O Conexão ODS, realizado na semana passada no complexo Beach Park, na Grande Fortaleza, contou com duas startups premiadas no Desafio Inovação com Impacto. A jornada classificaram oito negócios do Norte-Nordeste com soluções para problemas ambientais e sociais, na esteira das políticas ESG (sigla para ambiental, social e governamental). Os selecionados foram EcoCiclo e AfroSaúde, ambas de Salvador, na Bahia, e com foco na população negra e periférica.
Os oito negócios que participavam eram todos da região Nordeste, sendo quatro da Bahia, dois do Rio Grande do Norte, um do Ceará e um de Pernambuco. As empresas realizaram o pitch, apresentação curta de três a cinco minutos, onde foram avaliados sobre os projetos e a relevância seguindo as políticas dos Objetivos de Desenvolvimento (ODSs), em um dos últimos eventos do Conexão.
Cada um dos selecionados recebeu R$ 50 mil para investir na expansão das iniciativas. O Desafio é uma realização da Somos Um em parceria com o Pacto Global da ONU, alinhados com as metas dos ODSs.
DIGNIDADE MENSTRUAL
Uma das startups selecionadas foi a EcoCiclo. Fundada em 2018 no programa ProLíder do Instituto Four, a empresa consiste na fabricação de absorventes biodegradáveis por mulheres em situação de vulnerabilidade.
“A EcoCiclo luta pelo fim da pobreza menstrual que atinge uma em cada quatro meninas no Brasil que como reflexo perdem pelo menos 45 dias de aula, segundo a UNICEF. Esse problema também é ambiental, por isso, trabalhamos para substituir os absorventes convencionais que demoram 500 anos para se decompor”, diz o material de apresentação da startup no Conexão ODS.
Os dados do EcoCiclo em 2023 incluem:
- Geração de renda para mais de 50 mulheres;
- Mais de 3,1 mil mulheres impactadas;
- Mais de 1 mil absorventes vendidos;
- Seis empresas atendidas.
A liderança da EcoCiclo se mantém nas mãos das três fundadoras: Hellen Nzinga, CEO da startup; Adriele Menezes, diretora operacional e engenheira química; e Patrícia Zanella, diretora de marketing. Elas estiveram em Fortaleza na última semana e destacaram a importância de um evento dessa magnitude fora do eixo Sul-Sudeste.
“Foi muito importante ganhar esse prêmio, principalmente por ser um evento no Nordeste direcionado às ODSs da ONU. Foi importante porque foi um espaço para apresentarmos mais sobre o nosso trabalho, o problema dos absorventes de plástico e como a gente impacta a vida e saúde de mulheres e pessoas que menstruam no Brasil”, exalta Hellen Nzinga.
A utilização de mão-de-obra de mulheres da periferia de Salvador para a produção do material contempla ainda, segundo Adriele Menezes, a inserção de pessoas que não têm tantas oportunidades em um mercado de trabalho com menor número de oportunidades formais.
“Nosso produto foi pensado para ser produzido por mulheres em situação de vulnerabilidade com a missão de gerar renda para elas e também promover educação e autocuidado. Nosso objetivo e sonho é que essas mulheres se emancipem financeiramente e que a gente leve o absorvente para que mais mulheres conheçam o nosso produto e aprendam a cuidar da sua saúde”, pondera a diretora operacional.
De acordo com Patrícia Zanella, a escolha de absorventes biodegradáveis produzidos por mulheres periféricas não foi aleatória. A diretora de marketing da EcoCiclo relembra que as três fundadoras da startup também vieram de comunidades de Salvador, e podem mudar a realidade de outras pessoas com a iniciativa.
Como mulheres da periferia, vemos de perto a dificuldade de mulheres se inserirem ou reinserirem no mercado de trabalho, principalmente após se tornarem mães, tiveram mais de 50 anos ou forem negras. Infelizmente muitos não dão oportunidades para essas mulheres terem acesso à renda e a um trabalho digno. EcoCiclo existe para ser esse sim que vai permitir com que cada mulher possa sonhar mais alto e conquistar os seus sonhos.
SAÚDE DE QUALIDADE PARA NEGROS
Segunda selecionada dentre as startups, a AfroSaúde mantém o público afro-brasileiro como protagonista. A empresa, fundada em 2018 por Igor Leo Rocha e Arthur Lima, enxergou na deficiência do sistema de saúde tradicional uma oportunidade para atender com qualidade essa parcela da população.
“A AfroSaúde surge a partir de experiências pessoais dos fundadores, que enxergaram desafios tanto para o lado do profissional de saúde, quanto do paciente, dificuldade de acesso aos profissionais negros, principalmente para abordar questões relacionadas à raça, bem como a falta de diversidade no mercado de trabalho para pessoas negras da saúde”, pontua Igor Leo Rocha, CEO da startup.
“Entendemos que criar um espaço onde os profissionais negros da saúde pudessem ser visibilizados e pacientes que buscam um atendimento mais direcionado era pertinente. Desde 2019, pensamos em democratizar esse acesso, sempre tendo como foco a diversidade, com atenção especial às pessoas negras. Atendemos também empresas que querem atuar de forma mais incisiva nas políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I) com programas de saúde mental, com processos seletivos afirmativos, consultorias e outros serviços”, completa.
Em quatro anos, a AfroSaúde tem os seguintes números:
- Mais de 7 mil clientes cadastrados na plataforma;
- Mais de 1,8 mil profissionais;
- Mais de 3 mil consultas realizadas;
- Mais de 1 mil atendimentos de saúde mental em empresas;
Entre os grandes clientes da AfroSaúde, estão companhias como Mondelez, Nubank, Amil (Grupo UGH), 99jobs, Google for Startups, BASF, Kenvue (Johnson & Johnson), de acordo com dados no site da plataforma.
Com os R$ 50 mil do Desafio Inovação com Impacto, a meta da startup é crescer exponencialmente até 2030. O objetivo é focar na saúde mental de funcionários de empresas, com atendimento personalizado e acessível.
O prêmio vai nos auxiliar no planejamento da escalabilidade desse produto para empresas, focado em saúde mental, com a redução de stress, aumento da qualidade de vida e produtividade. Já impactamos mais de 1.000 pessoas desde que começamos e a meta é, até 2030, alcançar 70.000 pessoas com a aplicação da nossa Metodologia Aya nas empresas.