O Ceará recebe, nesta segunda-feira (16), representantes de empresas alemãs interessadas em comprar futuramente derivados do Hidrogênio Verde. O grupo visitará o Complexo do Pecém e a planta da usina de Hidrogênio Verde da EDP, instalada em São Gonçalo do Amarante.
A delegação é organizada pela Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo (AHK São Paulo) no âmbito do projeto H2Brasil, que integra a Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável e é implementado pela Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH e pelo Ministério de Minas e Energia (MME) e financiado pelo Ministério Federal da Cooperação Econômica e Desenvolvimento (BMZ) da Alemanha. Integram a comitiva representantes de empresas e órgãos responsáveis pela transição energética de diversas regiões do país germânico:
- NRW.Energy4Climate: agência de fomento de energias renováveis do estado da Renânia Vestfália
- CAMPFIRE: consórcio para pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias de conversão e armazenamento de energia baseadas em amônia verde
- RWE TI, empresa subsidiária da RWE, quinta maior geradora de energia da Europa
- Hydrogen Hamburg, cluster de hidrogênio verde da região Hamburgo
- Ministério da Economia, Transporte, Construção e Digitalização da Baixa Saxônia, estado do Norte da Alemanha
As entidades foram escolhidas considerando a necessidade de difundir estratégias e relações comerciais sobre o hidrogênio verde na Alemanha. Segundo Alessandro Colucci, Diretor de Internacionalização de Empresas e Desenvolvimento de Negócios da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo e diretor da comitiva, os potenciais compradores têm focos específicos em conhecer as iniciativas do setor no Ceará.
O consórcio CAMPFIRE e o cluster Hydrogen Hamburg buscam sobretudo achar fornecedores de amônia verde, utilizada para a descarbonização do transporte marítimo. Já a agência NRW, localizada em um coração industrial do país, busca neutralizar as emissões dos processos siderúrgicos.
Colucci destaca que a visita é pode ser pontapé para que o Ceará se consolide como um fornecedor de Hidrogênio Verde para a Alemanha. Decisões sobre investimentos no Estado cabem a cada empresa e devem ser tomadas posteriormente. O objetivo atual da comitiva é prospectar o mercado e firmar relações.
“Não se exclui que uma empresa possa pensar em algum investimento. Mas isso é muito mais para frente. O primeiro passo é se informar, criar laços, ter uma certa confiança no mercado, para depois poder pensar em investimentos. O primeiro passo é muito mais um mapeamento e identificação de parceiros”, aponta o diretor.
O grupo também deve visitar o Centro de Competência de Transição Energética do instituto Senai do Ceará, para conhecer as iniciativas voltadas à qualificação profissional do setor. Na quarta-feira (18), a delegação alemã parte para São Paulo, onde participará do Hydrogen Dialogue Latin America.
Ceará está na dianteira
O Ceará foi escolhido para a visita da comitiva alemã por sua posição estratégica na corrida pelo hidrogênio verde. O Estado se destaca pela planta no Complexo do Pecém e a quantidade de Memorandos de Entendimento firmados para produção de energia limpa.
A localização privilegiada, com a menor distância para a Europa, e a grande capacidade energética também tornam o Estado atraente para empresas interessadas nos derivados do HV.
A parceria do porto cearense com o Porto de Roterdã, na Holanda, o maior marítimo da Europa, também é significativa para a boa avaliação do Ceará. A Alemanha pode ser beneficiada inclusive pela proximidade com o equipamento holandês, já que recursos que chegarem ao porto podem ser transportados por tubulações entre os dois países.
“O Ceará está na frente. É um trabalho muito sério que o governo do Estado está fazendo para desenvolver essa nova cadeia de valor. O Porto do pecém está na dianteira em relação às declarações de intenção e vemos que lá existe uma dedicação muito séria para implementação de hidrogênio verde”, destaca Colucci.
Parceria entre Brasil e Alemanha
A missão empresarial foi organizada no âmbito da H2Brasil, projeto que busca apoiar a expansão do mercado de hidrogênio verde no País. São realizadas ações para fortalecer o mercado no Brasil em cinco frentes: regulamentação, disseminação de informações, capacitação e recursos humanos, inovação e expansão econômica.
O projeto inaugurou uma planta piloto de hidrogênio verde em Itajubá, a primeira de Minas Gerais. Também são construídas parcerias com empresas e instituições de pesquisa do País, como universidades e o Senai.
Um dos focos é viabilizar a descarbonização de setores cruciais, como o de transporte, de fertilizantes, metalúrgico e de alimentos, segundo Marcos Oliveira, coordenador do segmento de Expansão do mercado de hidrogênio verde do projeto. Ele destaca que a missão do projeto é iniciar a cadeia de produção, intermediando a relação entre empresas e cooperando com os entes públicos para a regulação.
“Tem um vasto campo para dialogar, para apoiar o desenvolvimento, a integração de cadeias, geração de oportunidades. É tudo muito vivo. Se por um lado a gente tem análises das consultorias internacionais que apontam para o Brasil como um potencial player de produção.pelo potencial de energia renovável e diversos fatores, por outro lado, a gente tem desafios do ponto de vista regulatório. Os investidores querem saber como as coisas vão realmente funcionar”, reitera.
Na corrida pela transição energética, A Alemanha quer neutralizar as emissões de carbono até 2045, cinco anos antes do prazo definido pela União Europeia. Como tem baixo potencial produtivo, 90% do hidrogênio necessário para o país deve ser importado, segundo Alessandro Colucci.
O Brasil está entre as principais fontes do elemento, assim como países do sul da Europa, norte da África e do Oriente Médio. “Existe uma forte aposta nessa internacionalização, de criar uma nova rede de fornecimento, e o Brasil está muito bem posicionado”, afirma responsável pela internacionalização de negócios da cooperação Brasil-Alemanha.