Confira como fica o seu bolso com o novo peso do IOF

Anefac divulgou ontem simulação que mostra os efeitos da elevação do imposto de 1,5% para 3% no bolso das pessoas

A Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) divulgou ontem simulação que mostra os efeitos da elevação do Imposto sobre Operação Financeiras (IOF) de 1,5% para 3% no bolso do consumidor.

> Medidas devem levar inflação a mais de 7%

A elevação do imposto foi anunciada na última segunda-feira (19), entre outras medidas, com o objetivo de melhorar a receita do governo e sinalizar também aos agentes econômicos a disposição da equipe econômica em adotar medidas austeras, mas capazes de promover o crescimento do País.

Dois cenários

Na simulação da Anefac para a elevação do IOF, houve dois cenários. O primeiro, antes da elevação do IOF, o financiamento de automóvel em 12 meses - no valor de R$ 25 mil e com taxa de juros de 1,84% ao mês (média) - o consumidor pagaria parcelas mensais de R$ 2.384,83, totalizando assim um valor de R$ 28.617,96. Com a elevação para 3%, contudo, o consumidor passará a pagar parcelas de R$ 2.419,94, totalizando um valor total de R$ 29.039,28. Ou seja, uma diferença de R$ 35,11 na prestação e de R$ 421,32 no total do financiamento.

A Anefac não fez uma simulação para prazos acima de 12 meses porque a elevação do IOF se limitou a prazo de até 365 dias. Com isso, informou, o financiamento de prazo superior a um ano será mantida a alíquota anterior do IOF (1,5%) .

Empréstimo pessoal

Em outra simulação, a Anefac mostra a elevação do IOF para casos de empréstimo pessoal em financeira em também 12 meses. No primeiro cenário, empréstimo de R$ 2 mil ficaria com taxa de juros de 7,34% ao mês (média), parcelas mensais de R$ 261,20 e pagamento final equivalente a R$ 3.134,52. Com a elevação do IOF, o consumidor passará a pagar pelo mesmo empréstimo parcelas de R$ 265,05 com valor total de pagamento (do empréstimo) equivalente a R$ 3.180,60. Isso representa R$ 46,08 a menos no bolso do trabalhador já que a prestação subirá mensalmente R$ 3,84.

A mesma simulação foi feita para o crédito rotativo do cartão de crédito. Para as pessoas que gostam de parcelar o pagamento da fatura, uma compra de R$ 3 mil, com taxa de juros de 11,22% ao mês (média) antes custava de R$ 351,69 (juros mais IOF). Agora, o consumidor passará a pagar um valor de R$ 355,38 (juros mais IOF).

Tarefa difícil

O presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon) de São Paulo, Manuel Enríquez, destacou, que os dados do FMI, de crescimento da economia brasileira em 0,3%, não são novidade. É nesse cenário que ele avalia as medidas do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, para fazer os ajustes necessários nas contas do setor público, com corte de gastos e de forma a trazer investimentos para que o País volte a crescer. Para Enríquez, não será fácil a tarefa da equipe econômica, já que, segundo o economista, a dificuldade aumenta na medida em que estão envolvidas várias esferas de governo, e "a pressão sobre o Executivo sempre é muito grande".

Dilma veta  a correção  da tabela do IR em 6,5%

São Paulo. O veto da presidente Dilma Rousseff à correção de 6,5%, da tabela do Imposto de Renda para Pessoa Física (IRPF), que havia sido aprovada pelo Congresso, desagradou aos trabalhadores, mas deve ajudar a engordar o caixa do governo nestes primeiros meses do ano. Como ainda não existe uma nova lei para ajustar a tabela, continuam valendo os mesmos valores do ano passado.

"Ao não atualizar a tabela, temos um 'aumento inverso' do imposto de renda", comenta Antônio Teixeira Bacalhau, analista da IOB Sage, consultoria especializada em legislação tributária. "Enquanto não temos uma nova lei, o imposto de renda retido na fonte vai sendo recolhido com base nos valores de 2014. Isso pode se prorrogar por mais alguns meses, colaborando para reforçar o caixa do governo", acrescenta.

Para João Mascolo, professor de economia do Insper, o veto à correção de 6,5%, na tabela do IR é uma forma de o governo arrecadar mais, o que vai ao encontro das outras medidas anunciadas pela equipe econômica.

Os representantes dos trabalhadores, no entanto, não gostaram nada de ter de arcar com o ônus da nova política fiscal. Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), diz que a medida prejudica o bolso dos empregados. "Após as mudanças nas pensões e benefícios de seguro-desemprego, essa é a segunda decepção que nós temos com a Dilma, nesse novo mandato", afirma.

Segundo ele, essas medidas desgastam a relação com a classe sindical e não priorizam a defesa da população trabalhadora. "Por que eles não criam um imposto sobre grandes fortunas?", questionou.

O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, afirma que uma nova proposta do governo para corrigir o IR em 4,5%, como foi sinalizado ontem, pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, seria uma proposta positiva, já que corria-se o risco de a tabela ficar sem reajuste nenhum.

Freio ao consumo e reflexos negativos

O aumento do IOF sobre os empréstimos e financiamentos para pessoa física, de 1,5% para 3%, tem causado divergências entre o comércio e especialistas financeiros. A medida foi anunciada pelo governo na segunda-feira (19) e representa uma arrecadação extra de R$ 7,4 bilhões.

Para o administrador Delano Macedo, é preciso encarecer a compra para o consumidor. Segundo ele, caso contrário, uma outra alternativa seria o aumento dos juros, o que, conforme diz, não seria interessante.

"No momento em que o governo aumenta os juros, sobe também o custo de vida. Elevando o IOF, ao invés de aumentar os juros, diminui o apetite pelo consumo e a despesa do governo não aumenta, crescendo a receita. Se não há um outro remédio com o objetivo de reter o consumo, é mais inteligente elevar o IOF, ao invés dos juros", explica.

A previsão é de que as medidas relacionadas ao aumento do IOF entrem em vigor na próxima semana, quando será baixada uma portaria.

Inflação

Por outro lado, o comércio prevê consequências desastrosas com a medida. De acordo com o presidente do Sindicato do Comércio Varejista e Lojista de Fortaleza (Sindilojas), Cid Alves, por exemplo, o aumento irá provocar uma inflação fora de controle, resultando, até mesmo, em futuras demissões.

"As indústrias já estão com dificuldade para vender no exterior. Agora, no mercado interno, não vai poder realizar investimentos. Vai ser muito oneroso. Uma vez que as vendas e a produção industrial caiam, consequentemente, o retorno dos investimentos à indústria serão reduzidos", declara Cid Alves. "Isso afeta diretamente o varejo, pois acaba fazendo com que o nosso produto seja de qualidade inferior e mais caro", protesta.

Em relação aos preços praticados pelo comércio varejista, Cid Alves acrescenta que serão afetados diretamente, após a alta dos combustíveis (gasolina e diesel, sobretudo), outra medida anunciada pelo governo Federal, a partir da elevação do Pis e da Cofins e do retorno da Cide, sobre a gasolina e o óleo diesel.

Desemprego

O mesmo cenário de possibilidade de cortes nos empregos também é visto pelo consultor financeiro da Méthode Consultoria e professor do Curso de Administração da ESPM, Adriano Gomes. "Sobretudo no primeiro semestre haverá uma queda bem acentuada na atividade comercial", avalia.

"A indústria está com seus estoques lotados e o comércio não tem feito a composição adequada. A solução é a demissão", argumenta Adriano Gomes, destacando o cenário já vivenciado pelas montadoras de automóveis, em São Paulo, atualmente.

Ana Beatriz Sugette
Repórter

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