São Paulo. Na primeira reunião após as eleições e a penúltima no ano, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) surpreendeu e decidiu subir ontem a taxa básica de juros para 11,25% ao ano. O BC havia indicado nos últimos meses não pretender mexer nos juros e, por isso, o resultado não era esperado pela maioria dos analistas.
A decisão não foi unânime: foram cinco votos pelo aumento e três pela manutenção. Para o Comitê, desde sua última reunião, entre outros fatores, a intensificação dos ajustes de preços relativos na economia tornou o balanço de riscos para a inflação menos favorável. À vista disso, o Comitê considerou oportuno ajustar as condições monetárias de modo a garantir, a um custo menor, a prevalência de um cenário mais benigno para a inflação em 2015 e 2016.
Votaram pela elevação da taxa Selic para 11,25% o presidente do BC, Alexandre Tombini e os diretores Aldo Luiz Mendes, Anthero de Moraes Meirelles, Carlos Hamilton Vasconcelos Araújo e Sidnei Corrêa Marques. Votaram pela manutenção da taxa Selic em 11% Altamir Lopes, Luiz Awazu Pereira da Silva e Luiz Edson Feltrim.
Posições contrárias
Enquanto a Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP) comemorou a alta dos juros, afirmando que o risco de alta da inflação não foi eliminado, as indústrias fluminenses desaprovaram a medida. A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) defendeu que a alta dos juros não é solução para um quadro de "baixo crescimento, piora da inflação, erosão do quadro fiscal e aprofundamento do déficit externo".
Baixo crescimento
Trabalhadores também reclamaram da medida. A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) disse que a alta emperra o crescimento. "O crescimento econômico já está baixo e os juros, altos. E agora com a elevação da Selic, emperra ainda mais o crescimento. Mais uma vez o Banco Central desperdiçou uma boa oportunidade para retomar o bom caminho da redução da Selic e, com isso, forçar uma queda maior dos juros e dos spreads dos bancos, a fim de baratear o crédito e incentivar o emprego, o desenvolvimento e a distribuição de renda", divulgou ontem a entidade.
A Firjan, por sua vez, ressaltou que "no momento presente, já convivemos com inflação e juros elevados, a despeito da atividade fraca. Os desequilíbrios são inúmeros e o Sistema Firjan considera que a solução não passa por mais juros".
OPINIÃO DO ESPECIALISTA
Sinalização de controle da inflação
Acho que ao elevar a taxa de juro Selic em 0,25%, o governo está dando uma primeira sinalização ao mercado de que pretende adotar políticas mais ortodoxas para controlar a inflação. Apesar de representar alta dos juros, avalio que a medida terá um impacto positivo no mercado financeiro e no mercado produtivo, por sinalizar que o governo está de fato disposto a enfrentar a inflação, mesmo reconhecendo que esta é uma medida que poderá gerar uma imagem negativo para o Planalto. Sinaliza também que o governo pretende dar maior independência ao Banco Central, cuja função número um é o combate a inflação e que este controle deve se dar de forma técnica e não política. E a principal arma que o BC tem para combater a inflação é com a elevação da taxa de juros. Não creio que esta alta de 0,25% será a responsável por travar o consumo neste fim de ano. O consumo já está retraído, mas devido ao alto endividamento da população, à elevada inflação e à retração econômica. É importante compreendermos que para a economia crescer a inflação precisa ser controlada e é o crescimento da economia que fará o consumo voltar a aumentar. Agora, esse (a elevação da taxa Selic) é apenas o primeiro sinal, uma medida psicológica, que deve ser seguida de outras ações, a começar pela definição de um nome para o Ministério da Fazenda que seja da confiança do mercado. O novo ministro precisa ter um perfil técnico e não político.
Ênio Arêa Leão
Economista