptoativos para stablecoins. Devido a um erro de administração, a Luna, que era a criptomoeda padrão desse sistema, caiu mais de 99% em um dia, o que trouxe instabilidade para o mercado.
Por mais que o Bitcoin não esteja diretamente ligado à Luna, Bltzer analisa que deve demorar um tempo até que o investidor volte a ter segurança no mercado.
“A moeda Luna estava no top 10 de principais criptoativos e, em um dia, caiu mais de 99%, foi para o top 200. Ela valia 100 dólares e agora vale menos de 1 centavo. Para o mercado recuperar essa confiança vai demorar um pouquinho, por conta dessa insegurança que o investidor ficou, principalmente se tiver perdido mais com a Terra”, destaca.
Investimento a longo prazo
O desenvolvedor de jogos Marcelo Aragão, de 24 anos, investe em Bitcoin desde 2017 e já esperava que fosse haver uma queda. Mas, como os aportes são feitos com foco no longo prazo, ele conta que a baixa vertiginosa não o abalou.
A gente investe e sabe que o Bitcoin 'sobe caindo', porque toda vez que aparece uma notícia de queda do Bitcoin, é sempre um “caiu” para um valor maior do que a última notícia".
O investidor não chegou a vender nada de Bitcoin da sua carteira, baseada 50% na criptomoeda. Ele tem planos de, pelo contrário, comprar mais da moeda enquanto ela ainda está em baixa.
Como Marcelo espera resgatar o dinheiro investido só daqui a 5, 10 ou 15 anos, as quedas ao curto prazo não têm tanta importância.
“É uma tecnologia que eu acho muito legal, muito boa, os princípios são interessantes. Acredito que daqui há um tempo esteja mais difundida e o preço aumente”, projeta.
Momento de oportunidade
Vinicius aponta que, apesar da queda, os princípios do Bitcoin e de outras criptomoedas não mudaram e, portanto, é esperada uma valorização de longo prazo. Portanto, esse é um momento de oportunidade para quem quer ingressar no mercado.
Esse é um momento de oportunidade como jamais vista. Para quem é do mercado, isso é uma promoção excelente. Caso você compre Bitcoin agora e ele volte para o patamar anterior, por mais que demore 2 ou 3 anos, vai ter um lucro considerável".
Ele avalia que por mais que a criptomoedas passe por quedas, o gráfico de desempenho é uma crescente ao longo dos anos.
“Embora o Bitcoin caia muito esse ano, o valor mínimo continua maior que o valor mínimo do ano passado, todos os anos isso acontece. Se olhar no curto prazo de fato tem caído muito, mas no longo prazo a crescente é infinita”, garante.
Coquieri ressalta, contudo, que mesmo que seja um bom momento para comprar Bitcoin, o investidor deve investir com cautela. O indicado é fazer aportes pequenos aos poucos, e não comprar tudo de uma vez.
Ele alerta que quem quer entrar no mercado deve ter em mente que ele funciona em ciclos de altas e baixas. É importante ter um perfil de investimento que suporte uma maior volatilidade na carteira.
“O mercado vai continuar sofrendo esses movimentos dos bancos centrais com relação a juros, faz com que o dinheiro corra para os investimentos de renda fixa. É um momento de incerteza, o mercado no curto prazo vai continuar volátil e com um viés de baixa”, espera.