Com capacidade atual para absorver mais linhas móveis do que já possui e um ritmo de adesão considerado satisfatório, a tecnologia 4G, implantada há dois anos no Brasil, parece ter conseguido escapar do estigma de mau funcionamento herdado das redes 3G. Essas vantagens, contudo, ainda não foram suficientes para popularizar esse tipo de conexão, processo que deve levar, pelo menos, mais quatro anos.
> Defesa do Consumidor possui expectativa futura negativa
Segundo dados do Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal (Sinditelebrasil) e da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), as linhas 4G somam 7,72 milhões de acessos no País, número que representa apenas 2,74% de toda a telefonia móvel no Brasil. No Ceará, essa proporção é ainda menor, de apenas 1,51%, sendo porém a terceira maior do Nordeste, atrás de Pernambuco e da Bahia.
Cenário do passado
“Quando completamos dois anos de 3G, tinha menos adesões do que o 4G tem hoje. Essa tecnologia vai ganhar um volume grande, mas ainda vai levar uns quatro ou cinco anos para alcançar isso”, projeta o presidente da Teleco, empresa de consultoria em telecomunicações, Eduardo Tude. Hoje, explica ele, ainda estamos na migração forte do 2G para o 3G. O principal empecilho para uma expansão mais acelerada da quarta tecnologia entre os usuários, defende Eduardo Tude, é o preço dos smartphones adaptados à rede, que ele diz ser muito elevado.
No entanto, os aparelhos com 4G custam, em média, a partir de R$ 700, valor considerado alto pelo especialista.
Aprendizado
Os problemas técnicos e de cobertura enfrentados pelos usuários de 3G e pelas próprias operadoras, acrescenta o presidente da Teleco, serviram como uma espécie de aprendizado para que a qualidade da nova tecnologia não deixe a desejar.
“O problema do 3G foi porque ele não tinha rede com capacidade, e hoje as operadoras estão botando novos circuitos, as redes estão com capacidade livre para o 4G”, garante.
Fortaleza e Aquiraz, os únicos municípios que possuem cobertura 4G no Ceará, contam com 476 Estações Rádio Base (ERBs) que permitem o acesso a esse tipo de rede, segundo a Anatel.
Antenas suficientes
Considerando que o Estado possui 181.234 pessoas conectadas a essa tecnologia, a proporção é de 380 usuários por antena, número que abre um espaço confortável para a adesão de mais usuários, uma vez que a quantidade ideal máxima é de mil usuários por cada base –proporção estabelecida durante a Comissão Partlamentar de Inquérito (CPI) da telefonia, instituída no ano passado pela Assembleia Legislativa do Ceará.
É importante ressaltar que o total de usuários no Ceará inclui aqueles que, mesmo residindo em áreas sem cobertura 4G, contratam um plano, usam o 3G como tecnologia principal e usufruem da outra velocidade apenas quando estão próximos de uma antena adaptada para isso.
Alcance
Atualmente, a quarta geração de dados de telefonia móvel abrange 42,55% da população e deve chegar, até o fim do ano, em todas as cidades com mais de 200 mil habitantes, atendendo a uma exigência estabelecida pela Anatel. Até dezembro de 2017, o 4G deve estar disponível em todos os municípios com mais de 30 mil habitantes, ainda segundo a Agência.
Opinião do especialista
Melhoria depende de mais investimentos
O Brasil é líder de 4G não somente na América do Sul, como em toda a América Latina. Isso pela maior cobertura, maior número de usuários, de linhas de transmissão, superando o líder histórico em banda larga que sempre foi o Chile. Já em relação à qualidade, este é um assunto muito complexo. As causas de problemas de telefonia são inúmeras, e algumas vezes externas às empresas, como acidentes, por exemplo. Mas é claro que os serviços ainda precisam melhorar muito. Contudo, é importante destacar que, em nenhum lugar do mundo, há clientes de telefonia totalmente satisfeitos. Na Europa, por exemplo, as companhias são muito criticadas em uma região, mas elogiadas em outras. E a melhoria dos serviços só poderá se dar com mais investimentos e, para que as operadoras possam investir, é preciso que tenham autorização para colocar essa infraestrutura.
José Otero
Dir. 4G Américas para América Latina e Caribe
Jéssica Colaço
Repórter