Apesar de facilitar a realização de transações financeiras, o uso do Pix ampliou o número de fraudes.
Empreendedores cearenses relataram ao Diário do Nordeste que sofreram o golpe do ‘Pix falso’, em que o suposto cliente envia comprovantes de pagamento adulterados para as empresas. Em um caso, a conta total foi de R$ 402 e o depósito foi de apenas R$ 0,01.
A situação foi vivida pela empreendedora Sarah Yarina Carvalho, que comanda uma loja de maquiagem e outros itens de beleza, no mês de abril, quando uma cliente iniciou o pedido pelo WhatsApp comercial do comércio.
“Começou pedindo fotos e valores dos produtos, alegando que seria para entrega. Até então, tudo certo. Ela foi escolhendo os itens, sem se preocupar com os valores. Após finalizar as escolhas, ela escolheu pagar no Pix e mandou o endereço completo para a entrega”, conta.
Contudo, após enviar os dados para que a mulher fizesse a transferência, Sarah foi notificada de um depósito de R$ 0,01 na conta. Em seguida, a cliente enviou um comprovante de pagamento com o valor total da compra (R$ 402,80).
No momento que o Pix demorou a cair e no formato do comprovante eu comecei a estranhar. Quando fomos comparar com outro real comprovante do banco que ela fez o pagamento, percebemos que o mesmo tinha sido editado no Instagram”.
A tentativa de outro golpe sofrida em 2020 fez Sarah ficar em alerta para não ter prejuízos e, por isso, confere diretamente na conta bancária toda transferência que recebe.
“Se não caiu, não liberamos a mercadoria. Falamos com ela, informamos que o pagamento não tinha caído, ela alegou que o valor tinha saído sim da conta dela, e que ia ligar para o banco para tentar entender o que houve”, diz. Porém, a situação não foi resolvida e Sarah cancelou a venda.
‘Aconteceu 8 vezes com a mesma pessoa’
Já Clara Menezes, dona de uma hamburgueria, relata que não chegou nem a receber depósito algum por parte de um cliente específico, que realizou oito pedidos em dias diferentes. O total do prejuízo já soma mais de R$ 250.
Tem dias que são muitos corridos e não tenho como verificar se o depósito via Pix foi feito. Isso aconteceu oito vezes com a mesma pessoa, mesmo endereço, aí estranhei o comprovante porque estava meio borrado. Fui olhar a conta e o dinheiro não caiu, não constava nada”.
De acordo com a empreendedora, os pedidos eram feitos de números de telefone diferentes e a pessoa utilizava nomes distintos, mas o endereço para a entrega dos produtos era sempre o mesmo.
“Todos os comprovantes que a pessoa me enviou eram falsos, fui cobrar e a pessoa não me responde mais. Um dia, ela me mandou um áudio falando para eu não me preocupar e que ia resolver. Às vezes botava para pagar no dinheiro, mas, quando o motoboy chegava, dizia que não estava em casa ainda e ia mandar o Pix e não mandava”, acrescenta.
Munida das informações sobre a suposta cliente, Clara conta que foi orientada a prestar um boletim de ocorrência para registrar formalmente a denúncia.
Cliente falso pode ser preso
O advogado e professor de Direito Penal da Universidade Federal do Ceará (UFC), Daniel Maia, explica que a ocorrência é um caso clássico de estelionato, que se caracteriza como “a obtenção de uma vantagem ilícita mediante um instrumento ilusório, que passa sensação de verdade”.
Conforme Maia, o cliente pode ser indiciado por estelionato e, caso comprovado o delito, pode pegar uma de um a cinco anos de prisão. “Esse cliente pode ainda estar fazendo isso com outras empresas”.
Por isso, o advogado recomenda que, caso um empreendedor seja vítima de golpes como esses, procure a Delegacia de Defraudações e Falsificações (DDF), da Polícia Civil, para registrar uma denúncia formal apresentando todos os dados possíveis que possa comprovar o ilícito.
Além disso, é importante que o empreendedor sempre verifique os depósitos realizados antes de liberar as mercadorias para se resguardar de possíveis prejuízos com pagamentos.