Diesel a R$ 5 aperta ganhos das transportadoras e gera onda de aumento de preços

Custos com o diesel devem ser repassados aos consumidores nos próximos meses, em diversas categorias de produtos

Com o preço do litro do óleo diesel chegando aos R$ 5 no Ceará, as empresas transportadoras já sentem os impactos na operação diante do alto custo com o combustível. Parte importante dos custos fixos, a despesa deve ser repassada aos consumidores. 

De acordo com o diretor do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logística do Ceará (Setcarce), Marcelo de Holanda Maranhão, os preços têm impactado significativamente nos custos das empresas, já que nos últimos 12 anos o óleo diesel subiu 53%. Com isso, a alta é repassada principalmente para o comércio e a indústria.  

“Apesar disso, não estamos repassando integralmente o aumento de custo, porque o comércio não tem conseguido absorver. Acabamos por absorver uma parte e repassado algo em torno de 23 a 25%”.  
Marcelo de Holanda Maranhão
diretor do Setcarce

Conforme levantamento realizado pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural de Biocombustíveis (ANP) entre 12 e 18 de setembro, o valor médio do litro do óleo diesel no Ceará ficou em R$ 4,94 e o do diesel S10, em R$ 4,87. 

“O combustível representa 10% dos nossos custos, então qualquer aumento no diesel já aumenta nossos custos fixos e variáveis, o que impacta diretamente nos nossos lucros”, afirma Vinicius Gerland, analista de processos da VB Express, empresa cearense que oferece transporte de cargas e encomendas.  

Para Carlos Eduardo Figueiredo, proprietário da Ceará Transportes, o aumento de centavos já é suficiente para afetar a operação. “Hoje, o combustível representa 21% do custo da operação daqui. A cada aumento somos surpreendidos com o preço do óleo diesel. Além disso, o sindicato, neste ano de 2021, aumentou de forma justa o salário dos funcionários do setor".  

Produtos devem aumentar de preço 

Consequentemente, produtos que dependem do modal rodoviário – praticamente todos – para o transporte devem sofrer com aumento de preço. Conforme o diretor do Setcarce a elevação não é tendência, é necessidade.  

“A gente precisa repassar sob pena de não conseguir executar nossa tarefa que é transportar todas as necessidades e riquezas do país. Todos os modais se comunicam com o modal rodoviário. Precisamos repassar o mínimo para que tenhamos sustentabilidade nas nossas operações, consequentemente quem vai pagar essa conta no final é o consumidor”, ressalta.  

Na empresa de Figueiredo, o próximo mês já deve ser de reajustes com 17 empresas para as quais presta serviço, já que além do aumento da gasolina, os custos com pneu, baú de caminhão, óleo lubrificante também sofreram altal. "Chega uma hora que não dá e o pior: vejo que nessas empresas também está apertado”. 

O economista Ricardo Coimbra, presidente do Conselho Regional de Economia Ceará (Corecon-CE), pontua que, dessa forma, será dificultada a comercialização de produtos, pois não diminui somente a margem de lucratividade do segmento como um todo, mas também de uma parcela de trabalhadores autônomos e individuais que recebem um percentual daquele frete.  

“Em alguns casos, fica inviável o frete, fica difícil o transporte. Isso repassando para o preço final acaba diminuindo a demanda por alguns produtos o que deve gerar perdas para empresas e motoristas".  
Ricardo Coimbra
economista

Impacto inflacionário 

Coimbra destaca ainda que esse processo tem como consequência um crescimento inflacionário. “A produção do produtor industrial que recebe isso de forma significativa e é repassada ao consumidor, parte desse processo inflacionário que estamos observando nos últimos meses é um reflexo dessa elevação e desse repasse para a cadeia produtiva”.  

De acordo com o economista, caso o nível do preço do combustível se mantenha ou haja novas elevações, os consumidores podem esperar novos impactos nos preços dos produtos, principalmente nos alimentos.  

Por isso, Coimbra ressalta a importância de se ter, ao longo dos próximos anos, uma melhora na infraestrutura dos modais de produção. “Usar os modais marítimos para escoar a produção interna, finalizar a Transnordestina, investir em modais mais eficientes como acontece na maioria dos países. Quando você faz isso, há um barateamento do custo, dos transportes das mercadorias”, aponta.