Tendo resultado em gastos de aproximadamente R$ 650 milhões, por parte do tesouro estadual, a expectativa de instalação da refinaria da Petrobras Premium II gerou uma série de outros custos, muito mais difíceis de serem contabilizados, os quais envolvem desde as despesas com aluguel e alimentação de trabalhadores de outros estados, até o planejamento de comerciantes que apostavam no início das obras neste semestre.
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"A empresa tem um terreno bem próximo de onde ia ser a refinaria. A ideia era que a gente criasse uma nova loja lá", relata o vendedor Kevin Moreira, que trabalha em uma das lojas que fornecem ferramentas e equipamentos de proteção individual no Pecém.
Ele conta que o estabelecimento, que conta hoje com cinco funcionários, havia planejado contratar até dez novos empregados para atender à demanda. Segundo o vendedor, a movimentação na loja têm se mantido devido à construção da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) e das obras de ampliação do Porto do Pecém.
Entretanto, destaca, o início da refinaria garantiria a continuidade da procura, após a conclusão da siderúrgica, evitando que o segmento ficasse desaquecido. "Seria o ideal, porque quando acabasse uma, a outra começava", frisa. A previsão da CSP é que as obras sejam concluídas até o fim deste ano.
Imóveis
Outro setor que avançou vertiginosamente nos últimos anos, no Pecém, e foi impactado pelo cancelamento da Premium II; o segmento de imóveis sofreu com a desvalorização provocada nas últimas semanas. Logo após o anúncio da Petrobras, de que não pretendia mais construir a usina, os preços de terrenos, aluguéis e condomínios à venda próximos à área reservada à estatal caíram, acentuadamente.
Proprietário de um terreno localizado ao lado da área isolada para a refinaria, o comerciante Ricardo Teixeira conta que as ofertas para adquirir o terreno - que já haviam chegado a R$ 4 milhões - caíram para valores 75% menores.
"Aí você vê como foi um baque grande pra gente. Depois desse cancelamento, mudou muita coisa", declara, lamentando o impacto negativo que o cancelamento da Premium II causou sobre os negócios dele.
Setor público
No caso do poder público, os principais gastos com a refinaria foram ligados à infraestrutura. A área foi adquirida pelo governo do Estado, na gestão do ex-governador Cid Gomes, por R$ 126 milhões. O terreno integra a retroárea do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp) e fica a 10km do porto. Os custos ligados à refinaria também envolvem a construção da reserva indígena Taba dos Anacés, orçada em R$ 30 milhões.
A reserva, de aproximadamente 543hectares, irá abrigar 163 famílias indígenas, que foram removidas das antigas casas para ceder espaço às obras. Além das residências, o espaço inclui posto de saúde, escola e abastecimento de água e eletricidade. No último mês, a Secretaria de Infraestrutura do Estado (Seinfra) anunciou que 25% das obras estavam concluídos. (JM)