Conta de água ficará mais cara com a reforma tributária? Entenda

Atualmente, o setor de saneamento tem regime tributário diferenciado

Entidades representantes do setor de saneamento calculam alta de 18% na tarifa de esgoto e água com a reforma tributária. O aumento pode ocorrer se o segmento perder o regime diferenciado que recebe pela essencialidade do serviço. No entanto, ainda é necessário cautela, já que as alíquotas e outras mudanças ainda serão definidas.

A proposta de Reforma Tributária (PEC 45/19) foi aprovada em julho do ano passado, mas a transição para a implementação das novas regras inicia apenas em 2026, finalizando em 2033. Muitos pontos, todavia, precisarão de leis complementares.

Por isso, o presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), João Eloi Olenike, pondera ser necessário aguardar os próximos passos.

Entendemos que o setor de saneamento é primordial para a população. A não permanência de uma alíquota diferenciada teria impactos, mas ainda é prematuro falar em aumento", avalia.
João Eloi Olenike
Presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação

"Ainda irá demorar um pouco de tempo para ter as alíquotas do Imposto sobre Valor Agregado (IVA). É cedo para se falar em aumento", reforça.

O IVA será o novo imposto que vai unificar tributos brasileiros. Olenike destaca que o cálculo para chegar à elevação é baseado na estimativa do IVA de 27%. Todavia, esse percentual ainda não foi oficialmente definido. 

Dúvidas frequentes

O que é a Reforma Tributária?

A Reforma Tributária foi proposta com o objetivo de simplicar a cobrança dos impostos. Desde 1960, diversos governos tentaram reformar o sistema tributário brasileiro. Em 7 de julho de 2023, o texto foi aprovado pela Câmara dos Deputados. Em 20 de dezembro do mesmo ano, foi promulgada pelo Congresso.

O que muda com a Reforma Tributária?

A Reforma Tributária vai unificar três impostos federais (IPI, PIS e Cofins), um estadual (ICMS) e um municipal (ISS) em dois tributos diferentes: CBS (competência da União) e IBS (de estados e municípios).

Quando as mudanças entram em vigor?

O novo modelo passará por uma transição para adaptação. Ele estará plenamente implementado, para todos os tributos, a partir de 2033. As mudanças se iniciam em 2026.

Como será feita a cobrança desses impostos?

Haverá um período de transição: IVA federal terá alíquota de 0,9% e o IVA estadual e municipal, de 0,1%.

O que é a Cesta Básica Nacional de Alimentos?

A Reforma aprovada cria a Cesta Básica Nacional de Alimentos. As alíquotas para os impostos federal, estadual e municipal sobre esses alimentos serão reduzidas a zero para os produtos da cesta. Caberá uma lei complementar para definir quais produtos farão parte da cesta básica.

O que é o cashback?

Será criado um sistema de cashback para as famílias de menor renda. O objetivo da medida é reduzir desigualdades de renda com a devolução de impostos para um público determinado.

Tarifas de água e esgotos mais altas

Segundo estudo da Associação e Sindicato Nacional das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon Sindcon), elaborado pela consultoria GO Associados, haverá alta de 18% nas tarifas de água e esgoto, além de uma queda de 26% dos investimentos na área. 

A Associação Brasileira das Empresas Estaduais de Saneamento (Aesbe) também defende que o setor seja equiparado ao de saúde para obter uma tributação diferenciada. Segundo estudo da entidade, atualmente, as empresas de saneamento pagam PIS/Cofins com uma alíquota de 9,25%.

Ao considerar os créditos tributários, a incidência fica em torno de 6,5%. No entanto, com uma alíquota de 27% do IVA, a carga tributária paga mais que dobrará, passando dos atuais R$ 5,6 bilhões para quase R$ 12 bilhões.

O presidente da Aesbe, que possui o mesmo cargo na Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), Neuri Freitas, destaca, em artigo no site do órgão, os impactos negativos. 

“Recordo, em 2004, a mudança na legislação de Pis e Cofins, quando migramos algumas empresas da cumulatividade para não cumulatividade. Naquela época, o tributo que era de 3,65% passou para 9,25%, apesar da possibilidade de redução de créditos", observa.

"Citando um exemplo específico da Cagece, no Ceará, a alíquota que era de 3,65% e foi para 5,5%. O resultado foi um aumento nas tarifas das empresas de saneamento. Não podemos repetir esse cenário”, frisa.

Questionada pela reportagem sobre quanto poderia ser o aumento no Ceará, a Cagece não respondeu até a publicação desta matéria.