Como se preparar financeiramente para virar concurseiro? Confira dicas

Quem quer se dedicar completamente aos estudos para fazer concursos públicos deve se planejar

A vida de funcionário público é um sonho para muitas pessoas, seja pelos salários altos ou pela estabilidade profissional. Só no Ceará há mais de 800 vagas abertas no momento, além de diversos órgãos que estão com editais abertos para concursos em outros estados. 

Apesar do número de vagas, a concorrência costuma ser alta. Por conta disso, não são raros os casos de pessoas que largam emprego e decidem se dedicar apenas à vida de concurseiro, focando nos estudos em busca de uma convocação. 

Quem tem vontade de seguir esse caminho de vida precisa se planejar, principalmente, se não tiver condições de contar com a ajuda de familiares para o período de estudos.  

É importante montar uma reserva financeira para se manter durante esse tempo, considerando, além dos gastos cotidianos, custos com inscrições para as provas e possíveis viagens.  

Como se preparar? 

O educador financeiro comportamental, Jorge Navarro, explica que o primeiro passo para quem quer deixar o trabalho para focar nos estudos é ter um diagnóstico da vida financeira atual. Quais são os gastos atuais? Quais podem ser cortados? Quanto consigo juntar? 

O planejamento deve considerar o período em que a pessoa pretende ficar sem uma fonte de renda focando no seu objetivo, considerando que a maioria dos candidatos não consegue passar de primeira em concursos públicos.  

Tendo estabelecido esse tempo, é possível dizer qual o valor ideal da reserva que precisa ser feita para suprir os gastos durante o período de estudos. E, então, começar a juntar. 

Ela vai estipular um prazo e vai começar a construir essa grana. O ideal é esse planejamento antes, porque ela vai estipular quanto tempo está disposta para essa empreitada. E conhecendo o diagnóstico de custo de vida, ela vai começar a construção dessa grana, desse patrimônio para se bancar. É difícil de falar um valor, tudo vai estar baseado no padrão de vida dela e nos cortes que vai estar disposta a fazer”.
Jorge Navarro
Educador financeiro comportamental

O também educador financeiro comportamental Mario Cezar Oliveira ressalta que, além dos custos cotidianos, o futuro concurseiro deve prever os gastos que ele terá com os próprios estudos.  

“Tem que avaliar quais são os custos que vou precisar despender durante essa transição. Não só os custos das minhas despesas de cotidiano, mas também o que eu vou investir nesse processo. Materiais para estudo, cursos, inscrições dos concursos. Se for um curso presencial, tem que contemplar custo de deslocamento, alimentação. É sempre muito bom frisar que para qualquer projeto, tem que detalhar ao máximo todos os itens que contemplam esse projeto”, coloca.  

A antecedência necessária desde o momento da decisão de se tornar um concurseiro até definitivamente largar o trabalho deve considerar a possibilidade de poupança no orçamento atual.  

“Com todo esse detalhamento, ela vai saber o quanto ela precisa de reserva. Dentro do orçamento atual, ela vai ter que destinar parte do valor para essa reserva. Se preciso de R$ 10 mil, se meu orçamento atual proporciona eu poupar R$ 1 mil, vou começar e sei que só vou ter como começar esse projeto daqui a 10 meses. Se é um valor menor, vou precisar de mais tempo”, diz o educador financeiro. 

O tempo até passar 

O ponto mais incerto ao se fazer esse planejamento é saber para quanto tempo é necessário fazer uma reserva, já que não há como se ter certeza de quando virá a tão sonhada convocação. Em alguns concursos, mesmo após selecionado, o candidato demora até assumir o cargo e passar, enfim, a ganhar um salário. 

Mario Cezar indica que essa preparação deve ser feita em conjunto com profissionais que já conheçam esse mercado e possam dar uma orientação específica. 

Para cada tipo de concurso tem um nível de exigência diferente, de escolaridade, parte técnica, tipos de assuntos abordados. O melhor caminho é buscar uma formação com um profissional que já tem um histórico, um plano de estudo. Um centro de estudos especializados em concursos traz essa bagagem, essa experiência”.
Mario Cezar Oliveira
Educador financeiro comportamental

Caso a reserva comece a chegar ao fim antes da aprovação, não há como fazer muito milagre: será necessário cortar custos. Nesse momento, vale a pena avaliar o orçamento em busca de gastos supérfluos. O apoio de familiares, quando possível, também é uma boa opção. 

Onde investir? 

Como a ideia é utilizar o dinheiro que está sendo reservado apenas ao fim da construção da reserva, é possível priorizar rentabilidade à liquidez. O ideal, contudo, é optar por uma carteira mais conservadora para evitar perdas, já que esse é um objetivo considerado de curto ou médio prazo. 

“O que a gente aconselha é nunca colocar tudo no mesmo lugar e colocar o mínimo em bolsa de valores, porque é um investimento considerado de curto prazo. Como só depois de um ano você vai começar a usar, a liquidez não é tão importante, o rendimento é mais importante que a liquidez”, indica Jorge Navarro. 

Algumas boas opções são CBBs, LCIs, LCAs e títulos do Tesouro Direto, como o Tesouro Selic.  

Em busca do sonho 

Hoje procurador do estado do Alagoas, Caio Alcântara, de 27 anos, passou dois anos exclusivamente estudando para conseguir atingir seu objetivo. A ideia de se preparar para concursos surgiu ainda no meio da sua graduação em Direito, e ele já começou a juntar o dinheiro que recebia no estágio para esse período que viria. 

Ele ficou estudando entre março de 2020 e foi aprovado em janeiro de 2022, tendo tomado posse três meses depois. Durante todo esse período, ele contou com o apoio dos pais para as despesas mais cotidianas, como aluguel, conta de luz e alimentação. 

“Eu sabia que não teria que me preocupar com aluguel, conta de luz, conta de água, porque eu estaria morando com meus pais. Mas eu também sabia que os estudos para concurso em si têm um custo relativamente alto, com material, passagem, inscrições nos concursos públicos, que estão cada vez mais caras, tem concurso que cobra até R$ 300 de inscrição”, cita. 

A reserva construída por ele ainda durante a faculdade custeou grande parte das inscrições, passagens aéreas e hospedagens que ele teve que gastar para fazer concursos em outros estados do Brasil.  

O dinheiro também pagou um curso que vinha com material de estudo incluso, que ele conseguiu adquirir com desconto devido ao seu desempenho acadêmico. Ele conseguiu economizar durante seu período de estudos devido a uma rotina bastante restrita, que não envolvia muitos gastos fora de casa. 

“Era bem econômico, porque a maior parte do tempo eu estava dentro de casa. Eu saia duas vezes por mês, às vezes pedia uma comida de fora, mas não era tanto gasto”, lembra. 

Mesmo tendo a ajuda dos pais, ele considera que a organização financeira foi importante para que ele atingisse seu objetivo. 

“Eu tive esse grande privilégio de ter uma estrutura para me dedicar totalmente aos estudos. Acredito que em um cenário que eu não tivesse juntado durante a faculdade meus pais ainda teriam condições de bancar, mas esse não era um peso que eu queria colocar neles. Eu acho que faz bem você adquirir essa consciência financeira o mais cedo possível”, diz.